Georg partiu desta vida em 1º de julho, enquanto Bento vai prosseguindo, em paz, a sua serena “peregrinação para Casa”Maria, Georg e Joseph Ratzinger sempre foram muito unidos. Os três irmãos católicos alemães mantiveram a proximidade ao longo de toda a vida, assim como o carinho pelos pais, que também se chamavam Joseph e Maria – José e Maria, a mais direta evocação ao modelo de família para todo cristão.
Deus os foi chamando à eternidade gradualmente. Joseph pai foi o primeiro, em 1959. Em 1963 foi a vez de Maria, a mãe. A outra Maria, a irmã, partiu em 1991, em pleno dia de finados. Permaneceram neste mundo durante bastante mais tempo os dois irmãos, sacerdotes e amigos.
Vínculo fraterno, sacerdotal e de amizade
Georg e Joseph foram ordenados no mesmo dia: 29 de junho de 1951. Embora Joseph tenha passado grande parte da vida sacerdotal em Roma, os dois nunca deixaram de conviver e alimentar seus laços fraternos e de amizade. O pe. Georg visitou o Papa Bento inúmeras vezes, tanto durante o seu pontificado quanto após a sua renúncia. Bento, por sua vez, tinha menos liberdade de movimento, tanto que, desde a renúncia, em 2013, nunca mais tinha saído da Itália até o mês passado, quando fez ao irmão, na Alemanha, a sua última visita. Esta, aliás, é uma das grandes ironias do poder: embora seja visto e pintado pela mídia como extremamente poderoso e influente, Bento renunciou a muitas “normalidades” da vida de uma pessoa comum, consciente do impacto de qualquer gesto seu e da importância de manter-se integralmente a serviço de Deus na humildade de um retiro silencioso e discreto, no mosteiro vaticano em que espera serenamente a hora da sua própria partida rumo à Casa do Pai.
Ele próprio, em 7 de fevereiro de 2018, enviou uma carta ao jornal italiano Corriere della Sera, por ocasião do quinto aniversário da sua renúncia, confirmando a natural deterioração da sua saúde física e afirmando, com grande simplicidade, que já estava “em peregrinação a caminho de Casa”. Ele escreveu na ocasião:
“Só posso dizer que, na lenta diminuição das forças físicas, estou interiormente em peregrinação para Casa. Para mim, neste último trecho do caminho, às vezes um pouco esgotador, é uma grande graça estar rodeado de amor e bondade tamanhos que eu não poderia ter imaginado”.
Com essa mesma consciência, serena e luminosa, que enxerga a finitude da vida terrena e a iminência da eternidade que aguarda a todos, Bento e Georg se despediram em junho de 2020. Eles sabiam que era apenas um “até logo”. Georg partiu desta vida em 1º de julho, enquanto Bento vai prosseguindo, em paz, a sua singela peregrinação.
Imagens de uma amizade entre irmãos
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