Uma imagem de Maria resistiu ao devastador incêndio florestal que destruiu mais de mil casas no estado norte-americano do Colorado neste final de ano, quando as chamas descontroladas se alastraram a partir do dia 30 de dezembro a tal ponto que obrigaram pelo menos 35 mil pessoas a serem evacuadas de seus lares. A tragédia já é considerada como o pior incêndio da história do estado.
Até o início deste ano não haviam sido confirmadas mortes - o que foi descrito pelo governador Jared Polis como "um milagre de ano novo". De fato, muitas pessoas tiveram poucos minutos para fugir das próprias casas, dada a descomunal velocidade com que as rajadas de ventos espalhavam as chamas.
Entretanto, há pelo menos 3 pessoas consideradas desaparecidas e, infelizmente, autoridades locais presumem que elas não tenham conseguido escapar a tempo. Contam-se ainda centenas de feridos.
Igreja Católica organiza ajudas
O arcebispo de Denver, dom Samuel Aquila, anunciou em 31 de dezembro uma intensa campanha em favor das famílias atingidas pelo desastre. Ele pediu que as paróquias acolham os deslocados e organizem coletas e distribuição de alimentos, em coordenação com os conselhos dos Cavaleiros de Colombo para o voluntariado.
O arcebispo determinou ainda que, nas Missas de 8 e 9 de janeiro, as doações da coleta sejam direcionadas a um fundo especial a ser destinado às paróquias da região afetada, para serem então localmente empregados em auxílios aos necessitados. A arquidiocese espera contribuir com pelo menos 250 mil dólares para o fundo.
Imagem de Maria resiste às chamas
A arquidiocese de Denver também compartilhou, via rede social, a foto da estátua de Nossa Senhora que permaneceu de pé em meio aos escombros de uma das centenas de casas consumidas pelo fogo. O fato foi registrado na cidade de Louisville, no condado de Boulder.
Como costuma ocorrer nesse tipo de evento, muitos internautas que espalharam a foto se referiram ao caso como um "milagre". Mas será que a resistência da estátua ao fogo pode ser considerada oficialmente como um fato milagroso?
A resposta é não.
Não é um milagre: mas por quê?
Não se pode falar tecnicamente em milagre quando existem explicações científicas plausíveis para um acontecimento. Neste caso, uma considerável gama de variáveis é capaz de explicar por que um fenômeno natural como o fogo, por mais intenso que tenha sido, ainda manteve em pé uma imagem de Maria no meio dos grandes estragos causados ao redor.
O uso do termo “milagre” é comum diante de fenômenos que parecem sobrenaturais: na grande maioria dos casos, porém, o uso dessa palavra é bem intencionado, mas, como termo técnico, é precipitado e equivocado.
Milagres são fenômenos cientificamente inexplicáveis que contradizem as regras da natureza conforme as conhecemos. Para que algum fenômeno possa ser oficialmente declarado como de caráter sobrenatural por parte da Igreja, são necessários prudentes e detalhados estudos. A Igreja segue critérios científicos bastante rígidos para afirmar algum milagre. Os milagres de cura, por exemplo, chegam a demorar décadas até serem reconhecidos. Os fatos precisam ser cuidadosamente estudados por médicos, revisados por cientistas (na maioria dos casos, laicos e até mesmo ateus), expostos às críticas públicas e, só depois de feitos todos os estudos científicos, a própria Igreja faz a análise teológica mediante o trabalho das suas comissões de especialistas em teologia.
Aliás, você pode conhecer um pouco mais sobre a delicada avaliação de supostos milagres por parte da Igreja no seguinte artigo sobre os 7 critérios para se declararem milagrosas as curas que acontecem no santuário de Lourdes:
Então é um “sinal”?
A imagem de Nossa Senhora intacta após a devastação de um incêndio descomunal pode ser considerada então um “sinal”, se não um milagre?
Entendendo-se por “sinal” aquilo que carrega um “significado”, certamente não há erro em dizer que sim, é um sinal natural – ou seja, um fato raro e chamativo, mais ainda assim “previsto” na ordem natural das coisas. Esse tipo de fato, por mais que seja inusitado ao nosso olhar, significa primariamente a própria existência de uma ordem natural – e isto já é grandiosamente instigante: existe uma ordem natural em vez de mero acaso.
De fato, não é apenas o sobrenatural que pode nos impactar: a natureza mesma, incluindo a nossa capacidade natural de admirar o belo, também tem muito a nos dizer, dado que o fascínio da natureza, em si mesmo, já nos remete a uma das perguntas-chave da filosofia e da ciência: qual é a origem de tudo isso?
Um acontecimento chamativo, mas explicável pela ordem natural das coisas, pode servir como “gatilho” para reflexões importantes.
O cristão acredita que Deus nos fala através de sinais, sejam naturais, sejam sobrenaturais, e que Ele sempre deixa à liberdade de consciência de cada um a decisão final de como interpretá-los. Os próprios ateus, aliás, costumam enfatizar que as tragédias são uma “prova” de que Deus não existe, apelando para a sua “fé” na inexistência de Deus com base em sinais passíveis de interpretações pessoais (que, aliás, cientificamente falando, não são válidos como provas).
Para quem crê na inexistência de Deus, tudo é e será sempre mero acaso e falta de sentido. Para quem acredita em Deus e no sentido sobrenatural da existência, tudo é e será sempre um grande milagre, testemunhado por uma abundância de sinais repletos de sentido.