O Canadá voltou a mandar fechar igrejas sob a alegação de conter a nova onda de contágios pelo coronavírus causador da covid-19, cuja mais recente mutação, a ômicron, aparenta ser menos letal que as anteriores, mas de proliferação muito mais rápida.
Ainda que seja imperativo tomar medidas preventivas contra mais uma onda de internações e mortes pela doença, os precedentes no Canadá levantam consideráveis questionamentos relativos ao tratamento às igrejas no país.
Fechar igrejas, mas com quais critérios?
Em 2020, por exemplo, o governo canadense, que é um dos mais laicistas da atualidade em todo o planeta, já tinha aplicado restrições clamorosamente desproporcionais às práticas religiosas nas igrejas, mesmo com as paróquias seguindo à risca todos os protocolos sanitários. Na província de Québec, os cassinos podiam receber até 250 pessoas, enquanto as igrejas apenas 50; o comércio de maconha chegou a ser listado como "serviço essencial", enquanto as Missas presenciais foram excluídas das atividades permitidas à população.
Na ocasião, o cardeal arcebispo de Québec, dom Gérald Cyprien Lacroix, protestou publicamente contra a falta de diálogo e de coerência das autoridades da província em várias medidas de combate ao coronavírus:
Novamente, a ordem de fechar igrejas levanta questionamentos
Transcorrido mais de um ano desde então, eis que, faltando apenas uma semana para o Natal de 2021, o governo canadense decretou que somente as pessoas vacinadas poderiam participar das Missas - e, mesmo assim, as igrejas só poderiam receber 50% da sua capacidade total.
Em 30 de dezembro, porém, o governo resolveu tornar ainda mais restritivas as suas diretrizes sanitárias, agora proibindo totalmente as reuniões de pessoas em lugares de culto - ou seja, emitindo novamente a ordem de fechar igrejas.
A resposta pastoral de um bispo
Dom Christian Lépine, arcebispo de Montréal, reagiu com uma resposta inusitada: respeitando as normas do governo e, ao mesmo tempo, não abandonado os fiéis e o seu direito de receber a Santíssima Eucaristia, ele resolveu transformar o estacionamento da catedral de Marie-Reine-du-Monde em local de encontro para Missas ao ar livre, em pleno rigor do inverno canadense, com neve e temperaturas (bastante) abaixo de zero.
Ele mesmo descreveu o cenário:
Dom Christian Lépine comparou a situação com a de Maria e José quando não achavam abrigo em Belém para o nascimento de Jesus: tiveram de se adaptar a uma estrebaria que, praticamente, equivalia a ficar à intempérie.