Por que é tão difícil levar a sério este conselho de São Paulo: "Deixai-vos conduzir pelo Espírito"? De fato, alguns consideram que uma vida guiada pelo Espírito Santo é reservada apenas para uma elite praticante de esporte radical.
Para São Francisco de Sales, deixar-se conduzir pelo Espírito Santo não é um luxo nem uma extravagância, mas um fundamento essencial de toda a vida cristã. No livro "Introdução à Vida Devota", o religioso recomenda prestar atenção às “inspirações interiores”, isto é, a “todas as atrações, os movimentos, os sentimentos de contrição, as luzes e a sabedoria que Deus torna conhecidos em nós".
No entanto, como explica o padre Joël Guibert em seu livro Le secret de la sérénité, la confiance en Dieu avec saint François de Sales ("O Segredo da Serenidade, Confiança em Deus com São Francisco de Sales") essas inspirações sopradas pelo Espírito são extremamente delicadas, são tão sutis que podem simplesmente passar despercebidas. “A pessoa que não cultiva um certo silêncio em sua vida dificilmente poderá ouvir a voz do Espírito”, explica.
Mas como podemos discernir esta voz sutil e discreta do Espírito? Como identificar no fluxo de pensamentos que atravessam a mente as inspirações vindas do Espírito Santo? Aqui está o método de São Francisco de Sales em quatro passos.
1Evitar os pensamentos tóxicos
Para ouvir as sugestões do Espírito, São Francisco de Sales aconselha a identificar sistematicamente todos os pensamentos tóxicos, como os relacionados à amargura, raiva, ao ciúme ou à vingança. Diz ele:
“Essas pequenas tentações de raiva, suspeita, ciúme, inveja, infidelidade de coração, frivolidade, vaidade, fingimento, maus pensamentos... Se elas vierem te picar e pararem um pouco em seu coração, não as combata, não lhes responda, mas simplesmente retire-as de lá, protestando interiormente o contrário e principalmente o seu amor a Deus. Em vez disso, dirija seu coração a Jesus Cristo”.
Ao contrário dos sussurros do Espírito, os pensamentos tóxicos fazem muito mais barulho e criam algum tumulto interior.
2Praticar a oração do coração
Quem nunca passou um dia ruminando uma preocupação? Quem nunca cultivou com antecipação o cenário sombrio de uma entrevista ou reunião que desperta preocupação? Esses pensamentos podem parecer triviais e sem importância, mas acabam criando uma parede interna que o Espírito Santo não será capaz de derrubar. Por quê? "Quanto mais a preocupação nos domina, mais procuramos por nós mesmos e com tensão uma solução para dominá-la", analisa o padre Joël Guibert, para quem a armadilha está justamente aí: "vamos gradualmente perdendo a confiança no poder do Espírito para nós, insistindo em cuidar de nós mesmos". São Francisco de Sales deixa isso claro em uma carta a uma amiga:
Para ele só há um caminho: praticar a “oração do coração”. Em cada momento de angústia, repetir com fé: “Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tem piedade de mim pecador! Também chamada de “oração de Jesus”, a prece visa tornar Cristo presente no coração de quem reza.
3Manter a fé
O Espírito Santo age na medida da confiança depositada em sua ação. As curas relatadas no Evangelho ilustram isso muito bem. Ter fé é, portanto, fazer a escolha de se livrar da preocupação que sobrecarrega a mente e entregá-la a Deus. Parando o "mau pensamento", deixamos o Espírito Santo agir. Assim explica Francisco de Sales numa carta a Santa Joana de Chantal:
4Ter cuidado com o perfeccionismo
Entre a torrente de pensamentos excessivamente ruidosos e as sutis inspirações do Espírito, esse exercício de discernimento exige certa disciplina interior. Mas não se trata, sobretudo, de cair em certo perfeccionismo. São Francisco de Sales explica muito bem isso, dando este valioso conselho a um conhecido visivelmente envolvido em obras de caridade:
Para os religiosos, só existe uma regra de ouro: o amor. Devemos rejeitar pensamentos tóxicos por amor a Deus. O que conta neste exercício não é o número de pequenas vitórias, mas uma atitude humilde e um desejo profundo de avançar neste caminho, de deixar-se guiar cada vez mais na vida pelo Espírito Santo.