Dias atrás, ouvi um relato atordoado de um grande amigo. Ele me confidenciou: "Meu filho pequeno quer mandar em mim e na minha casa, não sei mais o que faço".
Na tentativa de entender um pouco mais o drama que ele estava vivendo - já que eu também tenho um filho pequeno e isso também poderia acontecer comigo - quis ouvi-lo um pouco mais.
Ele, então, me contou sobre alguns comportamentos da criança que o deixavam incomodado. Por exemplo: o rapazinho de cinco anos estava se tornando o dono da TV da casa. Não deixava ninguém assistir a outro programa que não fossem os desenhos de que ele gosta.
Além disso, o garoto "exige" (nas palavras do meu amigo) que os pais façam tudo o que o que ele quer. E tem que ser na hora! E, se os pais não obedecem, é birra na certa.
Outra situação preocupante: quando contrariado, o menino se torna agressivo. Passa a querer bater nos pais e na irmã, além de ficar "emburrado" e falar palavrões.
A "síndrome do imperador"
Eu falei com o meu amigo que esse comportamento tirano da criança poderia ser um sintoma da "síndrome do imperador". Porém, ele admitiu que não sabia o que era a tal síndrome. Talvez nem você saiba. Por isso resolvi compartilhar algumas linhas acerca dessa inversão de comportamento.
A psicologia define a "síndrome do imperador" como um conjunto de comportamentos inadequados construídos ao longo da infância por crianças que não tiveram limites em sua formação e passaram a ter dificuldade de compreender regras e de respeitar a autoridade".
Na definição, duas palavras que eu gostaria de destacar: "limite" e "autoridade". De fato, é preciso ensinar as crianças, desde cedo, que tudo na vida tem regras e que elas precisam ser respeitadas. Ninguém pode sair fazendo o que dar na cabeça, principalmente quando o assunto é obediência aos pais e às regras da família e da sociedade.
Mas não é só a ausência de limites e de autoridade por parte dos pais que acaba por gerar uma criança mandona.
Possíveis causas da "síndrome do imperador"
De acordo com os especialistas, outras fatores contribuem para o desenvolvimento desse comportamento autoritário dos filhos - e alguns deles podem estar interligados.
1. Terceirização da educação. Por causa do trabalho, os pais podem passar muito tempo longe dos filhos e terceirizam a educação para as babás, creches ou parentes. Quando estão com as crianças, pais e mãoes querem superprotegê-los e sentem até dificuldades em contrariá-los. Atender todas as vontades dos pequenos para compensar uma ausência pode ter consequências drásticas;
2. Educação permissiva. Tem a ver com a falta de limites. Há pais que, na ânsia de garantir liberdade e aprendizado, permitem que os filhos façam o que quiserem. Mas, muitas vezes, acabam perdendo as rédeas. Resultado: filhões mandões e mimados;
3. Filhos únicos. Não é regra, mas, geralmente, os filhos únicos são mais superprotegidos. Sem ter que dividir tempo e dinheiro com outros filhos, os pais, muitas vezes, acabam fazendo tudo o que eles querem.
Como tratar
A boa notícia é que esse mau comportamento dos filhos tem cura! Mas a mudança, claro, depende totalmente dos pais. No livro Los hijos tiranos: el síndrome del emperador ("Os filhos tiranos: a síndrome do imperador"), o psicólogo Vicente Garrido Genovés, apresenta três formas de reverter o comportamento autoritário dos filhos:
1. Aplicar a inteligência emocional na educação dos filhos. Os pais precisam ensinar os filhos a reconhecer as emoções e a lidar com elas;
2. Cultivar habilidades não violentas. Em casa, os pais precisam evitar gritarias e discussões fora do tom perto das crianças. Os progenitores precisam incentivar o diálogo e a escuta. E o exemplo dos adultos é primordial para inspirar o comportamento dos filhos;
3. Colocar limites. É preciso colocar regras claras sobre o que pode e o que não pode na dinâmica familiar e social. Depois, cobrar as crianças quando elas ultrapassarem as linhas estabelecidas. Saber dizer não é uma grande vantagem para quem não quer ter um filho mandão e sem limites.
Enfim, nós, pais precisamos estar atentos aos comportamentos dos filhos. Se algo incomodar (como no caso do meu amigo), é hora de acender a luz amarela. Reflita sobre como está sendo a educação que você está dando para ele, as possíveis causas do comportamento que desagrada e o que é preciso para corrigir. Se for precisa, procure ajuda profissional, converse com os amigos que também são pais.
Afinal, é nossa missão formar verdadeiros cidadãos, que saibam quais são seus lugares no mundo (e respeitem os lugares dos outros - em todos os sentidos).