"A mão que balança o berço é a mão que governa o mundo", declarou em 1865 o poeta William Ross Wallace, cunhando, talvez sem imaginar, uma das frases mais emblemáticas da história da literatura - e do cinema, da sociologia, da psicologia…
O que o poeta afirma, em suma, é que a forma como se trata uma criança influenciará para sempre a vida dessa criança. E como normalmente são as mães as que mais convivem com os filhos pequenos, são elas, em tese, as que mais têm a oportunidade de moldar os comportamentos que as crianças assimilarão e guardarão ao longo da vida. São as mães, neste sentido, que governam o mundo: são principalmente elas, afinal, que moldam os comportamentos dos futuros governantes, legisladores, juízes, líderes intelectuais, sociais, econômicos, religiosos.
É claro que não se pode minimizar o peso decisivo do livre arbítrio, nem menosprezar a miríade de outras influências que uma criança terá na vida: é evidente que até mesmo uma criança muito amada e bem educada pela mãe e pelo pai poderá optar, à medida que for se tornando adulta, por comportamentos muito distantes daqueles que aprendeu na infância. É gritantemente injusto culpar as mães, necessariamente, pelos crimes dos filhos que se desviaram ao longo do caminho - assim como não necessariamente se deverão a elas todos os comportamentos heroicos que os filhos venham a praticar no futuro.
Como quer que seja, reside muita verdade na poesia que intui que "a mão que balança o berço é a mão que governa o mundo". Há, sim, muito poder nas mãos das mães que embalam seus bebês.
Os carrinhos de bebê vazios na estação
Mas e quando a vida nega às mães o mínimo de paz para balançarem o berço? E quando a mão que balança o berço é obrigada a abandonar o carrinho do bebê na plataforma da estação para fugir da própria terra com o bebê no colo, enquanto o marido é obrigado a ficar para trás, convocado às linhas de combate?
Um dos desdobramentos mais pungentes da guerra fratricida movida pelo regime de Vladimir Putin contra o povo da Ucrânia fica plasmado em uma das fotos mais silenciosas e ao mesmo tempo eloquentes dos últimos 15 dias: a dos carrinhos de bebê, vazios, na plataforma de uma estação de trem.
À primeira vista, pareceriam carrinhos de bebês abandonados em alguma estação da Ucrânia.
Mas são carrinhos de bebês deixados numa estação da Polônia como um gesto de boas-vindas: eles foram doados por mães polonesas a mães ucranianas que chegam ao país vizinho como refugiadas de guerra com seus bebês nos braços.
Quando se descobre o que são, de quem são e para quem são esses carrinhos, é espontâneo desejar que essas mãos, que balançam esses berços, venham a ser, de fato, as mãos que governam o mundo: que elas embalem bebês que, ao se tornarem governantes, legisladores, juízes, líderes intelectuais, sociais, econômicos, religiosos, se vinguem da guerra que lhes foi imposta abraçando vitoriosamente a paz que lhes foi negada.