Em outubro de 2022, o Papa Francisco se encontrou com padres e seminaristas que estudam em Roma. Ele conseguiu responder apenas uma pequena quantidade das duzentas perguntas que prepararam para ele. Uma delas foi sobre a linguagem dos gestos, o que levou o Pontífice a dar conselhos a quem vai visitar um doente.
Um seminarista contou a ele que, ao aprender italiano, ele aprendeu a importância dos gestos. O estudante também ampliou a reflexão para destacar que o Papa Francisco é famoso por “gestos” de amor e ações que, às vezes, falam mais alto do que as mensagens que ele transmite com palavras.
O seminarista assim se dirigiu ao Papa:
"Na formação para o sacerdócio, somos ensinados em profundidade a como falar, como usar bem as palavras e o discurso, como fazer um discurso filosófico coerente, como interpretar as Escrituras, como fazer um bom sermão. No entanto, o senhor, Santo Padre, mostrou-nos a importância dos gestos, das ações, da ternura concreta, e quão poderosos são os gestos, quão eloquentes são os nossos gestos.
Eu vejo como o senhor abraça aqueles que estão sofrendo, e eu realmente gostaria de fazer isso também. Eu vejo como o senhor beija os doentes, e eu realmente gostaria de fazer isso também. Vejo como o senhor toca os necessitados, e eu realmente gostaria de fazer isso também. Sei que os gestos não se aprendem da noite para o dia, e sei que nunca serei um padre que prega pelo exemplo se não aprender a linguagem dos gestos a partir de hoje. Como o senhor aprendeu esses gestos de misericórdia? Como podemos chegar a isso também no seminário, como podemos aprender essa linguagem tão importante?
Aprendendo com a vida
A resposta do Papa foi: "a vida te ensina". Ele continuou se referindo à experiência pessoal que lhe ensinou uma lição importante para quando é necessário visitar os doentes:
"Por exemplo, uma coisa que aprendi por experiência própria é que quando você vai visitar uma pessoa doente, que está se sentindo mal, não deve falar muito. Pegue a mão do enfermo, olhe-o nos olhos, diga algumas palavras e fique assim.
Na cirurgia que eu fiz onde tiraram parte do meu pulmão quando eu tinha 21 anos, todos os meus amigos, tias, todo mundo veio falar: “Logo você vai se recuperar, você vai falar, você vai conseguir jogar de novo". Eu gostava [de ouvir aquilo], mas cansei.
Um dia, a freira que me preparou para a Primeira Comunhão, Irmã Dolores, boa velhinha, veio e pegou minha mão, olhou-me nos olhos e falou: “Você está imitando Jesus”, e não disse mais nada. Isso me consolou.
Por favor, quando for visitar uma pessoa doente, não a encha de motivação, de promessas de futuro. O gesto de proximidade fala mais com sua presença do que com palavras."
Recordando com gratidão
O Santo Padre compartilhou a importância da Irmã Dolores em sua vida em mais de uma ocasião.
Recentemente, ele disse que esperava que as crianças se lembrassem de seus catequistas como ele se lembra dela.
Ele explicou:
"O Senhor também me deu uma graça muito grande. Ela era muito idosa [quando] eu era estudante... estudava no exterior, na Alemanha, e depois que terminei meus estudos voltei para a Argentina, e no dia seguinte ela faleceu.
Eu pude acompanhá-la naquele dia. E quando eu estava lá, rezando diante de seu caixão, dei graças ao Senhor pelo testemunho daquela irmã que passou a vida quase inteiramente dando catequese, preparando crianças e jovens para a Primeira Comunhão. Ela se chamava Dolores."
Louvor e gratidão
A visita da irmã Dolores não é a única lembrança vívida que o Papa tem daquela cirurgia. Ele também falou sobre a freira-enfermeira que salvou a vida dele:
"Ela era uma enfermeira religiosa: uma irmã dominicana italiana, que foi enviada para a Grécia como professora, altamente educada... Mas como enfermeira, ela chegou à Argentina. E quando eu, aos vinte anos, estava a ponto de morrer, foi ela que disse aos médicos, até discutindo com eles: 'Não, isso não está certo, precisamos dar mais'. E graças a essas coisas, eu sobrevivi. Eu agradeço muito a ela!Eu agradeço a ela. E gostaria de dizer o nome dela aqui, na sua presença: Irmã Cornélia Caraglio. Uma grande mulher, corajosa também, a ponto de discutir com os médicos. Humilde, mas segura do que estava fazendo."