Quando imaginamos a cena do nascimento de Jesus, naturalmente pensamos em Maria e José sozinhos em um estábulo, com animais ao redor. Esta imagem é, geralmente, precedida por um José preocupado, que chega a Belém no meio da noite e não encontra lugar para eles na hospedaria.
Embora certamente crie um cenário dramático para a história do nascimento de Jesus, esta imagem ignora tanto os fatos bíblicos quanto os históricos, que apresentam uma perspectiva diferente.
Maria e José já estavam em Belém
Devemos considerar, entretanto, que Maria e José já estavam em Belém há alguns dias. Lucas nos diz claramente:
"José subiu da Galileia, da cidade de Nazaré, à Judeia, à Cidade de Davi, chamada Belém, porque era da casa e família de Davi, para se alistar com a sua esposa, Maria, que estava grávida. Estando eles ali, completaram-se os dias dela."
Nenhum senso de urgência está presente no texto, o que torna provável que Maria e José tivessem tempo suficiente para se preparar para o parto e procurar uma parteira local.
As parteiras
As parteiras existem há milhares de anos e são até mencionadas no Antigo Testamento:
"O rei do Egito dirigiu-se, igualmente, às parteiras dos hebreus (uma se chamava Sefra e a outra, Fua) e disse-lhes: ‘‘Quando assistirdes às mulheres dos hebreus, e as virdes sobre o leito, se for um filho, matai-o; mas se for uma filha, deixai-a viver’’. Mas as parteiras temiam a Deus, e não executaram as ordens do rei do Egito, deixando viver os meninos."
Teria sido estranho José estar sozinho com Maria no nascimento de Jesus. Embora José tivesse grande fé em Deus e confiasse que Jesus seria o Messias, os homens naquela época não eram preparados para ajudar as mulheres nos partos.
O Proto-Evangelho de Tiago
Somado a esse conhecimento histórico, um texto antigo do Proto-Evangelho de Tiago conta a história de uma parteira que teria testemunhado o nascimento de Jesus:
"Então a parteira se pôs a caminho junto com ele [José]. Ao chegar à gruta, pararam, e eis que esta estava sombreada por uma nuvem luminosa. Exclamou a parteira: — Minha alma foi engrandecida, porque meus olhos viram coisas incríveis, pois que nasceu a salvação para Israel. De repente, a nuvem começou a sair da gruta e dentro brilhou uma luz tão grande que seus olhos não podiam resistir. Esta, por um momento, começou a diminuir tanto que deu para ver o menino que estava tomando o peito da mãe, Maria. A parteira então deu um grito, dizendo: — Grande é para mim o dia de hoje, já que pude ver com meus próprios olhos um novo milagre. Ao sair a parteira da gruta, veio ao seu encontro Salomé. — Salomé, Salomé! — exclamou. — Tenho de te contar uma maravilha nunca vista. Uma virgem deu à luz; coisa que, como sabes, não permite a natureza humana."
Embora o texto não seja considerado canônico, ele aponta para uma realidade histórica que provavelmente era verdadeira. Fazia sentido que José procurasse uma parteira. Se ela ajudou Maria no parto ou não é outra questão, mas os serviços de uma parteira também se estendiam aos cuidados com o recém-nascido.
Antigos ícones ortodoxos e bizantinos lembram essa verdade e alguns apresentam a parteira de Maria no canto do ícone, banhando o Menino Jesus.
Enfim, o que exatamente aconteceu naquela noite maravilhosa sempre permanecerá um mistério. Entretanto, evidências bíblicas e históricas podem ajudar a lançar um pouco de luz sobre o nascimento que mudou o mundo.