E se pudéssemos entrar no escritórios de um Papa enquanto ele escreve suas encíclicas, lê cartas de todo o mundo, reflete sobre as decisões a serem tomadas ou medita sobre a missão que lhe foi confiada? O que veríamos? Como é a mesa de trabalho de um Papa? Quais são os objetos, os souvenirs e as imagens que testemunham o importante trabalho que eles desempenham?
A mesa de trabalho do Papa Francisco
O Papa Francisco usa o menos possível o seu escritório oficial. Ele prefere trabalhar em seu pequeno apartamento na Casa Santa Marta, onde decidiu continuar morando após sua eleição.
Mas, seja em seu escritório oficial no Palácio Apostólico, onde recebe líderes mundiais, ou no pequeno escritório em Santa Marta, o Papa argentino valoriza a presença próxima de seu santo favorito: São José.
“Tenho um grande amor por São José, porque é um homem de silêncio e força”, disse Francisco.
Em sua mesa de trabalho principal está uma estátua de São José ao lado de Jesus quando criança. Mas o Pontífice também tem outra imagem de São José dormindo. “Mesmo quando está dormindo, ele está cuidando da Igreja! Sim! Sabemos que ele pode fazer isso. Então, quando eu tenho um problema, uma dificuldade, eu escrevo um bilhetinho e coloco embaixo da imagem de São José, para ele sonhar com isso! Em outras palavras, digo a ele: ore por este problema”, explicou Francisco em 2015.
Mas há algo mais que acompanha Francisco durante seu trabalho: uma cópia da pintura “As Lágrimas de Pedro”, onde Pedro chora depois de trair Jesus.
A mesa de Bento XVI
Algumas raras fotos de Bento XVI, falecido em 31 de dezembro de 2022, mostram seu escritório na residência Mater Ecclesiae, onde ele trabalhou até os últimos meses antes de partir para a Casa do Pai. Embora o Papa Emérito tenha perdido muito de sua força física no fim de sua vida, ele permaneceu lúcido.
Bento XVI mantinha uma rotina muito rígida, em que o tempo de trabalho intelectual ocupava um lugar muito importante.
Após a missa das 7h30 na capela do mosteiro - que era sua casa desde sua renúncia, em 11 de fevereiro de 2013 -, Bento XVI passava muito tempo em seu escritório repleto de livros e objetos de decoração. Em um documentário feito pela televisão pública bávara Bayerischer Rundfunk em 2019, o Papa alemão olha para sua mesa, que o acompanhava há 65 anos, dizendo: “Foi uma longa jornada”. E revela, divertido, que está equipado com uma linha telefônica segura, datada da época em que Munique foi alvo de atentados terroristas.
Em sua mesa estão um crucifixo, uma imagem da Virgem Maria com o Menino Jesus, uma estátua de São José, uma pequena vela e um buquê de flores. Há também fotos de seus pais e irmãos, incluindo um belo retrato de sua irmã Maria.
Não muito longe estão duas pinturas de seus santos favoritos: São Bento e Santo Agostinho.
Como pontífice titular, Bento XVI gostava de trabalhar no escritório dos aposentos papais em Castel Gandolfo, a residência de verão dos Papas perto de Roma. Aliás, o Papa alemão foi o último a desfrutá-la: a pedido de Francisco, que nunca se hospedou ali, a residência foi transformada em um museu aberto ao público em geral.
Bento XVI gostava de passar o verão em Castel Gandolfo para rezar nos esplêndidos jardins e trabalhar em paz. Olhando as fotos, pode-se ver em sua mesa um pequeno recipiente de couro gasto. É, de fato, um estojo de lápis, muito parecido com o usado pelas crianças em idade escolar. Bento XVI nunca o deixou para trás.
Embora tenha recebido um laptop depois de lesionar o pulso, ele não estava acostumado a escrever no computador. Pe. Lombardi, porta-voz do Vaticano, disse: “Especialmente no contexto do trabalho criativo, o Papa prefere usar uma caneta”. Algumas fotos raras atestam que ele também usava lápis.
“Meus pensamentos se desenvolvem principalmente por meio da caligrafia, então para mim foi realmente um teste de paciência não poder escrever por seis semanas”, explicou ele aos jornalistas na época de sua fratura óssea. Mesmo em seus últimos textos e leituras, seus lápis e canetas o acompanharam fielmente em seu trabalho criativo.
João Paulo II
O escritório de João Paulo II ficava no terceiro andar do Palácio Apostólico. Era da janela dessa sala que o Papa polonês, eleito em 16 de outubro de 1978, recitava o Angelus e compartilhava seu pensamento com os fiéis reunidos na Praça de São Pedro nas tardes de domingo. Não havia nada do esplendor dos interiores do palácio: apenas uma biblioteca com muitos livros e uma escrivaninha com os lados levemente arranhados. Era ali que João Paulo II trabalhava todos os dias.
Sobre a mesa havia duas fotos, uma do Padre Pio e outra do cardeal polonês Adam Sapieha, além de uma estátua de Cristo e um ícone de Maria com o Menino Jesus.
"Quando o Papa começava seu trabalho de cada dia, via diante dele uma estátua de Cristo sem mãos. Foi um presente de uma igreja demolida em uma das aldeias da ex-Iugoslávia”, escreveu o arcebispo Mieczyslaw Mokrzycki, segundo secretário particular de João Paulo II. Bem ao lado estava uma cópia do famoso ícone russo de Nossa Senhora de Kazan. Havia também uma imagem de Nossa Senhora de Jasna Góra, um ícone polonês, e as de dois santos conterrâneos: Maximiliano Kolbe e Rafał Kalinowski.
“Este lugar era cheio de silêncio e paz. Cheirava ar fresco. O Santo Padre adorava o ar fresco. Ele gostava de ter uma janela aberta em seu escritório, mesmo quando fazia frio”, lembra o arcebispo Mokrzycki. Ele diz que sempre havia flores na mesa do Papa João Paulo II– geralmente buquês pequenos e modestos.
Havia também uma grande estátua de Nossa Senhora da Conceição, uma velha estátua de madeira que repousava sobre uma pequena base de pedra no canto do escritório. João Paulo II costumava parar ali para beijá-la.