Uma nova palavra para uma prática antiga: "snooping", que pode ser traduzida como "bisbilhotagem".
Tal ação designa o fato de consultar, por curiosidade ou dúvida, o celular do cônjuge sem o conhecimento dele ou dela.
Antigamente, interceptávamos uma carta ou vasculhávamos bolsos. Hoje, bisbilhotamos a um smartphone em busca de uma foto ou mensagem de texto comprometedora.
A suspeita de infidelidade não é a única motivação. Muita gente quer ficar a par das despesas incorridas pelo cônjuge, as mensagens enviadas para parentes e amigos, e até as páginas visitadas.
Tem gente que chega até a instalar, de forma oculta, aplicativos de geolocalização no celular do marido ou da esposa.
Um estudo mostrou que a prática da "espionagem digital" é relativamente difundida entre os casais na França: quatro em cada dez franceses confessaram que já revistaram o laptop do cônjuge. E são as mulheres jovens que estariam mais inclinadas a monitorar as práticas digitais do cônjuge.
Um fenômeno geracional
“É claro que o snooping é um fenômeno geracional intimamente ligado à importância que os smartphones assumiram no cotidiano dos jovens, uma ferramenta de comunicação essencial que contém o essencial – fotos, mensagens, redes sociais – da vida íntima. As mensagens privadas são, portanto, as mais acessadas sem o conhecimento do outro”, decifra Louise Jussian, responsável pelo estudo.
Para a conselheira matrimonial Marie-Claire de Laforcade, o snooping é uma tentação constante. No entanto, esse desejo de saber tudo sobre o outro é agora enviesado e acentuado pelos hábitos digitais. “Com as redes sociais já se quebra a intimidade”, sublinha. “É cada vez mais difícil respeitar a privacidade porque tudo é publicado, compartilhado, postado. Tudo pode ser visto. Estamos sempre forçando ainda mais os limites da intimidade. Mas estamos cientes de que o celular do outro faz parte de sua privacidade?", questiona a especialista.
A expressão de uma necessidade
Dar aquela olhadinha escondida no celular do cônjuge não é insignificante. "Não fazemos isso por acaso", diz Marie-Claire de Laforcade. "Existe, necessariamente, uma motivação por trás disso, mesmo que seja infundada. Se em alguns casos a dúvida é verdadeira, em outros casos trata-se de um dano pessoal que traz insegurança ao relacionamento", acrescenta.
“Ouço muito, em consulta, sobre medos de abandono. A bisbilhotagem no celular do outro vem da vontade de se tranquilizar: 'sim, sou a única ou a única na vida dele'", explica a especialista.
Nesse caso, é importante identificar essa necessidade e se perguntar: o que preciso para me proteger? Porque existem outras maneiras de descobrir que você é amada sem bisbilhotar o celular do seu marido.
De fato, interferir na intimidade do outro prejudica o vínculo de confiança necessário à vitalidade do casal. É uma consequência lamentável do desejo de se tranquilizar a todo custo.
Restaurar a confiança
Para reverter esse quadro, a comunicação do casal é essencial. Pergunte-se: Consegui expressar minhas dúvidas, meus medos, minhas necessidades para meu cônjuge? Consegui saber que sou amada? Ele conhece a minha linguagem do amor, para responder a esta imensa necessidade, presente em todo ser humano, de saber que é amado? Preciso de mais palavras de apreço, presentes ou gestos de ternura dele para ter certeza de seu amor?
Por sua vez, o cônjuge cuja intimidade foi "violada" pode perguntar: o que está acontecendo entre nós para que você se autorize a fazer isso? O que você está perdendo?
Caso a "bisbilhotagem" revele mentira ou infidelidade, a confiança é posta à prova. “Uma única mentira destrói a confiança absoluta que, para certas almas, é o próprio fundamento do amor”, acredita Balzac. As consequências podem ser graves para o casal, e as feridas profundas.