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A importância do silêncio no nosso dia a dia

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Vanderlei de Lima - publicado em 26/06/23
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Você pode cavar pequenos espaços de silêncio no seu cotidiano, dedicados à escuta de Deus, à espera de que Ele fale. Veja como:

Dom Bernardo Bonowitz, OCSO, em seu livro Buscando verdadeiramente a Deus (Mensageiro de Santo Antônio, 2013), trata, entre outros temas oportunos, da importância do silêncio no dia a dia. Do mesmo assunto se ocupou Dom Estêvão Tavares Bettencourt, OSB, em sua revista Pergunte e Responderemos n. 534, dezembro de 2006, p. 565-570. São, pois, estas fontes que darão norte ao presente artigo.

Dom Bernardo, após discorrer sobre a imprescindível prática do silêncio na vida monástica, diz que, fora do claustro, “ela não precisa ser vivida tão intensamente quanto dentro do mosteiro; talvez não seja possível. Mas escolhas podem ser feitas a respeito da televisão, computador, telefone, conversas desnecessárias. Você pode cavar pequenos espaços de silêncio no seu cotidiano, dedicados à escuta de Deus, à espera de que Ele fale. Muito provavelmente tal dedicação terá seu lado doloroso, como na vida do monge – o encontro com a dissonância interior, o conflito dos impulsos e aspirações discordantes dentro de nós mesmos. Como sempre, o caminho da sabedoria consiste em perseverar num espírito de fé. Do outro lado do ruído e dos conflitos interiores, estão as melodias inauditas que Deus toca em sua flauta de pastor, à espera de serem ouvidas” (Buscando verdadeiramente a Deus, p. 29).

Motivos

Voltando-nos para o silêncio em si, de um modo mais amplo, podemos perguntar por que razões o ser humano se cala? – Dom Estêvão Bettencourt responde que o silêncio humano se dá por motivos diversos. Pode manifestar: a) espanto ou medo frente ao desconhecido ou ante um imprevisto (incêndio, procela, acidente etc.); b) concentração a fim de se preparar para uma grande decisão de vida; c) repouso a exigir não só a ausência de barulhos externos, mas igualmente a calma interior: é preciso que também a imaginação descanse e d) apatia ao se deixar levar pela onda da indiferença; aí a pessoa não reage para apoiar ou para discordar daquilo que ocorre à sua volta.

Em relação ao próximo, o silêncio pode representar: a) humildade e busca. Chega, neste caso, a ser um exemplo aos demais: “Calados, pareciam falar” (Cícero. Pro Sestio 40); b) aprovação ao que se vê ou se ouve. Daí se dizer: “Quem cala, consente”; c) omissão, pois a pessoa se cala quando deveria falar para alertar ou mesmo corrigir o próximo. O afamado Padre Antônio Vieira, SJ, assevera: “A omissão é um pecado que se faz não fazendo” (Sermão da Primeira Dominga do Advento).

Escuta

Dito isso, voltemo-nos para a Sagrada Escritura a fim de nela observarmos os silêncios de Deus e dos homens. Sim, há diversas passagens nas quais os salmistas e os profetas se queixam dos chamados silêncios de Deus (cf. Sl 83,2; 27,1; 39,13; 50,3 e Hab 1,13). Sobre este ponto, se expressa Dom Estêvão Bettencourt, OSB: “Na verdade, Deus, por definição, não pode ser omisso; Ele é a Suma Perfeição, que o homem, limitado como é, não entende, cedendo desnecessariamente à perplexidade. Jesus foi atendido pelo Pai de maneira muito mais generosa do que pela isenção do cálice de sua Paixão: atravessando a morte e ressuscitando, tornou-se o Senhor dos vivos e dos mortos; cf. Ap 1,18. Há comentadores segundo os quais o silêncio de Deus não é senão a falsa versão da surdez do homem. Ele fala, mas parece mudo, porque a criatura não O sabe ouvir” (Pergunte e Responderemos n. 534, p. 567).

Da parte do ser humano, também há um silêncio de escuta (Gn 24,21; 1Sm 3,10; 1Rs 19,11-12; Lm 3,26; Lc 10,39), de prudência (cf. Pr 10,19; 11,12; Ecl 3,7; Eclo 20,7; Jó 40,4) ou de humildade como o de Cristo, o servo de Javé (cf. Is 53,7; Mt 26,62-63; 27,14; ver também: Jo 19,9). 

Lembremo-nos, ainda, de que, na Tradição da Igreja, o silêncio para estar na presença de Deus é deveras valorizado. Guigo II († 1192/93), o cartuxo, por exemplo, escreve: “Possa eu, estando Contigo, não estar nunca só. A terra de minha alma cala em tua presença, Senhor, a fim de que entenda o que diz em mim o Senhor meu Deus, já que o murmúrio de tuas palavras não pode ser compreendido a não ser com um profundo silêncio” (in Um cartuxo. Antologia de autores cartuxos: itinerário de contemplação. São Paulo: Cultor de Livros, 2020, p. 176).

Em silêncio orante, reflitamos sobre tudo isso...

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