Ao longo de muitos anos, o meu único objetivo na vida era ser a pessoa mais inteligente da sala. Eu estava obcecado em adquirir conhecimento. Na faculdade, fiz cursos extras, participei de palestras complementares, fazia minhas próprias leituras paralelas. Muitas vezes adormeci à noite na cadeira com um livro de filosofia na mão.
Para mim, desenvolver o intelecto era o segredo para resolver todos os meus problemas. Eu achava que ser inteligente era a chave para compreender a Deus, entender a razão da minha depressão e descobrir como encontrar um caminho espiritual e emocional. Não me incomodava que, se eu pudesse mesmo ser a pessoa mais inteligente da sala, isto seria um impulso para o meu ego.
Acontece que eu não sou tão inteligente assim.
Quando cheguei à Universidade de Yale para a pós-graduação, ficou dolorosamente claro que existem muitas pessoas no mundo (e muitas mesmo) com raciocínio mais rápido que eu, mais estudiosas, mais inteligentes, mais motivadas. E embora eu estivesse, de fato, aprendendo bastante à medida que avançava, os meus problemas pessoais persistiam e as dúvidas sobre a minha fé continuavam. Aliás, multiplicavam-se. Eu percebi que não poderia saber tudo sobre Deus. O “assunto”, por assim dizer, é grande demais para uma mente.
Deus não é uma ideia a ser estudada, mas Alguém a ser conhecido. Também vim a entender que a alma humana é complexa e que eu sou muito mais que um intelecto.
O que significa educar-se?
Sabendo disso, surge naturalmente a pergunta sobre o que significa educar-se. Que tipo de conhecimento vale a pena adquirir e qual é a relação entre o intelecto e o conhecimento? Uma coisa é clara: a educação deve abranger toda a realidade e não apenas o intelecto.
Agora que os meus próprios filhos estão na idade escolar, tenho pensado muito na educação deles. Felizmente, os meus erros do passado me ajudaram a fazer algumas reflexões sobre o propósito da educação.
Por outro lado, o que noto nas tendências educacionais de hoje é que se vai numa direção equivocada. As abordagens à educação são altamente abstratas e teóricas, além de limitadas às chamadas habilidades "práticas", com foco principalmente em ciência e tecnologia. As matérias se voltam a preparar as crianças para conseguirem emprego e se encaixarem na sociedade, independentemente da análise de se vale mesmo a pena encaixar-se nesse tipo de sociedade.
Sempre que uma escola anuncia que os seus alunos recebem laptops e usam tecnologia de ponta, eu imediatamente questiono a qualidade da educação que ali se oferece, porque o objetivo principal da educação não é o desenvolvimento de habilidades práticas. Na verdade, não é sequer a pura aquisição de conhecimento intelectual. Inclui ambas as coisas, é claro, mas vai muito além disso.
O homem não vive só de pão. Uma pessoa não pode florescer apenas com conhecimento prático.
O romance do aprendizado
Recentemente, dei uma palestra num evento sobre educação domiciliar (homeschooling) e expliquei que a educação é essencialmente um empreendimento romântico. Para explicar o que eu quis dizer com isto, citei Edith Stein (Santa Teresa Benedita da Cruz), que escreve que "o educador é chamado por vontade de Deus a abrir a alma do seu aluno às obras da graça e, também, a desenvolver os poderes adormecidos da alma de acordo com a imagem de Deus".
Isso é romance puro; essa ideia de que a educação se baseia numa concepção metafísica da pessoa humana. Professor e aluno não se submetem às exigências da praticidade ou de algum objetivo intelectual arbitrário, mas buscam o conhecimento como um tesouro, como uma grande jornada de descoberta rumo à fonte daquele conhecimento que procede de uma esfera superior.
Numa atmosfera dessas, pode-se quase começar a acreditar que os elfos e hobbits e o Rei Arthur e o Santo Graal são reais. Talvez sejam. Eu sei, com certeza, que São Francisco estendeu as mãos para receber os estigmas, e São Tomás de Aquino escapou de uma torre de castelo onde estava preso e conseguiu fugir para Paris, e a princesa grega Santa Filomena enfrentou leões na arena. Este mundo, um mundo cheio de infinitas possibilidades, habitado por heróis que aderiram a uma verdade mais profunda, este é o mundo que eu quero que os meus filhos herdem. Talvez eles também possam se juntar a esses heróis.
Como ainda explica Edith Stein, a educação começa na alma. A verdadeira educação não é a imposição de conhecimentos exteriores; pelo contrário, ela forma o ser humano completo, de dentro para fora.
Esse tipo de educação modela uma pessoa única, maravilhosa, atenciosa, madura, que busca a felicidade. Essa felicidade, nós, como católicos, acreditamos que está ligada ao nosso progresso rumo à santidade.
Conhecendo a Cristo
São Boaventura afirma de maneira simples, mas eficaz: "Se você não aprende nada além de Cristo, você aprende tudo". O conhecimento é uma transformação interior. É como uma escada que nos conecta a Cristo. Cristo é a Verdade e, quanto mais subirmos os degraus dessa escada, mais perto estaremos de viver na verdade.
Na minha experiência, a educação é um processo de aprender a identificar o que é valioso. Procure primeiro a Cristo. Precisamos saber sobre Ele, sim, mas muito mais importante é conhecê-lo.
Uma educação completa deve incluir muito aprendizado acadêmico, mas também deve formar-nos na prática das virtudes, na oração e na teologia. Incluirá poesia, literatura e a contemplação silenciosa do céu estrelado. Talvez envolva ainda silvicultura, corrida, construção de catapultas medievais ou de robôs. Quem sabe.
A questão é que a educação é um grande romance, um enamoramento por este mundo, porque, através dele, vemos cada vez mais claramente Aquele que é todo Beleza, todo Bem e todo Verdade.