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A cura de um leproso. O evangelho de São Lucas na ótica da ciência  

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Igor Precinoti - publicado em 07/08/23
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Não havendo nenhum tratamento disponível, os doentes eram estigmatizados e excluídos da sociedade

No Evangelho de São Lucas são descritos diversos milagres e curas de Jesus, mas uma passagem em especial chama atenção, tanto pela importância que a doença ainda tem nos dias de hoje, quanto pelo comportamento do homem ao pedir a sua cura.  

“Estando ele numa cidade, apareceu um homem cheio de lepra. Vendo Jesus, lançou-se com o rosto por terra e lhe suplicou: “Senhor, se queres, podes limpar-me. Jesus estendeu a mão, tocou-o e disse: ‘Eu quero; sê purificado!’. No mesmo instante, desapareceu dele a lepra” (Lc 5,12-13).

Pois bem, a hanseníase, também conhecida como lepra, é uma doença que acompanha a trajetória da humanidade desde tempos remotos. Podendo ser encontrados registros históricos em diversas civilizações antigas.

É uma doença infecciosa causada por uma bactéria (Mycobacterium leprae) transmitida de pessoa a pessoa por meio das vias aéreas (tosse, espirro etc.). A moléstia acomete os nervos periféricos (estruturas responsáveis pela sensibilidade tátil e a capacidade de sentir dor, calor, frio etc.). Os sintomas variam de acordo com a resposta imunológica do indivíduo, mas normalmente são manchas claras ou vermelhas na pele, com perda de sensibilidade nas áreas afetadas. O não tratamento pode levar a complicações graves.

Foi somente em 1873 que um médico norueguês chamado Gerhard Armauer Hansen identificou a bactéria causadora da lepra, e é em homenagem a essa descoberta que a doença passou a ter o nome de “Doença de Hansen ou Hanseniase”. Até a descoberta de Hansen, ninguém sabia o que causava a lepra, e, ao longo da história, a doença foi relacionada a questões religiosas, culturais e sociais, sendo, inclusive, associada ao pecado e à impureza (cf. Levíticos, capítulos 13-14). 

Não havendo nenhum tratamento disponível, os doentes eram estigmatizados e excluídos da sociedade. Tocar ou simplesmente se aproximar de um “leproso” era algo impensado, e ter o diagnóstico de lepra era sinônimo de afastamento social e morte. 

Hoje, há tratamento para a hanseníase. Todo ele é gratuito e feito com antibióticos. Quando diagnosticado precocemente, os riscos de complicações são mínimos. Porém, nos tempos bíblicos, não havia cura e o ato de Jesus em tocar em um homem “cheio de lepra” provavelmente surpreendeu tanto quanto a cura milagrosa aí relatada. 

Um ponto que chama menos atenção nessa passagem, mas que possui grande potencial instrutivo é a resiliência do indivíduo doente. Sim, mesmo sofrendo com a doença, o estigma do rechaço social e estando diante de seu possível Salvador ele apenas disse: “Se queres, podes me limpar”; ou seja, ele, resiliente e humildemente, aceitou sua condição e a aguardou a decisão de Cristo. Não exigiu sua cura, não se lamentou, não murmurou. Ao contrário, antes disso, ele se abaixou, pediu, e deu ao seu Salvador o poder da decisão, deixando claro que aceitaria a vontade de Deus.   

A resiliência é a capacidade de atravessar as dificuldades mantendo o equilíbrio emocional. É aceitar e crescer diante da adversidade. É a habilidade de manter o equilíbrio psicológico mesmo em condições adversas. Publicações na área da Psicologia e da Neurociência demonstram a importância dessa resiliência na manutenção da saúde mental. Frise-se que a resiliência não é inata, mas desenvolvida e aprimorada ao longo da vida e, neste quesito, a fé e a crença religiosa fornecem suporte emocional, sentido de significado e propósito durante o enfrentamento das dificuldades. Neste mesmo sentido, diversos estudos evidenciam o seguinte: indivíduos religiosos que atravessam tratamentos ou enfrentam doenças graves apreciam estas condições como uma experiência espiritual. Isso, sem dúvida, contribui para que as pessoas atravessem estes momentos com resiliência; por isso, o fazem de forma positiva e construtiva.

São Lucas, médico de homem e de almas, ao escrever estes dois versículos nos oferece uma grande lição: a importância da fé e da resiliência para atravessar as dificuldades e os obstáculos da vida.

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