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Vocação: uma livre resposta de amor

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Hozana - publicado em 18/08/23
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Vocação não é uma questão de performance nem de quem sabe mais ou tem mais… mas de amor! Um amor que é iniciativa de Deus e que espera a resposta de um amor que aprende a crescer

Um jovem doutor em Teologia afirmou em seu trabalho de pesquisa “quando Deus cria uma coisa ele fala e aquilo existe. Quando ele cria um ser livre, ele chama e aquele que é chamado responde, ou não” (Alexandre ETAIX, Vivre est un art). Essa afirmação coloca em evidência que somos criados com esta faculdade que nos distingue de todos os outros seres: a liberdade. E no ato criador de Deus somos chamados à existência. Uma maneira de nos recordar que a liberdade é exercida no coração de uma relação. Não existe liberdade sem relação, e não existe verdadeira relação sem liberdade. Assim, quando falamos de vocação, nos inscrevemos necessariamente nesta realidade: relação e liberdade.

O próprio de uma relação é permitir ao outro de existir. Permitir que ele seja, com sua história e anseios, com seus talentos e fragilidades, com suas questões e seus sonhos. O próprio de uma vocação é entrar na dinâmica vivificante de uma escolha, fruto de uma eleição que nos envia e dá sentido à nossa vida. Sabemos que vocação é um chamado. E que nesta noção de chamado há a noção de eleição. 

Deus escolhe, elege, chama… e cada um de nós é convidado a respondê-lo: sim ou não. Pois se fôssemos obrigados a dar uma única resposta, não seria um ato livre. Mas podemos dizer “não” a Deus? Podemos. E qual o interesse então de uma vocação? O fato de cada um ter a possibilidade de escolher o que é bom, o que é justo, o que é verdadeiro e o que é belo. Se Deus cria por amor, é para que possamos viver essa experiência de amar. Desta maneira, escolher o que é bom, justo, verdadeiro e belo se encontra no ato livre e consciente de amar! De escolher o amor. 

Não somos predestinados a ser isso ou aquilo! Predestinados no sentido de obrigados. Porém, no pensamento paulino, vemos uma bela ideia da predestinação não como uma obrigação de dizer sim, mas como um chamado ao amor, a amar. Entender isso é entender que a iniciativa vem de Deus. É ele quem está no ato primeiro de um chamado, e o primeiro que recebemos é o da vida! E neste chamado à vida, somos “predestinados a ser filhos adotivos” (Efésios 1, 5). A predestinação é então o fato de ser amado por Deus. Neste sentido, a iniciativa vem dele. Seja qual for a nossa resposta, ele nos amará! Porém, para que uma relação de amor dê frutos, é necessário ter reciprocidade. “Tudo se passa como se a liberdade humana consistisse a realizar no tempo o que é já previsto de toda a eternidade de Deus” (Vocabulário de Teologia Bíblica. Cerf), o fato de amar e escolher por amor. Vocação se torna então o ato livre de responder a um chamado que nos convida a amar, a amar de todo nosso ser, a amar até o fim!

Na tradição cristã, este chamado é ligado a um aspecto ao mesmo tempo pessoal e comunitário. E todo chamado é colocado a serviço do povo de Deus. Claro, no seio da Igreja, cada chamado precisa ser discernido e acompanhado. Pois fazemos parte de um só corpo. E se Deus chama, é necessariamente, para enviar! Somos seres encarnados, nosso ato de amor é chamado a ser concreto. Assim, cada membro do corpo de Cristo é chamado a enraizar esse chamado de Deus numa vocação especifica. Respondendo assim ao convite do Senhor “amai-vos uns aos outros…” (João 15, 2) E Deus vai buscar cada um de seus filhos adotivos, que Ele predestinou ao amor e cuja resposta a este chamado não pode ser dada que se o que é chamado se sente livre! Se na nossa história de vocação a possibilidade de dizer não é colocada de lado, talvez nossa liberdade não seja vivida. Veja, não dizemos que ser livre é necessariamente dizer não, mas que ser plenamente livre é necessariamente ter a possibilidade do não! Deus tinha a possibilidade de não nos criar, de não nos chamar, de não nos amar! Mas Ele escolheu criar, chamar e amar! E neste amor infinito e livre, ele chama cada um a exercer o dom que nos foi dado de amar. E quem ele vai buscar?

Quando falamos de vocação, sempre temos a ideia de que os que são chamados a viver uma vocação especifica, são pessoas especiais, que tem sempre algo de melhor a oferecer. Mas se olhamos de perto as figuras que nos são dadas a contemplar, vemos que os que são chamados pelo Senhor, são pessoas frágeis, pecadoras, cheias de defeitos… como cada um de nós. E isso é importante porque vemos que vocação não é uma questão de performance nem de quem sabe mais ou tem mais… mas de amor! Um amor que é iniciativa, a de Deus, e que espera a resposta de um amor que aprende a crescer, o nosso. Toda história de vocação é a história de dois desejos que se encontram e que se respondem mutualmente: o desejo de Deus de nos amar, e o nosso próprio deseje de ser amado! E este chamado se inscreve necessariamente numa relação entre dois seres livres, aí está a sua beleza! E não basta que Deus chame, nós temos que escolher! E é o ato de escolha, de decisão, que nos poe no hall dos chamados, que nos dá sentido à vida. É o ato de escolha livre e consciente, que nos permite enxergar que este amor que nos chama não nos chama porque somos talentosos, mas porque na nossa própria experiência de fraqueza o Amor veio nos visitar para nos recordar que Ele não nos chama para ser exemplos, mas para ser testemunhas de um amor que salva, que acolhe, que reconcilia e que dá a vida! Assim, quando nos sabemos chamados por Deus, entramos num caminho de profunda transformação porque compreendemos, através desta relação, que fazemos parte de algo maior que nós mesmos e que nossa capacidade de escolha não reside numa obrigação de uma resposta, mas na decisão livre tomada e continuamente renovada. Um sim dado e sempre redito. 

Se a vocação nasce da solicitação de Deus, de sua iniciativa, ela só pode frutificar se cada um responde generosamente a este chamado. Por isso é necessário o tempo de discernimento, de conversão, de vida eclesial e da experiência sacramental. Sobretudo, é necessário ter consciência de que mesmo se nossa vocação “especifica” não é tão clara, somos primeiramente chamados ao amor e à santidade. Assim, como nos diz João em sua primeira carta: “quanto a nós, amemos, porque ele nos amou primeiro” (1Jo 4,19), qual seria a maneira mais bela e verdadeira de viver inteiramente nossa liberdade, e assim nossa vocação, se não a vivência do amor!

Quer entender melhor o chamado específico de Deus para sua vida? Participe do retiro “Reze e entenda sua vocação”, na rede social de oração Hozana (clique aqui).

Padre Emmanuel Albuquerque, pelo Hozana

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