A década de 60 do século XX marcou o início do desenvolvimento da internet, um projeto com objetivo de garantir a comunicação entre os organismos de defesa dos Estados Unidos. E que, posteriormente (anos 80), foi integrado às universidades com o intuito de melhorar a comunicação e a transferência de dados entre pesquisadores.
A partir dos anos 90, melhorias na tecnologia tornou a internet acessível ao público geral, e, nos anos 2000, uma explosão do número de usuários aconteceu. Com a disseminação dos smartfones, uma transformação social ocorre e o uso da internet e das redes sociais passa a ter um papel importante no cotidiano das pessoas tornando parte essencial da vida moderna, abrindo oportunidades infinitas para a comunicação, a educação e o comércio.
Contudo, com o crescimento da internet, foi observado um evento curioso: o aumento do consumo de pornografia. Um estudo nacional dinamarquês, publicado em 2006, evidenciou que mais de 50% dos homens e 20% das mulheres entre 18 e 30 anos consomem pornografia semanalmente. Os números ficam mais assustadores quando se analisa a exposição à pornografia por adolescentes menores de 18 anos. Uma publicação da revista CyberPsychology & Behavior, de 2008, demonstrou que mais de 90% dos meninos e 60% de meninas já foram expostos à pornografia através da internet.
Para a maioria das pessoas, ver pornografia é uma forma de entretenimento, e as críticas ao uso e consumo de pornografia se limitavam aos meios religiosos ou a grupos considerados conservadores. Todavia, será que a pornografia é mesmo inofensiva?
Todo consumo de pornografia começa de maneira ocasional e neste início não é necessariamente considerado prejudicial, no entanto, esta prática não é tão inofensiva assim. Pesquisas científicas na área da Psicologia e Neurociência indicam que a pornografia atua diretamente no sistema de recompensas do cérebro. O circuito de recompensas cerebral é responsável pela experimentação do prazer, que é, por sua vez, regulado por uma substância chamada dopamina. O consumo de pornografia inunda o cérebro com dopamina e assim que o nível desta substância começa a cair, o indivíduo busca mais. E essa atividade se transforma em um ciclo compulsivo.
Um estudo recente intitulado “A pornografia pode ser viciante? (Can Pornography be Addictive? An FMRI Study of Men Seeking) demonstrou que o vício por pornografia se comporta de maneira semelhante aos outros tipos de dependências (como o vício em jogos, drogas etc.). Em casos extremos, a necessidade de consumir material pornográfico pode ocupar um espaço desproporcional na vida da pessoa, levando a um isolamento social e a problemas de relacionamento interpessoal.
As principais consequências relacionadas ao vício em pornografia são:
- Sentimento de vergonha e isolamento.
- Perda de interesse em outras atividades (escola, trabalho, etc.).
- Diminuição do desempenho escolar ou profissional.
- Dificuldade em manter relações sociais reais.
- Disfunção sexual (Disfunção erétil, ejaculação precoce).
- Perda de interesse sexual por parceiros reais.
- Sintomas de abstinência.
A quantidade de indivíduos que perceberam que estão algum problema com pornografia e buscam ajuda cresce constantemente e estes números explodiram com a pandemia.
Infelizmente, ainda não existem estudos conclusivos sobre quais são os melhores tratamentos para esse vício, mas, hoje, as principais medidas para auxiliar quem sofre deste problema é a psicoterapia, a terapia cognitivo-comportamental e, em casos mais graves, medicamentos antidepressivos ou ansiolíticos.
É de extrema importância que os pais, professores e responsáveis conheçam este problema e estejam atentos aos sinais de mudança de comportamento dos menores e, principalmente, deem muita atenção ao conteúdo que as crianças consomem enquanto estão utilizando os celulares, tablets etc. Justificativas como “privacidade da criança” não devem ser mais importantes do que a “segurança e a saúde mental da criança”, por isso é obrigação dos pais e responsáveis fiscalizar todo conteúdo consumido pelos menores.
E para os adultos, caso o consumo de pornografia esteja atrapalhando as atividades diárias ou o consumo de pornografia esteja sendo mais atrativo do que a vida social real, procure um profissional de saúde (médico ou psicólogo), pois pode ser que a pessoa já esteja vivenciando esse problema.