separateurCreated with Sketch.

Pouco antes de ser eleito papa, Ratzinger alertou contra os “ventos de doutrina”

Cardeal Joseph Ratzinger, futuro Papa Bento XVI

Cardeal Joseph Ratzinger, futuro Papa Bento XVI

Francisco Vêneto - publicado em 27/12/23
"Quantos ventos de doutrina conhecemos nestes últimos decênios, quantas correntes ideológicas, quantas modas do pensamento..."

O cardeal Joseph Ratzinger era o decano do colégio cardinalício quando, em 18 de abril de 2005, proferiu a homilia da "Missa Pro Eligendo Romano Pontifice", ou seja, "Missa pelo Romano Pontífice a ser Eleito". De fato, os cardeais estavam reunidos em conclave pare escolher o papa que substituiria São João Paulo II, falecido no dia 2 daquele mês. O eleito acabaria sendo o próprio Ratzinger, no dia seguinte, 19 de abril, vindo a se tornar o Papa Bento XVI.

Naquela homilia, o cardeal mundialmente reconhecido como fiel guardião da pureza da doutrina católica observou:

"Quantos ventos de doutrina conhecemos nestes últimos decênios, quantas correntes ideológicas, quantas modas do pensamento... A pequena barca do pensamento de muitos cristãos foi muitas vezes agitada por estas ondas, lançada de um extremo ao outro: do marxismo ao liberalismo, até à libertinagem, ao coletivismo radical; do ateísmo a um vago misticismo religioso; do agnosticismo ao sincretismo e por aí adiante. Cada dia surgem novas seitas e realiza-se quanto diz São Paulo acerca do engano dos homens, da astúcia que tende a levar ao erro (cf. Ef 4, 14). Ter uma fé clara, segundo o Credo da Igreja, muitas vezes é classificado como fundamentalismo. Enquanto o relativismo, isto é, deixar-se levar 'aqui e além por qualquer vento de doutrina', aparece como a única atitude à altura dos tempos hodiernos. Vai-se constituindo uma ditadura do relativismo que nada reconhece como definitivo e que deixa como última medida apenas o próprio eu e as suas vontades".

Ele prosseguiu:

"Ao contrário, nós temos outra medida: o Filho de Deus, o verdadeiro homem. É Ele a medida do verdadeiro humanismo. 'Adulta' não é uma fé que segue as ondas da moda e a última novidade; adulta e madura é uma fé profundamente radicada na amizade com Cristo. É esta amizade que nos abre a tudo o que é bom e nos dá o critério para discernir entre verdadeiro e falso, entre engano e verdade. Devemos amadurecer esta fé, para esta fé devemos guiar o rebanho de Cristo. E é esta fé, só esta fé, que gera unidade e se realiza na caridade. São Paulo oferece-nos, a este propósito, em contraste com as contínuas peripécias dos que são como crianças batidas pelas ondas, uma bela palavra: praticar a verdade na caridade, como fórmula fundamental da existência cristã. Em Cristo, coincidem verdade e caridade. Na medida em que nos aproximamos de Cristo, também na nossa vida se fundem a verdade e a caridade. A caridade sem verdade seria cega; a verdade sem caridade seria como 'um címbalo que retine' (1 Cor 13, 1)".