A missa da meia-noite já terminou. As portas da igreja foram fechadas e a nave está imersa na penumbra, iluminada pelas poucas velas acesas no grande altar. Porém, um pequeno grupo de fiéis permanece para assistir a outra missa: a missa do alvorecer, provavelmente a celebração mais íntima e familiar para o crente. Ela já simboliza o mistério da "vida dada" e faz a conexão entre o passado, o presente e o futuro.
A passagem das trevas para a luz
Celebrada antes do nascer do sol, a missa do alvorecer é a terceira das quatro missas que celebram os mistérios da Natividade, entre a noite de 24 e a manhã de 25 de dezembro. São elas: a missa vespertina (ou missa "da Vigília"), celebrada ao pôr do sol na noite de 24, como a última cerimônia do tempo do Advento; a missa "do galo" (ou missa da noite), que celebra o Cristo gerado pelo Pai desde o princípio do mundo; a missa do alvorecer, que celebra Cristo como luz nascente; e a missa do dia, que celebra o nascimento de Cristo feito homem. Porém, entre essas quatro, apenas as três últimas são mais conhecidas.
Dessa forma, é comum falar das "Três Missas de Natal", que antigamente eram chamadas de "a missa do anjo", "a missa dos pastores" e "a missa do Verbo", simbolizando os três nascimentos de Cristo: o nascimento eterno, invisível e oculto; o nascimento na alma dos fiéis; e o nascimento temporal e corporal, visível a todos.
O nascimento de Jesus no homem
Após o anúncio do nascimento de um menino que, no segredo da noite de Belém fará surgir uma grande luz sobre o povo, o sol da justiça pode surgir. Os pastores, avisados pelos anjos, apressam-se a Belém e, depois de ver e honrar o Salvador, anunciam a todos o que viram e o que lhes foi anunciado (Luca 2, 15-20). A Boa Nova se espalha... A missa do alvorecer é celebrada nesse momento: eu recebo a Boa Nova do nascimento e a faço minha. A cada Natal, a vinda do Senhor em nossa história e humanidade se torna realidade.
Como os pastores, podemos nos aproximar do presépio a partir do que os anjos lhes disseram, introduzidos diante de Maria, José e do Menino Jesus, que viemos adorar. Durante a missa do alvorecer, essa cena nos é oferecida, e podemos pedir a Deus que nos ajude a agir em nossas vidas com base no que vimos.
Este é um momento importante, uma etapa essencial antes do amanhecer: aproveitar o instante em que estamos sozinhos, na penumbra e no silêncio, para deixar que o que nos toca produza seus primeiros efeitos e para nos deixarmos interpelar. Pois uma nova luz nos invade, como diz a oração de abertura da missa do alvorecer — uma luz que já ilumina nossos corações pela fé e nos permite fazê-la resplandecer em toda a nossa vida. O mistério da Natividade se desdobra.
O Papa Francisco aprecia esse tempo de silêncio "com os pastores". Quando era arcebispo de Buenos Aires, ele costumava passar um tempo sozinho antes da missa do alvorecer, como contou em uma entrevista à imprensa (Osservatore Romano): "Frequentemente, após a missa da noite, eu passava cerca de uma hora, sozinho, em uma capela antes de celebrar a missa do alvorecer".
Uma mártir originária da missa
Originalmente, a missa do alvorecer era uma celebração que os papas presidiam em memória de Santa Anastásia (mártir do século III), cuja festa é celebrada em 25 de dezembro. Inicialmente, essa missa não tinha qualquer ligação com o Natal. No entanto, com o tempo, essa celebração foi transformada em uma segunda missa de Natal, provavelmente inspirada pela prática da missa celebrada ao amanhecer na igreja da Ressurreição em Jerusalém, e pela associação entre o nome de Anastásia e anástasis (ressurreição), explica o padre Edward McNamara, L.C., professor de teologia e diretor espiritual.
Essa missa era celebrada exclusivamente pelos papas antes do nascer do sol. Leão XII foi o último a praticar esse uso exclusivo, na igreja dedicada à Santa Anastásia, localizada no centro de Roma. A igreja já existia na época do Papa Dâmaso (312-337). Na liturgia atual, o nome da santa é raramente mencionado, e quase toda a origem dessa missa foi esquecida.
O martírio de Santa Anastásia remonta ao reinado de Diocleciano, por volta do ano 287. Criada na fé cristã, a jovem sofreu com a brutalidade de seu esposo pagão, que se irritava com sua generosidade para com os cristãos encarcerados. Após suportar pacientemente os maus tratos, ela foi finalmente libertada do jugo, mas continuou a visitar e aliviar os cristãos presos durante a perseguição. Ela foi então presa, amarrada a um poste e queimada viva.