Os leitores fiéis da Aleteia provavelmente conhecem este artigo de 2017, que permaneceu por muito tempo entre os 10 mais lidos do site. Ele conta a história dessa misteriosa linha imaginária que une sete mosteiros, da Irlanda até Israel, todos dedicados ao Arcanjo São Miguel. Apesar de estarem distantes uns dos outros, esses santuários estão perfeitamente alinhados e representariam a linha sagrada de São Miguel, que, segundo a lenda, seria o golpe de espada que ele deu no diabo para expulsá-lo do inferno.
Na França, uma fiel leitora de Aleteia em francês enviou, em março de 2024, o link deste artigo para sua filha, Louise, com seguinte comentário simples: “Você conhecia essa lenda?”.
Louise não conhecia essa linha sagrada, mas, ela contou para Aleteia no começo de dezembro de 2024 que ao ler o artigo em março, “em uma fração de segundo”, ela teve a certeza de que era exatamente isso que queria fazer. Louise estava no final do seu mestrado e, com o término dos estudos se aproximando, ela queria aproveitar alguns meses para caminhar e refletir depois de anos intensos de estudos.
“Naquele momento, lembro que senti um forte desejo de descobrir essa linha de santuários, especialmente porque gosto muito do Mont-Saint-Michel, onde pude dormir há cinco anos, depois que os turistas foram embora, e viver uma bela experiência de eternidade”, contou com alegria.
Unidas pela fé para 2.500 km de caminhada
Louise então decidiu partir rapidamente, mas precisava encontrar uma companheira, pois não imaginava caminhar sozinha, já que detesta a solidão. Ela usou as redes sociais para divulgar seu anúncio “procura-se jovem para caminhada de quatro meses” e foi através de amigos em comum que Guillemette encontrou esse aviso. Embora ambas tenham 24 anos e estivessem terminando os estudos, elas são bem diferentes: Louise, literária e loira, e Guillemette, morena e engenheira, que às vezes gosta da solidão. Mas unidas pela fé, a dupla logo encontrou seu ritmo.
“Parti do St. Michael’s Mount, uma pequena ilha na Cornualha na Inglaterra, em 9 de setembro de 2024, e devido à sua defesa de tese, Guillemette só pôde se juntar a mim no Mont-Saint-Michel na França, em 16 de setembro”, explicou Louise a Aleteia por telefone no começo de dezembro de 2024. Ela detalhou que já haviam passado por quatro dos sete santuários que formam a linha da espada. “Depois, atravessamos a França e chegamos à Itália, no Piemonte, à abadia de São Miguel de la Cluse. Acabamos de passar por Roma, o que já significa quase 2.000 km percorridos.”
O objetivo delas era chegar à meta final, Gargano, na Apúlia, no sul da Itália, antes do Natal.
São Miguel, um excelente intercessor
Uma característica da viagem é que as duas companheiras mendigaram abrigo e alimentação todos os dias, desde o início da caminhada, e até dezembro nunca haviam precisado montar a tenda da mochila, “que está lá só para o caso de emergência”. “Está claro que São Miguel é um excelente companheiro de viagem e um bom intercessor”, sorriem as peregrinas, frequentemente surpresas pela gentileza e acolhimento das pessoas que abrem suas casas e suas intimidades para elas.
Além disso, elas estabeleceram um ritmo de oração que as sustenta durante os trinta quilômetros diários. “Partimos entre 8h e 9h todas as manhãs e caminhamos em silêncio até o almoço, a alguns metros uma da outra. Aproveitamos para rezar o terço mariano e fazer um tempo de introspecção. Depois, batemos nas portas para encontrar o almoço, descansamos um pouco e, à tarde, caminhamos juntas e rezamos o terço de São Miguel, com o qual confiamos nossas intenções, as pessoas que nos receberam no dia anterior e aquelas que nos receberão à noite”, conta Guillemette, admitindo que “a mendicância nos desafia a nos superarmos”.
“Às vezes, nos oferecem apenas uma sala paroquial, mas sempre temos acesso a uma pia e carregamos um pequeno fogareiro, caso precisemos cozinhar a massa que frequentemente nos oferecem na Itália”, explicam, sorrindo e se felicitando por terem passado pela experiência do escotismo, escola de vida e adaptação para qualquer situação.
Liberdade interior
“Na verdade, é impressionante descobrir como somos livres. Caminhamos, rezamos, fazemos belas amizades e, claro, descobrimos a devoção a São Miguel por toda a Europa.” Embora alguns trechos estejam sinalizados, na maior parte do tempo as peregrinas seguem sua rota com autonomia. Elas organizam o peregrinaje de acordo com os encontros e oportunidades, “sou eu quem cuido da parte da navegação!” brinca Guillemette, mas ambas sentem que são sustentadas por São Miguel, a quem não param de rezar, tanto por elas quanto pelos outros. “Já recebi vários testemunhos de amigos por quem rezamos e que nos disseram que foram atendidos”, conta Louise.
Com suas virtudes de consolador e guerreiro, São Miguel realmente trabalha conosco!”, riem as duas. Guillemette confessou já sentir uma “grande liberdade interior”, enquanto Louise sente “um grande alívio”. E, embora ainda não tenham cruzado com outros peregrinos realizando o mesmo trajeto que elas, essas “combatentes a caminho” podem muito bem inspirar outros. Afinal, elas nunca hesitam em tirar da mochila o artigo da Aleteia sobre essa linha, que não é tão imaginária assim, da espada de São Miguel!