"A gente precisa com muito afinco, lutar para que de fato possamos ter um futuro para os nossos filhos, para as novas gerações. Infelizmente eu não tenho mais filhos e não vou ter netos, mas eu acho que tenho obrigação de lutar por isso, para que esse planeta seja viável e para que o Brasil seja viável", diz a presidente do Instituto Camila e Luiz Taliberti (ICLT), Helena Taliberti o site da Agência do Brasil.
Com sede em São Paulo, a entidade foi criada por Helena em homenagem aos dois filhos de Helena, que morreram respectivamente aos 33 e aos 31 anos de idade. Ambos estavam hospedados na Pousada Nova Estância, que foi engolida pelos rejeitos. Ela conta que o que lhe dá forças para continuar na luta por justiça é a união das vítimas, o que possibilita "viver o luto junto". Helena destaca também os apoios que recebeu desde o primeiro momento e que recebe ainda hoje. "A solidariedade é uma das características do caráter humano que eu mais admiro. As pessoas se mobilizam por amor. E é um amor a um próximo que você não conhece. Eu recebo mensagens até hoje de pessoas me dando apoio, me dando força, dizendo que pensam em nós".
Viver o luto em solidariedade
Os filhos não foram as únicas vítimas da família. Aos 30 anos, Fernanda Damian, mulher de Luiz Taliberti, também teve sua vida interrompida. Ela estava grávida há cinco meses do primeiro neto de Helena. Estava presente ainda o ex-marido de Helena, pai de Camila e Luiz. Ele acompanhava a viagem junto com sua esposa. O grupo estava na cidade mineira a turismo, para conhecer o Instituto Inhotim, considerado o maior centro de arte ao ar livre da América Latina.
A Associação dos Familiares das Vítimas e Atingidos pelo Rompimento da Barragem em Brumadinho (Avabrum), criada em 2019 por mães e pais, viúvas e viúvos, irmãs e irmãos, filhos e filhas de pessoas que morreram na tragédia organiza anualmente em janeiro uma semana de eventos com o objetivo de fazer coro à luta contra a impunidade e homenagear entes queridos.
O que foi a tragédia climática de Brumadinho
O acidente na barragem da Mina Feijão causou o vazamento de 12 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério. A enxurrada de lama atingiu o centro administrativo da mineradora, a comunidade Vila Ferteco e casas na região rural de Brumadinho, em Minas Gerais. A tragédia deixou dezenas de desabrigados, desaparecidos e vítimas fatais. Estima-se que 24 mil pessoas foram afetadas de algum modo pelo rompimento da barragem. Naquele 25 de janeiro de 2019, foram perdidas 272 vidas, incluindo dois bebês de mulheres que estavam grávidas.
As vítimas também foram homenageadas no sábado (25), durante a VI Romaria pela Ecologia Integral, no Santuário Arquidiocesano Nossa Senhora do Rosário da cidade. Realizada pela Região Episcopal Nossa Senhora do Rosário (Renser) da Arquidiocese de Belo Horizonte, a romaria foi aberta ao público e reuniu movimentos populares, associações e representantes religiosos. A atividade levantou pautas de cobrança como a reparação justa e integral de sobreviventes e familiares das vítimas e o compromisso de órgãos responsáveis para evitar casos semelhantes.