É no livro do Gênesis que o peixe como alimento é mencionado pela primeira vez na Bíblia. Esta referência inicial às criaturas divinas é imediatamente entendida como um símbolo de submissão manifesta destas ao homem: "Deus diz: 'Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança. Que ele seja senhor dos peixes do mar, das aves do céu, dos animais domésticos, de todos os animais selvagens e de todos os animais que vêm e vão sobre a terra." (Gênesis 1,26).
Os tempos bíblicos dificilmente distinguiam as diferentes espécies de peixes, e estas vinham principalmente do vizinho Mar da Galiléia ou, em forma seca ou salgada, do Egito. Os conhecidos episódios da pesca milagrosa, da multiplicação dos pães e dos peixes nos Evangelhos ilustram também esta ideia de dom infinito que prefigura o sacrifício de Cristo. Depois de sua ressurreição, Jesus até comeu um peixe grelhado com seus discípulos para fortalecer sua fé na veracidade das Escrituras.
No entanto, o peixe ou peixe nem sempre estão no relato bíblico das criaturas das delícias... Assim, o Livro do Êxodo relata que, para punir os egípcios por manterem o povo de Israel cativo, Moisés recebeu do Senhor o poder de realizar maravilhas, incluindo transformar todas as águas do Egito em sangue: "Os peixes do Nilo estouraram e o Nilo cheirou mal; os egípcios não podiam mais beber a água do rio; havia sangue em toda a terra do Egito” (Êx 7, 21). O fato é que o lugar dos peixes na narrativa bíblica permanece importante.
Remédios e o nascimento de um símbolo poderoso
É por causa dessa mesma importância que os peixes se tornaram símbolos poderosos em todas as Sagradas Escrituras. O peixe também é apresentado pelas Escrituras como um remédio.
É o caso do Livro de Tobias, quando o jovem Tobias quase foi capturado por um peixe ao longo do rio Tigre. O anjo disse-lhe para puxá-lo para fora da água para a margem: "Estripe o peixe, tire o fel, o coração e o fígado, separe-os para levá-los embora e jogue fora as entranhas. Pois a fel, o coração e o fígado são remédios eficazes” (Tb 6, 4).
Quando perguntado pelo jovem sobre esses remédios, o anjo respondeu: "Se você queimar o coração e o fígado do peixe diante de um homem ou mulher atacado por um demônio ou um espírito maligno, o agressor foge e suas vítimas serão libertadas para sempre. Quanto ao fel, se você aplicá-lo nos olhos de um homem com leucomas e soprar nele, os olhos serão curados. O relato bíblico neste episódio enfatiza como o peixe pode se tornar um remédio contra demônios e uma fonte de cura, antecipando assim o símbolo cristão do peixe.
Ichtus: o peixe cristão
O símbolo aquático foi, de fato, invadir o cristianismo nascente, muito antes de a Cruz se tornar o principal emblema dessa fé. Para compreender a presença do peixe no cristianismo, devemos voltar à língua grega antiga. A palavra "ikhthús" (ἰχθύς), que significa peixe em grego, contém em cada uma de suas letras uma aclamação cristológica: Jesu Kristos Theou Uios Sôter, ou "Jesus, Cristo Filho de Deus, Salvador".
Este símbolo torna-se assim central. Na prática, muitas vezes era representado por duas curvas que se uniam para formar o peixe, um sinal discreto de reconhecimento que poderia ser deixado como grafite durante as perseguições. A direção da cabeça às vezes até indicava o caminho para um local de culto escondido. Os primeiros cristãos eram frequentemente apelidados de "filhos do Ichtus celestial".
O símbolo de Cristo e o batismo
Este símbolo se espalhou primeiro em Roma, depois em toda a cristandade, onde é venerado, especialmente sob o nome de "Cristo-Peixe". O símbolo do peixe tornou-se então objeto de devoção incentivado por pontífices como Clemente de Alexandria, que recomendou que fosse representado em selos, joias ou outros objetos pessoais. Assim começou uma coleção de amuletos e pedras preciosas gravadas com as cinco letras da palavra ICHTUS, muitas vezes acompanhadas pela imagem do peixe.
Os primeiros textos cristãos testemunham este entusiasmo, e autores como Tertuliano, Orígenes e Santo Agostinho louvam o seu poderoso simbolismo, evocando a "fonte imortal da água divina", a pureza e o alimento.
Tertuliano traça um paralelo entre o peixe e a água do batismo: "Nós, peixinhos, segundo o nosso Peixe, Jesus Cristo, nascemos na água e só podemos ser salvos permanecendo na água". Santo Agostinho também compara o peixe ao pão eucarístico, e aparece em algumas representações eucarísticas, como a exposta no Museu do Vaticano.
Embora a Cruz tenha gradualmente tomado o lugar do peixe para simbolizar a fé cristã, o peixe permaneceu muito presente nas igrejas, em afrescos, pinturas, mosaicos e outros suportes, como testemunho desse rico símbolo cristão.

