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Por que defender a vida antes do nascimento?

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Patricia Navas - publicado em 07/02/13

Às vezes, a chegada de uma nova vida aparece como um problema, seja por parecer pouco oportuna para a família ou para a mãe, porque a criança não nascerá saudável, por ser fruto de um estupro. Por que defender o nascimento de um filho acima de tudo?

Cada vida humana começa a existir por uma ação dos pais, que geram o corpo, mas também de Deus, que infunde a alma. Com a mesma identidade biológica – do momento da fecundação até a morte –, possui um valor inviolável e um potencial que superam as expectativas e as circunstâncias em que foi gerada.

A vida humana é um presente que Deus confia à pessoa. Desde o seu início, na fecundação, possui, muito além das circunstâncias em que se origina, uma grande dignidade e uma promessa de eternidade.

A vida humana é sagrada porque vem de Deus, permanece sempre em uma especial relação com Ele e se dirige a Ele. O pai e a mãe transmitem a vida, mas o Criador é o único Senhor desse dom.

Como confirma a genética atual, no momento em que o óvulo é fecundado pelo espermatozoide, começa a aventura da vida de um novo indivíduo humano, que já tem sua própria identidade biológica e irá desenvolvendo suas potencialidades progressivamente, sem saltos qualitativos.

A nova vida possui uma dignidade intrínseca à sua natureza e um inestimável valor, independentemente de qualquer consideração subjetiva (por exemplo, o desejo de não ter um filho ou a crença de que a pessoa não será feliz), e exige ser acolhida com responsabilidade.

A liberdade humana, inclusive nas circunstâncias mais difíceis, é capaz, com a ajuda de Deus, de gestos extraordinários de sacrifício e de solidariedade para acolher a vida de um novo ser humano.

Uma gravidez não planejada – e talvez não desejada – pode exigir sacrifício, formação, informação e ajuda. Mas as pessoas podem, apesar das dificuldades e das suas fraquezas, corresponder à altíssima vocação para a qual foram criadas: a de amar.

De fato, a experiência demonstra que muitas gravidezes não desejadas se transformam em alegres maternidades. Por outro lado, numerosas crianças dadas em adoção podem também desfrutar de uma vida plena e oferecer sua contribuição ao mundo.

Ainda sendo pequeno e estando oculto no ventre da sua mãe, o concebido é amado infinitamente por Deus, por ser uma pessoa humana, feita à sua imagem e semelhança, e está chamado à felicidade eterna.

Para a mulher, ser mãe é uma oportunidade única de realizar-se, porque esta experiência lhe permite desenvolver um aspecto essencial de si mesma.

Ter um filho responde a um convite inscrito no próprio ser feminino: na aspiração da sua alma a refletir, junto ao homem, o poder criador e a paternidade de Deus, em sua estrutura psíquica inclinada a acolher a vida, e em sua própria constituição física e em seu organismo, organizados naturalmente para a concepção, gestação e parto do filho, como fruto da união com o homem.

Assim, a estrutura feminina, unida à dimensão do dom próprio de toda pessoa, oferece pistas claras sobre o desígnio divino para a mulher, cuja realização lhe permite encontrar sua plenitude.

A feminista Janne Haaland Matláry, especialista em ciências políticas, descreve assim a experiência da maternidade, que enche de alegria e de sentido a vida de milhões de mulheres: “Sempre fui uma mulher trabalhadora, interessada, acima de tudo, no meu próprio trabalho. Mas quando me tornei mãe, percebi que essa era, em um sentido muito profundo, a verdadeira essência da feminilidade”.

Cristo fala sobre a profunda satisfação, o significado e o alcance da maternidade, comparando a vida que a mãe traz com a vida eterna que Ele oferece: “A mulher, quando vai dar à luz, fica angustiada, porque chegou a sua hora. Mas depois que a criança nasceu, já não se lembra mais das dores, na alegria de um ser humano ter vindo ao mundo. Também vós agora sentis tristeza. Mas eu vos verei novamente, e o vosso coração se alegrará, e ninguém poderá tirar a vossa alegria” (Jo 16, 21-22).

Ao longo da história, a maternidade foi muito valorizada. No entanto, às vezes também foi (e continua sendo) penalizada ou desvalorizada, por exemplo, pelo feminismo radical que se desenvolveu nos anos 70 (este relacionava a maternidade à mulher passiva e atrasada) e pelos sistemas econômicos que, na prática, discriminam as mulheres trabalhadoras que têm filhos ou não as apoiam. Esta atitude impediu que muitas mulheres realizassem livremente um aspecto essencial de si mesmas e empobreceu a humanidade.

A maternidade também é essencial para o futuro de uma sociedade humana sustentável.

As mulheres que dão vida e ajudam para o seu crescimento oferecem uma contribuição transcendente para a coletividade, algo que o Estado e a sociedade devem reconhecer e proteger.

Bento XVI destacou este aspecto ao receber, em janeiro de 2011, um grupo de responsáveis de instituições públicas italianas, salientando que “é necessário apoiar concretamente a maternidade, como também garantir às mulheres que desempenham uma profissão, a possibilidade de conciliar família e trabalho. Com efeito, demasiadas vezes elas são postas na necessidade de escolher um dos dois. O desenvolvimento de políticas de ajuda adequadas, como também de estruturas destinadas à infância (…), pode contribuir para fazer com que o filho não seja visto como um problema, mas sim como um dom e uma grande alegria”.

Poucos meses antes, ao consagrar a basílica da Sagrada Família de Barcelona, o Papa ressaltou também a necessidade de que “a natalidade seja dignificada, valorizada e apoiada, jurídica, social e legislativamente”.

Atualmente, na Europa, o índice de fecundidade não garante a renovação geracional. A diminuição e envelhecimento da população escondem grandes problemas sociais e culturais, relacionados à falta de esperança, e apresentam outros muitos, como o futuro das pensões. As mães têm uma função vital na configuração de uma sociedade humana com futuro esperançador.

A verdadeira igualdade de sexos contempla o especial esforço integral da mulher no gerar em comum, que deixa o homem em dívida com ela, segundo palavras de João Paulo II.

A Igreja mostra a família como o lugar mais adequado para acolher a vida humana e exige que o Estado a respeite, proteja e apoie. Ao mesmo tempo, consciente da sua solidariedade corresponsável, demonstra seu apoio incondicional às mães para acolher sua maternidade com uma atitude positiva e levar adiante a gestação, nascimento e educação dos seus filhos, e para que, sempre e em todos os lugares, os seres humanos que vêm ao mundo recebam um acolhimento digno do homem, se necessário, por meio da ajuda às famílias, às mães solteiras e aos filhos.

A vida humana é inviolável. Recorrer ao aborto significa matar um ser humano inocente e indefeso, prejudicando assim quem o realiza e toda a sociedade.

A vida humana deve ser respeitada e protegida a partir do momento da concepção. Ainda que sejam muitos os problemas que podem acompanhar a gravidez e o filho concebido, estes justificariam expulsar o feto do útero – o que causa a morte desse ser humano que se encontra na primeira fase da sua existência?

Além do homicídio concreto de um ser humano inocente, totalmente confiado à proteção da mulher que o carrega em seu ventre, o aborto provocado é uma força destruidora para a vida das pessoas envolvidas nele, especialmente de mulheres que muitas vezes tiveram de enfrentar sozinhas a dor e o arrependimento profundos que surgem depois da decisão de acabar com a vida de uma criança não nascida.

O aborto destrói vínculos naturais de pais e filhos e viola o parentesco espiritual de todos os homens, acaba com a dignidade da pessoa humana, é uma profunda injustiça nas relações humanas e sociais e ofende o Criador.

Sua proliferação prejudica todos, porque diminui o respeito à vida dos idosos e doentes; “a distinção entre o bem e o mal obscurece-se, e a sociedade tende a justificar até mesmo procedimentos claramente imorais”, constatou o Papa polonês no 25º aniversário da legalização do aborto nos Estados Unidos.

Desde o primeiro momento da sua existência, o ser humano deve ver reconhecidos os seus direitos como pessoa, entre os quais se encontra o direito à vida, que, além de tudo, é um elemento constitutivo da sociedade civil e da sua legislação. Os Estados estão obrigados a defender este direito fundamental.

As propostas de legitimar um suposto direito ao aborto se baseiam em discriminações arbitrárias e na lei do mais forte, que levam a retroceder a uma época de barbáries, que a sociedade acredita já haver superado para sempre. A paz requer o respeito pela dignidade das pessoas.

De qualquer maneira, se uma pessoa abortou ou participou dessa grave injustiça, sempre pode se arrepender, acolher o perdão e a paz de Deus no sacramento da Reconciliação, confiando esse ser humano falecido à misericórdia do Pai. Além disso, inclusive por meio dessa morte, Deus pode tirar algum bem.

Referências

Agradecemos a Justo Aznar, diretor do Observatório de Bioética da Universidade Católica de Valência, e ao Pe. Sabatino Majorano, decano da Academia Pontifícia Afonsiana, pela revisão deste artigo.

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