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“Derrubaram o avião do ministro”

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Montagem sobre foto de divulgação/Textron Aviation

Francisco Vêneto - publicado em 23/01/17

Verdadeira ou falsa, esta é a versão que convencerá grande parte dos brasileiros – e é difícil recriminar quem pensa assim

Ainda afetados pela catástrofe que vitimou a maior parte do time da Chapecoense na Colômbia há pouco mais de um mês, os brasileiros já estão novamente às voltas com outro desastre aéreo, envolvendo agora a morte de cinco pessoas, entre as quais o ministro Teori Zavascki. Além da natural repercussão midiática pela relevância do cargo, o falecimento do ministro num episódio trágico adquire matizes particularmente sombrios por conta do seu papel como relator do processo da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal: a julgar pelos comentários nas redes sociais e pelas enquetes propostas em sites de notícias no mesmo dia do desastre, grande parte dos brasileiros acredita que Teori Zavascki foi assassinado.

A principal hipótese para a queda do avião, até o momento, é a de acidente causado pelas más condições do tempo em Paraty, mas a ideia de sabotagem teve, infelizmente, motivos suficientes para vir à tona de imediato entre os telespectadores do interminável novelão brasileiro. Os holofotes do país estão voltados há várias temporadas para um espetáculo decorrupção cujo roteiro ultrapassa os limites da verossimilhança e chega com excelência ao intrincado patamar da conspiração cinematográfica, no qual, de maneira ao mesmo tempo delirante e convincente, os vilões estão prontos para eliminar quaisquer obstáculos à sua impunidade, por mais poderosos que pareçam, apelando, entre outros expedientes, para a simulação de acasose fatalidades sem culpados.

Mesmo que o desfecho deste episódio trágico seja o previsível (e plausível) diagnóstico de “simples acidente”, permanecerá atrás da orelha de milhões de brasileiros a mesma pulga que ali se instalou depois do acidente de avião que matou Eduardo Campos durante a campanha presidencial de 2014, ou depois da inesperada doença que se abateu sobre o presidente Tancredo Neves em plena véspera da posse e o levou à morte após semanas de suspense em 1985, ou depois do até hoje polêmico acidente de carro que matou Juscelino Kubitschek em 1976… Agora, porém, a pulga está muito mais resistente e saltitante, alimentada não só por especulações, mas por quilos e quilos de provas e demonstrações da existência de uma vasta e consolidada rede de criminalidade altamente organizada, tecida e mantida por poderosos empresários e representantes dos poderes públicos – no alvo, precisamente, da atuação do ministro.

Neste contexto, a possível demonstração de que o desastre que matou Teori Zavascki foi um “simples acidente” não terá força o bastante para se sobrepor aos apelos da teoria da conspiração. Afinal, a teoria da conspiração tem parecido muito mais realista do que o “mero acaso” aos olhos do telespectador da grande ficção em que a política brasileira foi transformada pelos seus próprios bastidores.

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BrasilCorrupçãoPolítica
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