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O que o Instagram diz sobre a vaidade?

INSTAGRAM

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Miriam Diez Bosch - publicado em 12/08/18

Essa rede social alimenta o narcisismo ou, ao invés disso, promove a beleza?

A Diretora do Family and Health Psychological Center (Centro de Psicologia da Família e da Saúde), Joan Maria Bovet, analisa o impacto do Instagram em favorecer uma visão egocêntrica da sociedade, na qual o “eu” ocupa o primeiro lugar.

O Instagram celebra o egocentrismo, ou é uma vitrine de coisas bonitas?

Se o Instagram é uma celebração do egocentrismo ou uma simples vitrine de coisas bonitas depende das intenções de cada usuário. Uma pessoa espiritualmente madura, coerente e honesta certamente não usará as redes sociais de uma forma motivada por emoções negativas de seu ego, como o orgulho, a vaidade, a necessidade de louvor, o glamour da superficialidade ou o desejo de impor suas próprias opiniões sobre os outros. Todas essas coisas não são mais que manifestações arbitrárias e vãs do ego humano.

Certamente, uma vez que a maior parte da humanidade vive no nível de consciência do ego, a celebração do egocentrismo no Instagram e outras redes sociais é praticamente garantida.

Além da boa intenção ou falta disso dos usuários do Instagram, cada publicação traz consigo seu próprio grau de consciência, de modo que as mensagens nascidas do egoísmo refletem sua origem, enquanto as mensagens nascidas da verdade favorecerão os frutos do espírito: compaixão, Deus, perdão, paz, felicidade e o bem maior.

As coisas boas e bonitas publicadas no Instagram, como tal, contribuem para o que é bom. Bondade, gentileza, beleza e amor têm seu próprio poder, já que eles dependem do nosso ego.

A autoestima é necessária, mas em excesso torna-se narcisismo. Como podemos encontrar equilíbrio na era das redes sociais?

A autoestima é absolutamente necessária para que possamos atuar nesta vida e crescer espiritualmente.

O problema é que, em nossa evolução psicoafetiva, adquirimos algumas crenças que distorcem nossa percepção de autoestima. Por exemplo: um certo tipo de educação religiosa pode ter passado para nós a ideia de que “muita autoestima” é egoísmo e leva ao narcisismo. Com base nessa crença, como posso saber se tenho muita autoestima? Quando posso dizer que minha autoestima é equilibrada, saudável, livre de egoísmo? Como posso saber que não é narcisista?

Geralmente, ao falar sobre o mandamento de Jesus, “ame o seu próximo como a si mesmo”, muita ênfase foi colocada no medo do egocentrismo; como consequência, tem havido muita insistência em renunciar ao “amor próprio”, descrito em termos pejorativos. O “amor próprio” foi identificado como algo negativo, que deve ser rejeitado.

Certamente, se o amor que tentamos viver em relação a nós mesmos e aos outros é gerido pelo nosso ego – e, consequentemente, se surgir das necessidades, expectativas, crenças e perspectivas do ego – sempre será narcisista.

A questão, como eu entendo, não é tanto se a minha autoestima é excessiva ou não, mas se eu cresço espiritualmente ou não. Nossa sociedade tem uma ideia de amor muito tendenciosa, limitada e condicionada. Definimos facilmente atitudes de “amor” que estão cheias de egocentrismo e que são totalmente narcisistas.

Mesmo no caso de pessoas religiosas que se consideram espirituais, se o seu ego sutil penetra na sua vida espiritual, ele se tornará um “ego espiritual” destrutivo. Na nossa sociedade, falamos de amor, cantamos sobre amor, nós chamamos qualquer sentimento de amor, mas, na realidade, apenas uma parte da humanidade evoluiu para o amor verdadeiro, cuja essência é claramente definida por São Paulo na “Magna Charta” da Caridade [1 Coríntios 13].

Como podemos equilibrar nossa autoestima nesta era das redes sociais?

Só podemos fazê-lo realizando a tarefa de crescer espiritualmente, o que exige a vontade espiritual de reconhecer a força dos interesses do ego dentro de nós e a decisão de desistir deles e submetê-los a Deus. Não há outro caminho.

O que acontece é que temos ideias muito boas e conceitos sublimes de amor, mas pouca experiência na prática do amor incondicional. É um desafio que poucos estão dispostos a enfrentar e um processo que poucos estão prontos para experimentar.

Você acha que estamos lidando com uma sociedade fortemente centrada em si mesma?

Totalmente centrada em si mesma. Nossa sociedade é extremamente narcisista. Promove o narcisismo, a vaidade e o egoísmo.

Gestos de solidariedade diante de catástrofes trazem o melhor, mas também o pior, da natureza humana. Qual você acha que são os autênticos indicadores de quem somos?

É difícil julgar se eles são autênticos ou não. Qualquer opinião é, por sua própria natureza, uma forma de vaidade do nosso ego, que permite a si mesmo o direito de opinar e julgar com base em sua própria maneira de ver as coisas. Toda opinião é arbitrária, pois é fruto de uma percepção. O ego percebe: é assim que ele se relaciona com a realidade.

Como cada percepção é um mecanismo do nosso ego, está estruturada no paradigma da dualidade, uma vez que o ego vive em dualidade permanente. Isso significa que ele forma suas opiniões com base no que considera “bom” ou “ruim”, “correto” ou “errado”, “meu” ou “seu” e, consequentemente, considera “bom” o que o favorece e “ruim” o que não gosta; um “amigo” é alguém que joga junto com ele, e um “inimigo” é alguém que não faz isso.

Tanto o melhor como o pior da natureza humana surge precisamente do nível de consciência evoluída de cada pessoa. Assim, do interior de uma pessoa que se desenvolve mais no amor, nada além do amor pode surgir; enquanto do interior de uma pessoa que permaneceu lutando nos níveis mais baixos de consciência do ego, provavelmente surgirá orgulho, medo, culpa, ira, vaidade, avareza, decepção, falsidade, ódio, sofrimento, separação, solidão e depressão.

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