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São João Batista Scalabrini : um novo pai para todos os migrantes

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Domaine public, Wikicommons.

Mgr Jean-Baptiste Scalabrini

Isabella H. de Carvalho - publicado em 12/10/22

Um novo santo para interceder por todos nós, mas de forma especial para um grande grupo de pessoas

No domingo, 9 de Outubro de 2022, o Papa Francisco nomeou um “pai dos migrantes” canonizando o bispo italiano João Batista Scalabrini. Nascido em 1839, este sacerdote italiano do século XIX ficou particularmente comovido com as questões relacionadas com a migração, ao ver muitos dos seus compatriotas emigrar para as Américas em busca de uma vida melhor. Assim, no final do século XIX fundou duas Congregações, os Missionários de São Carlos em 1887, e o seu ramo feminino, as Missionárias de São Carlos Borromeo, em 1895, para se dedicarem a ajudar os migrantes em todo o mundo. Hoje o carisma de Scalabarini continua vivo e ativo, através do trabalho árduo que os seus “filhos e filhas” religiosos fazem para servir os migrantes, em todas as suas facetas e definições, em todo o mundo.

“O Papa está a canonizar o nosso fundador porque quer dar um pai aos migrantes”, disse a Irmã Lina Guzzo, vice-postuladora da causa de canonização de Scalabrini, a Aleteia. Membro desta Congregação há 57 anos, a Irmã Lina ajudou italianos no estrangeiro, na Alemanha e na Suíça, ajudou migrantes deslocados pela queda do comunismo na Albânia nos anos 90 e hoje serve duas comunidades, uma de filipinos e uma de cingaleses, em Messina, Sicília.

“A minha força é estar com os migrantes”, explicou ela. “Queremos e sentimos que a canonização será um grande momento para a Igreja e um grande impulso para nós e para nos inspirar a sermos mais fiéis ao nosso carisma”.

Ajudar os migrantes de todos os tipos

As duas Congregações do Beato Scalabrini têm cerca de 500 irmãs, presentes em 27 países, e 600 irmãos e padres, presentes em 33 países. A família religiosa inclui também, desde 1990, o Instituto Secular dos Missionários Seculares Scalabrinianos. Juntos servem cerca de 12.000 migrantes por dia, trabalhando em centros de saúde, hospitais, escolas, prisões, centros de acolhimento e muito mais. Desde pessoas deslocadas pela guerra e conflitos, aos católicos em países estrangeiros, aos que se deslocam para melhores oportunidades económicas, não existe uma definição de migrante que a sua Congregação não abranja.

Por exemplo, desde 2017, as irmãs Scalabrinianas em Roma gerem duas casas como parte de um projeto chamado “Chaire Gynai”, que significa “Olá, mulher!” em grego. O Papa Francisco tinha pedido às irmãs que proporcionassem um programa de “dupla assistência” destinado a mães refugiadas com filhos e mulheres migrantes em situações vulneráveis.

Entre estas mulheres, as Scalabrinianas também acolheram ex-irmãs que deixaram a vida religiosa e se encontram num país estrangeiro sem ter para onde ir. Algumas destas histórias de mulheres são apresentadas no livro “Il Velo del Silenzio” (“O Véu do Silêncio”) de 2021, escrito pelo jornalista italiano Salvatore Cernuzio, que partilha as experiências de freiras que sofreram abusos psicológicos ou físicos nas suas comunidades religiosas.

Nestas casas geridas pelos Scalabrinianos, estas ex-religiosas recebem ajuda psicológica, assistência jurídica para pôr os seus documentos em ordem, e são ensinadas competências profissionais, explica o livro. Cernuzio descreve o projeto dos Scalabrinianos como “uma iniciativa sem dúvida louvável”, que é no entanto “uma gota num mar de necessidade” e pode tornar-se “um modelo a imitar” noutras Congregações, para ajudar as mulheres que deixam a vida religiosa.

A história de Scalabrini

João Batista Scalabrini nasceu em Como, Itália, em 1839. Foi ordenado em 1863 e em 1876, com apenas 36 anos de idade, tornou-se Bispo de Piacenza. Em 1880 estava na estação ferroviária central de Milão quando viu as condições terríveis de um grupo de emigrantes italianos pobres, que partiam para as Américas.

A partir deste momento, começou a tentar influenciar a Igreja e o Estado italiano a prestarem atenção a estas pessoas. Escreveu textos e estudos sobre migração, fundou as duas Congregações acima mencionadas, e até propôs ao Vaticano em 1905, alguns meses antes da sua morte, a criação de uma comissão central para todos os emigrantes católicos. Esse organismo seria inicialmente planejado para ajudar os italianos no estrangeiro, mas Scalabrini já previa que no futuro poderia ajudar todos os emigrantes. Embora tenha morrido antes de poder vê-lo implementado, o seu projeto é considerado um precursor das várias comissões e conselhos pontifícios que foram criados nas décadas seguintes, chegando hoje à Seção de Migrantes e Refugiados do Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral.

“Scalabrini lembra-nos que os migrantes são pessoas nas ruas, são desalojados, sem direitos e sem documentos. Em fidelidade e aderência ao nosso carisma, ele transmite-nos esta sensibilidade para com os migrantes. É nossa grande responsabilidade conhecê-lo, rezar por sua intercessão, senti-lo como um pai para que também o possamos apresentar como tal a todas estas pessoas que encontramos”, disse a Irmã Lina.

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