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“Golda”: entre a complacência e a tenacidade empática 

Filme fotográfico

Kirsten Warner | Shutterstock

Alexandre Freire Duarte - publicado em 15/10/23

O Cinema pelo olhar da Teologia: poderá a Teologia cristã admitir uma defesa militar que seja justa face a um inimigo assoberbante?

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“Golda” é um filme que mostra que por detrás de um pequeno e odiado país pode estar uma mulher a olhar os seus inimigos nos olhos, esperando alcançar uma paz duradoira. E mostra-o num drama histórico sóbrio, tenso e sombrio sobre o peso das decisões em situações “de vida ou morte” (e viver com isso). Este filme, embora não seja capaz de nos cativar devido a um guião medíocre, põe-nos em ligação empática com Golda Meir e a sua árdua luta face ao suportar de traumas pessoais ante a guerra no terreno (ainda que vitoriosa) e face aos “egos” dos seus complacentes conselheiros.

As escolhas técnicas parecem acertadas, exceto a estética do fumar; os combates são sentidos, mesmo quando não vistos; a seca interceção de linhas expositivas é tocante sem ser sentimental; e os cenários são reduzidos, mas convincentes. Todavia, são Mirren (uma Golda carismática feminista numa ação exausta de arrependimento e afirmação solitária) e Schreiber (um Kissinger genial e luminoso) que aguentam (com força e reserva enigmática) um filme empapado na morte e com um restante grupo de atores que se mostram irregulares, sobretudo devido a diálogos irrealistas e até desapontantes.

Poderá a Teologia cristã admitir uma defesa militar que seja justa face a um inimigo assoberbante? Nesta obra, esta questão é meramente retórica, mas mostra que as boas decisões são preparadas à distância: no tempo, na oração, na aceitação dos seus possíveis efeitos. E quão mais graves são essas decisões, mais estes efeitos (mesmo que entregues ao coração do Senhor) podem continuar a assombrar-nos como se tivéssemos caminhado para um “inferno”. Mas os decisores que, ao contrário de Golda Meier, se entregam à ocultação e são vácuos no não empatizarem com a vida, por vezes arrasada, daqueles que têm que viver sob as suas opções, esses, nestes dias confusos, triunfam como novos Herodes e novos Pilatos: pelo “sangue” da atrição e a “água” da desonra.

Sabemos que Jesus, antes de decisões capitais, Se retirava em oração para em tudo testemunhar que Deus é Amor e somente Amor. Mas… e nós? Agimos em função do quê e de quem? Quais são os nossos critérios? Fugimos da dor que o amor nos acarreta? Entregamo-nos às sereias do nosso egoísmo enfatuado e da nossa inveja mesquinha? Somos seres humanos ou pinheiros bichados? Deixamo-nos inspirar pela força do Espírito Santo e inspiramos os demais pelo serviço que lhes mostra a sua grandeza?

A maior parte das vezes, não escolhemos com prioridades crísticas, limitando-nos a atirar “rosas” inconsequentes (e dos nossos “topos de gama” descapotáveis), a quem esmagamos. Optamos em função do que nos celebriza e populariza, em vez do que dá morte ao nosso “ego” e nos faz empatizar com os demais. Sim: isto faz-nos vulneráveis, mas quais os motivos de não querermos que nos vejam como somos? Isso só amplia essa visibilidade no meio de palavras vãs, pois são, numa alienação do plano da caridade, incapazes de expressarem os pensamentos que as motivam, sendo palavras sem coração.

Nenhum batizado deve buscar a felicidade no mais fácil ou no mais baixo; o acordo na inércia ou nas “palavras de ordem” reduzidos a um grito. Em suma: nada de tomadas de decisão espiritualmente tumulares e esclerosadas, mas na luz da intimidade de Jesus no âmbito da vida ferida daqueles que, como nós, precisam de acolher o Seu amor.

(Reino Unido, EUA, 2023; dirigido por Guy Nattiv; com Helen Mirren, Henry Goodman, Camille Cottin, Lior Ashkenazi, Rami Heuberger e Live Schreiber).

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