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A chave para superar todos os sentimentos de solidão

woman cloud alone lonely solitude

Eakachai Leesin | Shutterstock

Patricia Navas - publicado em 27/10/23

Uma psicóloga oferece respostas para pessoas que se sentem solitárias e compartilha o que é a experiência de unidade que supera todos os sentimentos de solidão

O que é exatamente a solidão, de onde ela vem, é possível fugir dela ou posso administrá-la de forma a transformá-la em algo positivo? Na entrevista a seguir com a Aleteia, Saray Bonete, professora de Psicologia da Universidade Francisco de Vitoria, oferece esclarecimentos e respostas valiosas, bem como a chave definitiva para superar o isolamento.

O que é a solidão?

A solidão, em uma primeira definição, refere-se à falta de companhia, voluntária ou involuntária. Mas, embora seja verdade que ela geralmente é acompanhada pelo fato de estar ou não em companhia, é uma experiência inerente aos seres humanos.

Somos seres sociais e dependentes, que desde o nascimento precisam de cuidados protetores e calor humano. Ao mesmo tempo, somos diferentes e únicos. A experiência de ser alguém diferente do outro é constitutiva de nossa natureza. E nessa descoberta há essa distância dos outros, da qual surge a experiência da solidão.

Como um sentimento, a solidão inclui um componente emocional complexo

Por que nos sentimos solitários e de onde vem esse sentimento?

As emoções básicas – alegria, tristeza, medo, nojo, raiva e surpresa – combinam-se e interagem com processos psicológicos básicos, como pensamento e linguagem, e surgem outras emoções e sentimentos mais complexos, entre os quais podemos incluir a solidão, a culpa ou a vergonha.

A solidão tem um componente cognitivo fundamental no qual a pessoa se sente ou se encontra “separada”, razão pela qual está associada à ausência de apoio social. Uma coisa é estar fisicamente sozinho e outra é sentir-se solitário: é possível sentir-se solitário no meio de uma multidão ou até mesmo na companhia de seus entes queridos.

Pessoalmente, não gosto do termo generalizado “solidão indesejada”, como se houvesse outro processo além da solidão “desejada”.

Smutna kobieta rozmyśla o przeszłości

A solidão é inerente à condição humana?

Sim, somos seres sociais e, ao mesmo tempo, únicos e irrepetíveis. Nessa singularidade, bem como no processo de formação de nossa identidade, é uma condição necessária – diríamos – que experimentemos a solidão.

É por isso que não se pode dizer que a solidão é uma experiência negativa ou uma experiência a ser evitada. Além disso, a solidão muitas vezes abre a porta para o conhecimento pessoal, para a introspecção… E é nesse encontro consigo mesmo, descobrindo-se diferente do outro, que surge a experiência da unidade.

Como lidar com o sentimento de solidão?

Há várias possibilidades. Por um lado, há a questão de buscar companhia para favorecer o encontro com os outros. Isso facilita o surgimento de experiências de unidade e comunhão.

Por outro lado, há a questão de aprender a ficar sozinho, como um espaço vital no qual se entra em contato consigo mesmo. Às vezes, esse espaço também permite que a pessoa transcenda a si mesma e se abra para grandes questões. Esse desconforto da distância dos outros leva a uma busca pelo Outro.

Parte da sintomatologia clínica observada em consultas psicológicas tem a ver com o fato de estar fisicamente isolado da companhia física de outras pessoas. Mas muito mais está relacionado ao fato de não saber como estabelecer relacionamentos reais de encontro verdadeiro, ou não saber como permanecer na solidão de seu eu interior, ser capaz de olhar para si mesmo, reconhecer-se, aceitar-se…

No entanto, para que tenhamos maturidade para fazer isso na idade adulta, é necessário que outra pessoa tenha primeiro olhado para você, reconhecido você, aceitado você… Outra pessoa da qual você tenha sido capaz de se reconhecer como diferente e, ao mesmo tempo, unido a ela. Por esse motivo, a terapia geralmente se torna um lugar onde outra pessoa olha para você, o reconhece e o aceita como você é, facilitando o processo no qual você entra em contato consigo mesmo e passa pela experiência da solidão com força suficiente para não desistir antes que esse crescimento ocorra.

Na Teologia do Corpo desenvolvida por João Paulo II, é a experiência original de solidão que permite a passagem para a experiência original de unidade. Em outras palavras, é exatamente porque me sinto sozinho e diferente que me abro para os outros e os encontro. E mais ainda quando essa abertura me leva a encontrar Deus, que se manifesta na presença dos outros, mas também além do fato de haver outros ao meu redor.

O encontro pessoal com Cristo é a chave para superar a solidão experimentada como resultado da ausência de outras pessoas ou da diferença em relação a elas.

Como a solidão pode ser definitivamente superada?

A experiência da solidão – o desconforto, o sentimento de isolamento ou de desamparo – é frequentemente superada pela consciência de estar acompanhado por Alguém que é maior do que eu e do que os outros ao meu redor. O encontro pessoal com Cristo é a chave para superar a solidão experimentada como resultado da ausência de outras pessoas ou da diferença em relação a elas.

Para o bebê, que ainda não tem pensamento e linguagem desenvolvidos para elaborar a experiência, a presença da mãe é suficiente para superar o sentimento de solidão; para a criança, às vezes os pais ou o contato com outras crianças; para o adulto, às vezes a proximidade de outras pessoas.

Também na clínica, a presença do terapeuta que o aceita como você é e lhe dá a segurança de que você é alguém importante é uma das maneiras pelas quais a sensação negativa de solidão é superada.

E, além de todos esses encontros, temos o testemunho de todos aqueles que vivenciam um encontro interpessoal com Cristo, que traz consigo a experiência de unidade que supera todos os sentimentos de solidão.

De fato, há situações da vida de extrema importância que, no final das contas, a pessoa enfrentará sozinha ou na ausência de companhia (como é, por exemplo, o momento da morte).

E na presença real de Cristo, no encontro interpessoal com Cristo, essa solidão é superada.

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