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Assassinos compassivos? Justiça britânica usa argumento nazista para acelerar a morte de bebê doente

Mão de bebê em hospital

C. Vanrintel | Shutterstock

Francisco Vêneto - publicado em 11/11/23

Em 1920, os alemães Karl Binding e Alfred Hoche defenderam exterminar "vidas indignas de serem vividas": o mesmo discurso embasa hoje a imposição da eutanásia, do aborto e da eugenia

Numa derradeira e vergonhosa audiência nesta sexta-feira, 10 de novembro, foram negados os últimos recursos do casal inglês Dean Gregory e Claire Staniforth em defesa da vida da própria filha, Indi, de 8 meses. Os pais da bebê vinham suplicando à “justiça” britânica pelo mais óbvio de todos os direitos parentais: o de lutar, até o fim, pela vida de sua bebê, afetada por uma doença mitocondrial incurável que impedia as suas células de produzirem energia.

Indi estava internada no Queen’s Medical Center (QMC), em Nottingham, mas os médicos responsáveis pelos seus cuidados preferiram dirigir-se aos tribunais e solicitar da “justiça” britânica o desligamento dos aparelhos de suporte vital à pequena. Para eles, declaradamente, o tratamento fornecido a Indi era inútil.

No entanto, o Hospital Pediátrico Bambino Gesù, do Vaticano, reconhecido como o melhor da Europa e um dos melhores do mundo, tinha oferecido os seus profissionais e as suas instalações de excelência para assumir os cuidados médicos de Indi, aplicando um tratamento experimental – mesmo sabendo e deixando claro para todos, sem ilusões, que as chances de sucesso eram ínfimas. Além disso, com o engajamento pessoal da primeira-ministra Giorgia Meloni, a Itália havia concedido à bebê a cidadania italiana, para que os trâmites da transferência pudessem realizar-se sem maiores burocracias.

Não adiantou.

Assim como os médicos do QMC preferiram direcionar o seu esmero a impor litigiosamente a aceleração da morte da paciente que estava confiada à sua proteção, também os juízes britânicos preferiram, mais uma vez, inverter a própria missão e condenar à morte um direito parental inquestionável em qualquer sociedade cujo arcabouço moral não tenha tido o seu suporte vital brutalmente extirpado: o de proporcionar à própria filha todos os recursos legítimos disponíveis para continuar vivendo até que a morte inevitável lhe sobreviesse naturalmente.

Afinal, se o Estado tem qualquer prerrogativa de intervir, deve ser somente para garantir à bebê até o último direito, caso os pais o negligenciem; jamais para fazer exatamente o oposto. A “justiça” britânica, no entanto, chegou a negar a esses pais até a súplica humilhante de que a filha pudesse ao menos morrer em casa em vez de ser morta no hospital – porque é nisto que consiste uma intervenção humana propositalmente destinada a abreviar a vida de alguém, e qualquer dicionário não prostituído por novilínguas registraria essa definição como correspondente ao verbete “assassinato”.

Mais uma vez? Mais uma vez. A “justiça” britânica já tinha optado por sentenciar à morte vários outros bebês, entre os quais Charlie Gard, Alfie Evans, Archie Battersbee e Alta Fixsler. Seus casos repercutiram internacionalmente e indignaram milhões de pessoas pelo caráter ditatorial das decisões dos magistrados, alinhadas a uma visão da vida humana que, substancialmente, em nada se distingue da mais abjeta das ideologias abjetas: o nazismo.

Doutrina nazista

Em 1920, de fato, o jurista Karl Binding e o psiquiatra Alfred Hoche, na Alemanha, defenderam a repulsiva ideia de que, ao exterminarem as “vidas indignas de serem vividas”, estariam prestando um generoso favor às suas vítimas. Seu influente livro “Die Freigabe der Vernichtung lebensunwerten Lebens” (“Permitindo a Destruição da Vida Indigna de ser Vivida”), serviu de base para que os nazistas justificassem o seu programa T-4 de eutanásia.

Transcorridos pouco mais de cem anos, em cujo decurso parece ter sido insuficiente uma guerra mundial para escancarar os horrores engendrados por essa ideologia criminosa, médicos e juízes britânicos – cujos predecessores, aliás, deram a vida para combater esse mesmo nazismo – se empenham implacavelmente não apenas em negar a uma mãe e a um pai o direito básico de oferecerem à sua bebê doente todos os cuidados disponíveis: eles o negam apelando chocantemente à mesma e repulsiva narrativa com que os nazistas mascaravam o seu afã de matar.

A máscara da compaixão, porém, lhes fica tão torta na cara que, a certa altura, não bastam várias para disfarçar o veneno que destilam. Entre as batalhas judiciais a favor ou contra Indi, um juiz da Corte de Apelações do Reino Unido chegou a declarar, na audiência deste 10 de novembro, e com uma curadoria de palavras capaz de fazer corar um carcereiro de campo de extermínio, que não toleraria “táticas manipulativas de litígio” – quando se referia ao que, fora da bolha deformante do seu fanatismo ideológico, eram somente os esforços de um pai e de uma mãe para cuidarem da filhinha.

Indi poderia ter sido transferida para Roma com todas as responsabilidades assumidas pelos seus pais, o que teria garantido aos médicos e juízes envolvidos a conveniência pilática de lavar as mãos.

Os médicos e juízes envolvidos, porém, se mantiveram obstinados em manchá-las de sangue. Mais uma vez.

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BebêsCultura do descarteEutanásiaIdeologiaMorte
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