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A eleição de Javier Milei obstaculiza a visita do Papa Francisco à Argentina?

Javier Milei

LUIS ROBAYO / AFP

Javier Milei

Francisco Vêneto - publicado em 21/11/23

Analistas políticos especulam que a vitória do libertário poderia levar Francisco a desistir da viagem apostólica ao seu país natal em 2024. Será?

Javier Milei, do partido A Liberdade Avança, derrotou o atual ministro argentino da Economia, Sergio Massa, da frente peronista União pela Pátria, na eleição à presidência do país platino. Com isso, não são poucos os analistas políticos que especulam que o Papa Francisco “provavelmente” desistirá de realizar uma viagem apostólica ao seu país natal, o que, em palavras do próprio papa, estava previsto para 2024, onze anos após a sua eleição ao pontificado.

Os católicos argentinos aguardam Francisco desde 2013. As expectativas pela visita ganharam impulso nos últimos meses, após entrevistas em que o pontífice manifestou o desejo de voltar à sua terra e a possibilidade de fazê-lo no ano que vem. Foi o caso em abril, durante conversa com o jornal La Nación, e em maio, durante um encontro com os jovens da fundação Scholas Occurrentes.

Recentemente, na sua última assembleia geral, os bispos da Argentina enviaram uma carta ao papa na qual afirmam “unir-se aos sentimentos do povo”, convidando o papa a visitar o país. “Sua proximidade e bênção farão muito bem a todos nós nestes tempos difíceis”, justificaram.

Declarações polêmicas

Acontece que Javier Milei, antes de ser eleito presidente, chegou a referir-se a Francisco, em diferentes ocasiões, com críticas e acusações que diversos membros do episcopado argentino qualificaram como insultantes e falsas.

Em 2020, Milei declarou que o papa era “um jesuíta que promove o comunismo” e, indo além, afirmou que Francisco era “o representante do maligno na Terra”. Ao jornalista norte-americano Tucker Carlson, Milei acusou o papa de “patrocinar a esquerda” e de não seguir os dez mandamentos ao defender a “justiça social”, já que, a seu ver, este conceito, na prática, não passa de “um roubo”: consiste em fazer populismo distribuindo esmolas que, por um lado, não resolvem a pobreza das massas supostamente beneficiadas e, por outro, retiram forçosamente recursos de quem os produziu.

Dom Oscar Ojea, presidente da Conferência Episcopal Argentina, reagiu duramente às manifestações de Milei sobre o papa: “Um dos candidatos expressou-se com insultos e falsidades irreproduzíveis. Como disse o bispo Gustavo Carrara, o papa é para nós um profeta da dignidade humana em uma época de violência e exclusão. Mas, por outro lado, ele também é um chefe de Estado a quem se deve um respeito especial”.

Na campanha presidencial, o candidato derrotado Sergio Massa tentou aproveitar essas declarações de Milei para desqualificá-lo, mas o agora presidente eleito afirmou ter-se desculpado com Francisco e garantido que, se ele fosse à Argentina, seria respeitado “não só como chefe de Estado, mas também como líder da Igreja católica”.

Milei também teve de se pronunciar a respeito de uma declaração de Alberto Benegas Lynch, assessor econômico do partido A Liberdade Avança, que havia afirmado: “Por consideração à minha religião católica, por respeito a essa religião, acho que deveríamos imitar o que o presidente Roca fez [no século XIX], ou seja, suspender as relações diplomáticas com o Vaticano enquanto o espírito totalitário prevalecer lá”.

Para Milei, tratou-se de uma declaração pessoal de Lynch, dentro do seu legítimo direito à liberdade de expressão, mas não reflete a posição do partido. Ele acrescentou: “Entendemos que a Argentina é um país católico, com fortes laços com a Igreja. Seria irresponsável de minha parte fazer algo assim”.

Viagens apostólicas e circunstâncias

Mas, afinal, as declarações prévias de Javier Milei podem obstaculizar a visita do Papa Francisco à Argentina?

Em entrevistas sobre a sua relação com o país, o próprio papa já declarou, meses antes de se saber quem seria o próximo presidente argentino, que cada viagem apostólica é planejada minuciosamente, inclusive levando-se em conta as circunstâncias políticas do país a ser visitado.

Um dos cuidados é o de reduzir ao máximo o risco de que a presença do papa seja explorada indevidamente pelo governo ou pela oposição como se fosse um endosso à sua ideologia ou atuação política.

Mas este não é o único fator que se leva em conta – tanto que, ao longo destes dez anos de pontificado de Francisco, a Argentina já foi governada por partidos antagônicos e nenhum deles contou com a visita do pontífice.

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