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Cardeal Sarah: o exagero em elementos culturais distorce a liturgia

Cardeal Robert Sarah

GALAZKA/SIPA/EAST NEWS

Francisco Vêneto - publicado em 07/12/23

"Nossas liturgias são muitas vezes muito banais e muito barulhentas", denuncia o cardeal africano

O cardeal guineense Robert Sarah foi o responsável pela homilia na Santa Missa de abertura do I Congresso Internacional de Liturgistas Africanos, iniciado nesta segunda-feira, 4 de dezembro, em Dakar, no Senegal.

O encontro se estende até esta sexta, dia 8, e seu tema é “O estado da questão litúrgica na África: realizações, desafios e perspectivas“. Os participantes se baseiam particularmente na constituição Sacrosanctum concilium, do Concílio Vaticano II, promulgada pelo Papa São Paulo VI há exatos 60 anos, em 4 de dezembro de 1963.

Na homilia, Sarah observou que tem havido um empenho de igrejas locais em “adicionar elementos africanos e asiáticos à liturgia, distorcendo assim o mistério pascal que celebramos”. Para o cardeal, africano ele próprio, coloca-se “tanta ênfase nestes elementos culturais que as nossas celebrações às vezes duram seis horas”. Ele acrescenta que “nossas liturgias são muitas vezes muito banais e muito barulhentas” e considera que, “se olharmos para a liturgia como uma questão prática de eficiência pastoral, corremos o risco de transformá-la numa obra humana, uma série de cerimônias mais ou menos bem sucedidas”.

O cardeal Sarah já foi prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos e são frequentes as suas defesas da liturgia tradicional contra o que chama de “improviso da criatividade”. A este respeito, ele registra:

“Durante 60 anos, notamos que, ano após ano, a reforma litúrgica aliada a muito idealismo e grandes esperanças de muitos sacerdotes e leigos acaba por ser uma avalanche de improvisação de criatividade e uma desolação litúrgica em vez da renovação da Igreja e da vida eclesial. Estamos testemunhando hoje, especialmente no Ocidente, um desmantelamento dos valores de fé e da piedade que nos foram transmitidos e, em vez de uma renovação frequente da liturgia, estamos testemunhando uma destruição das formas da Missa”.

Diante disso, exortou:

“Rezemos, queridos irmãos e irmãs, para que possamos redescobrir a origem trinitária da liturgia”.

Por outro lado, Sarah elogiou o presente congresso de liturgistas africanos e o qualificou como “histórico” e “de vital importância para o futuro da Igreja de Jesus Cristo na África”:

“A liturgia é vital para a religião cristã. Estes especialistas litúrgicos estão aqui não apenas como especialistas, mas, sob o olhar atento de Deus, querem ajudar-nos a viver plenamente a nossa fé e a nossa religião cristã. Sessenta anos depois da promulgação da constituição sobre a sagrada liturgia, os liturgistas africanos organizam este seu primeiro congresso internacional para comparar os seus pensamentos sobre a prática litúrgica e a fidelidade das comunidades africanas à tradição cristã e aos valores autênticos das culturas africanas”.

Defendendo que “são necessárias três coisas para constituir uma religião”, o cardeal as enumerou e foi explicando:

“Em primeiro lugar, as crenças. Em segundo lugar, regras de vida. E, em terceiro lugar, ritos de adoração. Quando as crenças atingem um estágio de alta perfeição, elas se tornam dogmas ou verdades de fé. Quando as regras de vida são precisas e justas, constituem uma lei divina, e quando os ritos são fixos e definidos, não estão sujeitos à improvisação, à criatividade ou à imaginação dos sacerdotes, eles formam uma liturgia. Cada religião deve ser julgada por estas coisas. Neste triplo aspecto, a religião cristã não teme comparações; é muito superior a todas as outras”.

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