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Abortar minha filha transformou minha vida em um inferno

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SIAME - publicado em 15/09/14
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O homem também sofre as consequências de um aborto, tanto no âmbito físico quanto no emocional e psicológico“Para minha querida anjinha: Lúcia, sei que você está em um bom lugar e que nesse lugar está Deus também. Ele vai cuidar de você até eu chegar aí. Enquanto isso, comporte-se bem. Logo estarei com você. Sérgio, seu pai.”
 
Estas linhas são um fragmento de uma carta escrita por um homem que, em um momento de confusão e medo, apoiou sua namorada para cometer um aborto e acabar com o “problema”: o nascimento do seu primeiro filho. O que ele nunca imaginou foi que essa falsa saída seria o início de uma tormentosa agonia, que o conduziria a um doloroso caminho, marcado pela culpa, pela solidão e pelo arrependimento.
 
Sérgio cresceu em uma família unida, com valores e apoiada na religião, mas, ao ficar sabendo que sua namorada estava grávida, pareceu-lhe fácil aceitar os serviços do sistema público de saúde do Distrito Federam para abortar legalmente: “Eu tinha planos de vida, e um filho naquele momento não era uma opção”.
 
E os homens?
 
A terapeuta Bertina Morales, do Instituto para a Reabilitação da Mulher e da Família (IRMA), afirma que é frequente pensar no aborto como um assunto exclusivo da mulher; no entanto, com o passar do tempo, o homem também sofre as consequências, tanto de natureza física quanto emocional e psicológica.
 
“Os efeitos colaterais, muitas vezes definitivos, se refletem em sentimento de culpa, depressão, frustração e um estado de vazio interior. Em geral, os homens não costumam falar disso, nem sequer com suas parceiras, por medo de que isso seja interpretado como sinal de fraqueza, mas sofrem em silêncio”, explicou.
 
Acrescentou que os homens reagem de maneira diferente diante de um aborto: alguns se opõem de maneira violenta; outros se opõem, mas tomam sérias medidas para impedi-lo; existem também os que parecem ser neutros e deixam a decisão à mulher; os que pressionam a mulher para abortar; e os que não são levados em consideração e só descobrem quando tudo já passou. Tudo isso será determinante nos efeitos posteriores.
 
No caso do Sérgio, os sentimentos de culpa começaram quando os remédios que deram à sua namorada lhe provocaram um sangramento forte, razão pela qual ele teve de levá-la às pressas ao hospital novamente, e comunicar seus familiares sobre o ocorrido.
 
“Durante o processo que vivi no hospital, nunca me informaram o que poderia acontecer devido a um aborto”, contou.
 
Apenas uma semana após o aborto, a vida do Sérgio se tornou um inferno: “Perdi a autoestima, a confiança em mim mesmo, já não queria fazer nada. Foi um inferno”. Ele teve de enfrentar tudo isso sozinho, pois perdeu sua família, amigos, emprego e, como muita gente ficou sabendo, ele já não saía na rua sem um boné, “porque não queria que me reconhecessem”.
 
“Eu não estava bem, nem comigo nem com Deus. Foi quando decidi buscar ajuda e assim cheguei ao IRMA, onde me ajudaram a encontrar o caminho do perdão e a valorizar a vida.”
 
Ele conta que parte da sua cura se deu durante uma Hora Santa, quando estava diante de Jesus sacramentado, e orou pela sua filha. Isso lhe deu forças e lhe permitiu, durante a terapia, colocar sua filha nas mãos de Deus; deu-lhe o nome de Lúcia, porque gostaria que fosse uma menina.
 
Aos homens que sofrem as consequências do aborto, Sérgio diz: “Vale a pena chorar para colocar para fora a dor interior; procurem ajuda, porque isso é algo que nos corrói por dentro e não nos deixa viver em paz, e pode afetar a relação de casal, a família, a vida espiritual”.
 
(Artigo publicado originalmente por SIAME)