É verdade que somos cidadãos do céu, mas também somos guardiões da criação e temos deveres concretos aqui na terraO cristão não pertence a este mundo, mas vive no meio dele e deve transformá-lo positivamente em todos os sentidos. Afinal, Deus confiou a gestão do mundo à humanidade e esta missão deve ser levada a sério por qualquer pessoa que acredita no Criador e na missão recebida dele.
É neste contexto que podemos entender, por exemplo, a mensagem da encíclica Laudato Si’, recentemente publicada pelo papa Francisco a respeito dos “cuidados da casa comum”, ou seja, do planeta. O Santo Padre reflete sobre a chamada “ecologia humana” e a postura que devemos adotar em relação à vida humana como um todo, o que inclui a equilibrada interação entre as pessoas e sociedades e a sua relação saudável com todos os recursos oferecidos pela natureza.
Muitas têm sido as iniciativas do mundo católico para aprofundar no entendimento e na aplicação prática desta mensagem. Uma dessas iniciativas foi posta em prática nos últimos dias pelo movimento Comunhão e Libertação, que organiza todos os anos, na cidade italiana de Rímini, o “Encontro para a Amizade entre os Povos”, bastante conhecido na Itália como o “Meeting de Rímini”. Este evento propõe discussões e reflexões não apenas sobre temas religiosos, mas também sobre questões culturais, políticas, artísticas, científicas, sociais, mediante palestras, debates, exposições, música, teatro, esportes e laboratórios diversos. O encontro acontece desde 1980, sempre na segunda metade de agosto, e dura uma semana. O de 2015 aconteceu de 22 a 28 de agosto.
Entre os temas em destaque nesta edição, o encontro procurou abordar questões levantadas pelo papa Francisco na Laudato Si’, como a sustentabilidade da vida nas cidades, em particular no tocante à mobilidade urbana.
Diversos aspectos desta questão, muito em voga em todo o planeta, foram apresentados e discutidos por convidados especiais, como Michele Mario Elia, da companhia estatal italiana de transportes ferroviários, e Carlo Tamburi, de uma companhia italiana de distribuição de energia elétrica. Eles falaram do desafio de expandir as redes ferroviárias, em particular as de alta velocidade, e de investir no transporte local, que deve utilizar de modo integrado e inteligente os veículos públicos, dando-lhes prioridade, e também os meios particulares de locomoção, com destaque para os carros elétricos e para as modalidades não motorizadas.
A organização do debate sobre mobilidade urbana sustentável divulgou uma proposta com 15 objetivos para a Itália, que são interessantes para qualquer outro país e que revelam, ainda, o quanto a realidade concreta do dia-a-dia deve fazer parte dos esforços transformadores a ser empreendidos por todo cristão consciente de ser guardião da criação:
1) Implantar um Plano Estratégico Nacional de Mobilidade Urbana Sustentável como referência para as regiões e cidades;
2) Integrar e simplificar as políticas de mobilidade, com foco na eficiência e na racionalização dos custos;
3) Implantar Planos Urbanos de Mobilidade Sustentável em todas as regiões metropolitanas e cidades com mais de 100.000 habitantes;
4) Priorizar as pessoas em vez dos veículos, incentivando o tráfego de pedestres, a bicicleta e o transporte coletivo;
5) Integrar os modais;
6) Aumentar os espaços reservados ao transporte não motorizado, como calçadões e redes de ciclovias;
7) Encorajar a mobilidade compartilhada;
8) Incentivar o uso de veículos elétricos;
9) Reorganizar a logística do transporte de mercadorias;
10) Garantir aos usuários com mobilidade reduzida o pleno acesso aos meios de transporte;
11) Aplicar as receitas oriundas de pedágios em projetos de mobilidade sustentável;
12) Aplicar as taxas veiculares no uso democrático dos espaços públicos;
13) Criar cursos de gestão da mobilidade para envolver e preparar as novas gerações;
14) Promover novas tecnologias de informação ligadas à mobilidade e à integração entre transporte público, veículos particulares e meios de locomoção não motorizados;
15) Educar a opinião pública para acolher medidas “impopulares”, mas necessárias para a qualidade de vida urbana e para o desenvolvimento sustentável.