Primeiro, a “revelação”; depois, a “conversão” de Eric-Emmanuel SchmittPara ele, o encontro com Deus foi imprevisto e imprevisível. Ele era ateu, filho de pais incrédulos, leitor de Diderot e dos iluministas do século XVIII.
Eric-Emmanuel Schmitt, filósofo de formação, dramaturgo de nascimento, escritor prolífico e diretor de cinema é uma das figuras culturais francesas mais conhecidas internacionalmente. Ele contou ao jornal italiano Avvenire (6 de outubro) a história da sua conversão, numa noite de 1989, em pleno deserto de Hoggar, no Saara.
O extraordinário dom de Deus
Schmitt se perdeu da sua comitiva e passou a noite sozinho. Foi assim que aconteceu o encontro com Deus. “Dizer que uma pessoa se converteu é dizer que ela fez uma escolha ativa e voluntária. Devo admitir que isto não representa exatamente o que eu vivi naquela noite no deserto. O que eu recebi foi uma graça e um dom extraordinário. E abri em mim todo o lugar e espaço possível para esse dom. Por isso, quando me chamam de ‘convertido’, eu prefiro ser definido como alguém que recebeu uma revelação”.
“Eu recebi uma revelação”
Esta é “a expressão que me caracteriza melhor, porque ela fala da surpresa do presente que eu recebi. Eu não estava à procura de Deus, nem sabia que Deus estava à minha procura. Recebi como presente algo que eu não estava buscando. Esta revelação, para mim, foi apenas o começo”.
O estudo do Evangelho
Quando voltou à França, o dramaturgo passou a ler vários poetas místicos de diversas religiões. “Após aquela revelação, eu percorri um caminho de descoberta do Evangelho. E houve um trabalho muito ativo da minha parte para entender esse texto cheio de contradições. Nisto eu posso dizer que experimentei uma conversão. Em síntese, portanto: no deserto, uma revelação; com o Evangelho, uma conversão”.
Seguindo os passos de Foucauld
Deve ser coincidência, mas a história dessa revelação é muito similar à que aconteceu com o explorador francês Charles de Foucauld, outro famoso convertido, depois do encontro com Deus no coração do Saara. A partir daquele momento, tornando-se eremita, Foucauld deu início a um grande trabalho de evangelização daquelas terras. “A sua força”, explica Schmitt, “estava em não tentar cristianizar à forçar aquelas pessoas, mas em testemunhar o Evangelho com o exemplo da própria vida. Foi assim que Cristo mesmo fez em seu tempo”.