Convencer os jovens a reconhecerem suas culpas não é uma tarefa fácil Durante a Missa, ao rezarmos a oração “Confesso a Deus Todo-Poderoso…”, batemos em nosso peito, por três vezes, e afirmamos que nós pecamos “muitas vezes, em pensamentos, atos, obras e omissões”.
Vamos pensar nas palavras e no gesto de “bater o peito”. O peito é o símbolo do coração, origem das ações boas e más. De fato, Jesus disse: “É de dentro do coração do homem que saem as más intenções, como a imoralidade, os roubos, crimes e adultérios, as ambições sem limites, maldades e malícias, a devassidão, inveja e calúnia, o orgulho e a falta de juízo. Todas essas coisas saem de dentro da pessoa, e são elas que a tornam impura” (Marcos 7,21-23). Nesse sentido, “bater o peito” significa “quebrar” aquele coração do qual saiu o mal na nossa vida; naturalmente, isso é possível, para nós cristãos, com a ajuda da Graça de Deus. Se, no entanto, compararmos essas palavras e o gesto que acompanha a oração “Confesso a Deus Todo-Poderoso” com a nossa vida, perceberemos que fica mais fácil “bater o peito… dos outros”, reconhecer os pecados dos outros do que os nossos. A esse respeito, Jesus uma vez disse: “Por que você fica olhando o cisco no olho do seu irmão, e não presta atenção à trave que está no seu próprio olho?” (Mateus 7,3). O apóstolo João escreve: “Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e não há verdade em nós” (1 Carta de João 1,8).
No fundo, nosso orgulho acaba nos tornando “cegos” diante das nossas faltas. E a confissão é um momento no qual recuperamos “a coragem da verdade”. Antes de tudo: “Confesso a Deus Todo-Poderoso”. Começamos a nos colocar diante d’Ele. Só Ele conhece, na mais profunda realidade, o bem e o mal que está dentro de nós. Nesse sentido, o apóstolo Paulo escrevia: “Quanto a mim, pouco me importa ser julgado por vocês ou por qualquer tribunal humano, nem eu julgo a mim mesmo. É verdade que a minha consciência de nada me acusa, mas isso não significa que eu seja inocente: quem me julga é o Senhor” (1 Carta aos Coríntios 4,3-4).
Começamos a dizer para Ele: “Pai Querido, Justo e Misericordioso, somente Vós conheceis o bem e o mal que está dentro de mim”. Mesmo assim, todos os homens distinguem entre “bem e mal”, “moral e imoral”, “ético e antiético”. Além disso, nós cristãos recebemos “luzes” da Palavra de Deus, proclamada na fé da Igreja, para que nossa consciência seja sempre mais iluminada.
Os adolescentes e a confissão
Até agora não falei nada dos “adolescentes”. Então, o que tem a ver a reflexão apresentada com os adolescentes?
Antes de tudo, a palavra “adolescente” provém do termo latino “adolescere”, que significa “crescer”. Adolescente é aquele que está crescendo. Não é mais criança e ainda não se tornou adulto. É chamado a responder, de maneira muito significativa, às duas perguntas fundamentais da vida humana: Quem sou eu? O que vou fazer da minha vida? Pelas respostas que forem dadas a essas duas perguntas, durante a adolescência, a vida inteira ficará marcada.
A procura de “quem sou eu” leva, frequentemente, o adolescente a desenvolver o espírito de independência e liberdade: ele não é mais uma criança que precisa ser continuamente guiada, mas ainda não é adulto, por isso, é imaturo e manifesta-se, frequentemente, com brusquidão e agressividade.
Nessa situação específica, a vontade de ser independente e livre, e a situação de uma maturidade ainda não atingida, poderia levar o adolescente a não reconhecer os próprios limites, os próprios erros e a ser extremamente crítico com as atitudes dos adultos: no fundo, dos outros.
Independência e liberdade
Se esse adolescente for um cristão-católico, cuja religião oferece a oportunidade de confessar-se, reconhecendo os próprios erros e os próprios limites, a atitude de “independência e liberdade” com si mesmo e de crítica ao mundo dos adultos, como também a situação de imaturidade, podem se tornar uma dificuldade para conseguir “reconhecer os próprios erros” diante de um padre que, no fundo, acaba representando o “mundo dos adultos” que ele critica.
Não podemos nos esquecer, contudo, de que a adolescência é uma fase de crise e oportunidade ao mesmo tempo.
No fundo, o adolescente se encontra, nesse sentido, numa situação mais fácil que aquela do adulto que, na sua vida, particularmente na adolescência, não “cresceu”. Se ele não se acostumou, quando adolescente, a reconhecer os próprios erros, quando ele for adulto, será bem mais difícil chegar a tal atitude.
Mensagem do Papa Francisco
Na sua recente (dia 1º de outubro 2017) viagem a Bolonha (Itália), Papa Francisco assim se expressou: “É o arrependimento que permite não se enrijecer, a transformar os ‘nãos’ a Deus em ‘sim’, e o ‘sim’ ao pecado em ‘não’, por amor ao Senhor. A vontade do Pai, que a cada dia delicadamente fala à nossa consciência, realiza-se somente na forma de arrependimento e conversão contínua. Não são os raciocínios que justificam e tentam salvar as aparências, mas um coração que avança com o Senhor, luta a cada dia, arrepende-se e retorna para Ele, porque o Senhor busca os puros de coração”.
Papa Francisco falou assim para todo mundo: crianças, adolescentes, jovens e adultos. Mas o adolescente se encontra numa fase “oportuna” da vida, para, repetindo as palavras do Papa, “manifestar o arrependimento que permite não se enrijecer, transformar os ‘nãos’ a Deus em ‘sim’, e os ‘sim’ ao pecado em ‘não’, por amor ao Senhor”.
Por Lino Rampazzo, via Canção Nova