De 10 em 10 anos, ele poderia comunicar-se com o superior durante um máximo de 10 segundosUm jovem acomodado, mas insatisfeito com o seu mundinho fútil e desregrado, decidiu largar tudo e entrar num mosteiro de intensa vida contemplativa e rígido silêncio absoluto.
No primeiro dia, o prior lhe explicou uma das regras disciplinares mais importantes da comunidade: ele não poderia falar absolutamente nada, com ninguém – só com Deus. Haveria unicamente uma exceção: de 10 em 10 anos, ele poderia comunicar-se com o prior durante um máximo de 10 segundos.
Passados 10 anos de completo silêncio, o prior indicou que o monge poderia falar com ele durante 10 segundos. O monge então comentou:
“Padre, tenho fome”.
Exortado a oferecer o jejum em sacrifício a Deus, ele retomou os estudos e o trabalho em silêncio absoluto.
Passados outros 10 anos de silêncio profundo e inquebrantável, o prior voltou a indicar ao monge que ele poderia falar durante mais 10 segundos. O monge disse então:
“Padre, tenho frio”.
Convidado a abraçar de coração a abnegação e a disciplina da vontade, o monge retomou o seu intensamente silencioso trabalho e estudo.
Mais 10 anos se passaram e, conforme a tradição, o prior chamou o monge para lhe falar durante os 10 segundos autorizados para aquela década. E o monge declarou:
“Padre, eu desisto!”
O prior balançou a cabeça e respondeu:
“Eu sabia que isso acabaria acontecendo. Nos últimos 30 anos, só ouvi você reclamar!”
* * *
Piadas à parte, a vocação à vida contemplativa pode mesmo parecer “absurda” para muita gente em nossa sociedade doente de barulho e caos. Não é, certamente, uma vocação comum – mas sabemos que “o Espírito sopra onde quer”, e entender um pouco mais dessa vocação misteriosa e intrigante pode nos revelar maravilhas sobre o chamado de Deus à alma. Uma das ordens religiosas que mais prezam o silêncio contemplativo é a dos cartuxos, cujos mil anos de existência continuam despertando assombro e fascínio:
Cartuxos: a fascinante ordem religiosa mais austera e silenciosa do mundo