Asia Bibi foi presa por “blasfêmia” em 19 de junho de 2009: ela reagiu quando muçulmanas a acusaram de contaminar um poço após beber água (!)
A “blasfêmia” de beber água como cristã
Era 14 de junho de 2009. Asia Bibi, esposa católica, mãe de cinco filhos, bebeu água de um poço em seu vilarejo no Paquistão. Foi o suficiente para que um grupo de muçulmanas da localidade a acusassem de ter “contaminado a água”… pelo fato de ser cristã (!)
Ela respondeu a esses insultos contra a sua fé questionando:
“Eu acredito na minha religião e em Jesus Cristo, que morreu na cruz pelos pecados da humanidade. O que seu profeta Maomé fez para salvar a humanidade?”
Esta pergunta foi a sua sentença de morte. Segundo a famigerada “lei da blasfêmia”, vigente no país oficialmente islâmico, ela afrontou o profeta e, com isto, incorreu numa blasfêmia cuja pena seria o enforcamento.
Por esse “crime”, a mãe de família foi presa, sumariamente, em 19 de junho de 2009.
Devastadoras 3.285 noites, sem saber o dia nem a hora
Um ano depois da prisão, Asia Bibi ouviu a sentença que lhe fora imputada pela acusação de blasfêmia: a execução capital.
Desde 2013, após duas transferências de presídio, ela fenece em uma das três celas sem janelas do corredor da morte de Multan, no Punjab, sem saber o dia nem a hora em que podem chamá-la para ser assassinada. Desde a data da sua arbitrária prisão, passaram-se 9 anos – ou 3.285 dias e noites de angústia, solidão e terror que não somos capazes de imaginar.
A acusação de “ter blasfemado contra o islã” foi mundialmente questionada e, desde antes que Asia Bibi fosse condenada à morte, começou a batalha legal para salvá-la. Porém, as principais autoridades paquistanesas que agiram pela sua libertação foram assassinadas: Shabahz Bhatti, líder católico e ministro das Minorias, e Saalman Taser, governador do Estado do Punjab. Em outubro de 2016, o julgamento final de Asia Bibi foi adiado porque um juiz se recusou a intervir no caso. Em novembro de 2017, mais de três mil muçulmanos protestaram durante vários dias nas ruas de Islamabad, a capital do Paquistão, para exigir que o governo executasse a condenada “blasfema”.
Em 2014, o Tribunal Supremo do Paquistão adiou o julgamento de um recurso porque 150 especialistas na “lei islâmica”, os muftis, simplesmente ameaçaram de morte qualquer um que viesse a ajudar os “blasfemos” do país. A partir daí, o caso não avançou nenhuma vírgula, apesar de que, em abril de 2018, o presidente do Tribunal Supremo, Mian Saqib Nisar, anunciou que retomaria o julgamento que poderia finalmente definir a libertação da ré.
A família de Asia Bibi vive como se ainda corressem tempos de catacumbas – e, no Paquistão, ainda são esses os tempos que correm para os cristãos. As únicas coisas que se ficam sabendo sobre Asia Bibi e sua família são as que vêm do seu advogado, o muçulmano Saif ul Maluk. Ele conta que a cliente está bem e ainda mantém a esperança da libertação.
A fé de Asia Bibi se recusa a ser enforcada
Ao longo desses 3.285 dias e noites no inferno, Asia Bibi não parou de rezar nem de pedir orações.
A mulher cristã que se tornou um ícone para todos os que lutam no Paquistão e no mundo contra a violência em nome da religião compôs uma oração por ocasião da Páscoa. Esta prece a acompanha em seu cativeiro:
Senhor Ressuscitado, permite que a tua filha Asia ressuscite contigo.
Rompe as minhas correntes, liberta o meu coração para além destas barras e acompanha a minha alma, para estar perto das pessoas que eu amo e sempre perto de ti.
Não me abandones no dia do tormento, não me prives da tua presença. Tu, que sofreste a tortura e a cruz, alivia o meu sofrimento. Sustenta-me perto de ti, Senhor Jesus.
No dia da tua ressurreição, Jesus, eu quero orar pelos meus inimigos, por aqueles que me feriram. Rezo por eles e te peço que os perdoes pelo mal que me fizeram.
Peço-te, Senhor, que retires todas as barreiras, para que eu alcance a bênção da liberdade. Peço-te proteção para mim e para a minha família.
Já se vão 9 intermináveis anos de sofrimento, angústia e esperanças quase sufocadas, mas mantenhamos a nossa oração acesa e os nossos atos de apoio vivos, porque, rezando por ela e dando-lhe apoio, estamos rezando e apoiando todos os cristãos perseguidos mundo afora, martirizados por sacrifícios que sequer conseguiremos algum dia imaginar.