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Se você convive com um paciente de Alzheimer, não fique com raiva dele

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Dolors Massot - publicado em 13/09/18
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Conselhos de uma filha que cuida do pai doente Faz pouco mais de 11 anos que o meu pai foi diagnosticado com Alzheimer. Foi quase que por acaso, pois quem ia se consultar era a minha mãe. No entanto, o médico notou algo diferente em meu pai e pediu para conversar com ele durante um momento. Na saída, sugeriu que o levássemos a um especialista. De lá pra cá, meu pai e toda a minha família vive o Alzheimer. Digo toda a família porque não é só o enfermo que sofre, mas sim todos ao redor dele. 

Quando recebemos o diagnóstico, tivemos que tomar decisões, fazer mudanças, aceitar as limitações e negociar com cada um, para que todos colaborassem da melhor forma. Mas também tivemos que reconhecer os limites individuais.


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O mal de Alzheimer revela toda a limitação da natureza humana. A Ciência diz que os nossos neurônios e o nosso organismo envelhecem. Porém, com o Alzheimer, eles envelhecem de uma forma irreparável. 

É importante ouvir os médicos e estar a par das novidades da Medicina. Mas creio também que é essencial aprender a conviver com o paciente de Alzheimer. 

Por isso, permitam-me algumas reflexões, que são frutos da experiência na minha casa, com a minha família. Lá vão:

  • Se você mora com um paciente de Alzheimer, não fique com raiva dele;
  • Se o paciente é seu pai ou sua mãe e você sabe que, antes, ele ou ela entendia quando você explicava as coisas e agora faz cara de estranheza, não fique com raiva dele ou dela; 
  • Se ele ou ela acaba de te perguntar uma coisa e pergunta novamente, não fique com raiva;
  • Se ele ou ela faz xixi na cama quando você acabou de trocar o lençol, não fique com raiva;
  • Se você ficou duas horas procurando as chaves de casa ou do carro porque ele ou ela não lembra onde deixou, não fique com raiva;
  • Se são três horas da manhã e você acordou assustado porque a pessoa com Alzheimer está fazendo barulhos na cozinha ou assistindo TV, não fique com raiva;
  • Se um dia ele ou ela não conseguir mais engolir a comida e colocar tudo para fora, não fique com raiva;
  • Se ele ou ela te olha fixamente, perguntando mil vezes quem você é, não fique com raiva;

Enfim, reconheça que você mora com uma pessoa doente, que não pediu que os neurônios dela fossem se apagando.

Decida amar esta pessoa, porque ela merece ser amada. Ela te deu a vida, cuidou de você, ela é a sua família… Aceite que é a doença que toma as rédeas, mas é você que pode fazer com que esta última etapa da vida seja um inferno para você e para o doente ou um episódio de gratidão sem fim para ambas as partes. 

Enfrente o Alzheimer como um desafio. Os triatletas são honrosamente premiados. Porém, ser cuidador de um enfermo de Alzheimer é cem vezes mais merecedor. 



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Seja humilde e aceite ajuda quando for necessário. Aprenda a descansar para poder cuidar. Esta não é uma corrida dos 100 metros rasos; pode ser que seja uma maratona (ou algo mais). 

Trabalhem em equipe: seus pais, seus irmãos, seus primos, os cuidadores externos, os amigos… A dor compartilhada é menos dolorida. 

Nunca diga “é o que temos” ou “não podemos fazer nada”. Todo dia haverá o que você quiser que haja: bom humor, mudanças de plano…Isso depende do sentido que você dá ao que está fazendo. Conte com Deus em cada uma destas jornadas; estou segura de que quem cuidou de alguém com Alzheimer não está muito longe da santidade… 


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Se o doente acredita, ajude-o a encarar a enfermidade de acordo com o seu modo de entender a vida e praticar a fé. Talvez ele possa receber os sacramentos ou fazer orações. Quando não puder mais falar, ele poderá ouvir as preces que você faz em voz alta. Você vai notar que ele se lembrará das orações que ele rezava desde pequeno. 

Aprenda mais sobre o Alzheimer. Você observa a doença tanto ou mais que alguém que está diante de um microscópio. Acompanhe seus avanços. Participe de alguma associação para compartilhar seus conhecimentos. Você também pode ser voluntário em algum estudo científico.

 Lembre-se de que o enfermo não é você. É o outro que passa pelo pior. Ajude-o a percorrer o caminho da doença como ele gostaria que fosse feito se ele estivesse consciente de cada passo. 

Não fique com raiva de alguém que tenha Alzheimer. Pelo contrário: pergunte-se se você está fazendo tudo o que está em suas mãos. Você pode fazer mais do que imagina. E, certamente, a gratidão vai chegar – mais cedo ou mais tarde. As pessoas chamam isso de karma; eu chamo de Providência. 


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