São quatro aspectos que, desde a nossa infância, tornam essa data tão especial A meu ver, existem quatro alegrias principais do Natal; quatro aspectos que, desde a nossa infância, tornam essa data tão especial em nossa mente.
Essas quatro alegrias são os principais temas das canções de Natal e os quatro principais assuntos da arte natalina, além das quatro características que distinguem o Natal de outras celebrações.
A primeira delas é a alegria de estar em casa.
Há uma frase enigmática de uma música popular moderna que sempre me chama a atenção: “There are just some moments when your family makes sense. They just make sense”, canta Dar Williams [“Há alguns momentos em que a sua família faz sentido. Simplesmente faz sentido”].
A cantora parece não saber direito que palavras usar, mas eu acho que entendo perfeitamente o que ela quer dizer. E o Natal nos oferece muitos desses momentos em família que “simplesmente fazem sentido”.
Um momento da minha infância que me acompanhou ao longo das décadas foi uma vez em que o meu pai colocou no toca-discos um álbum natalino. Minha mãe cantava junto. Eu estava deitado embaixo do pinheiro de Natal da sala e olhava para cima, através dos ramos. Ainda me lembro do cheiro da árvore, das luzes cintilantes e da profunda paz que brotava daquela harmonia familiar.
Leia também::
HolyArt: Luzes de Natal
Quando estamos todos juntos e felizes, com o brilho das luzes de Natal ao nosso redor, entendemos o que a vida quer dizer. Ela “simplesmente faz sentido”.
O padre jesuíta Robert Spitzer identifica o nosso “senso de lar” com o nosso anseio pelo “absoluto ato de ser”. Ele diz que os seres humanos “não querem apenas ‘estar em casa’ no sentido de ambiente particular; os seres humanos querem ‘estar em casa’ de modo pleno, no sentido de cosmos”. Ele diz que o nosso “senso de lar” é o nosso desejo de viver na grandiosidade de Deus.
Não é de admirar que o Natal nos traga com tanta intensidade o “senso de lar”: afinal, quem está no centro desta data é a Sagrada Família, na qual Deus quis fazer morada em meio aos humanos. E aquilo que é verdadeiro no Natal é verdadeiro durante o ano todo: a oração e a fé criam uma sensação mais intensa de lar em qualquer época.
A segunda alegria do Natal é a de dar presentes.
Minha lembrança mais terrível do Natal é do ano em que eu dei à minha mãe uma lata gigante de suco em pó. Eu tinha 7 anos e achava que aquele seria um presente maravilhoso, além de caber nos limites da minha mesada. Nunca pensei que ela pudesse não achar o suco em pó tão delicioso quanto eu achava. Na hora em que ela desembrulhou o presente, meus irmãos reagiram instantaneamente dizendo que mamãe nunca tinha bebido aquilo e me acusando de comprá-lo para mim mesmo. Eu fiquei mortificado e, desde então, tenho tido o cuidado de comprar presentes melhores.
É uma sensação extraordinária a de dar o presente certo para alguém: é gratificante ver a pessoa feliz e saber que você conseguiu fazê-la feliz.
Quando alguém está infeliz, dizem os psicólogos, a melhor maneira de ficar feliz é fazer algo pelos outros. Jesus disse a mesma coisa: “Quem quiser salvar a sua vida a perderá, mas quem perder a sua vida por minha causa a encontrará”.
São João Paulo II chamou isso de “lei do presente”, aplicável durante o ano inteiro: podemos encontrar alegria ao presentear um pouco do nosso tempo, do nosso dinheiro e de nós mesmos aos outros. A doação não nos diminui: ele nos completa.
A terceira alegria do Natal é a vida de Cristo.
Quando eu era criança, ficava olhando para o presépio durante longos e longos momentos. Tudo nele era profundamente tocante: a pobreza e a majestade, o grande contraste entre os animais e os anjos, os pastores e os magos, a palha e o Filho de Deus.
É claro que a contemplação de Cristo não pode ficar limitada ao Natal: o Evangelho é sempre novo.
A descrição de J.R.R. Tolkien sobre a Eucaristia, em uma carta enviada ao seu filho, diz: “Na escuridão da minha vida, tão cheia de frustrações, eu coloco diante de você o que há de maior na terra para amarmos: o Santíssimo Sacramento. Nele você vai encontrar a glória, a honra, a fidelidade e o verdadeiro caminho de todos os seus amores na terra, e ainda mais do que isso”.
Toda missa é um Belém e cada tabernáculo é uma manjedoura. Tudo o que temos que fazer para contemplar Jesus é sentar-nos e olhar.
A quarta alegria do Natal: receber presentes.
Eu diria, quase com certeza, que os presentes embaixo da árvore de Natal são o símbolo natalino mais forte da minha infância.
Sim, o egoísmo e a mercantilização do Natal são uma coisa feia, terrível. Mas também existe algo de extremamente belo no gesto de dar presentes na manhã de Natal.
Meus pais nunca compraram para mim e para os meus irmãos as coisas que nós pedíamos: eu nunca tive os brinquedos da moda, anunciados nas propagandas da televisão. Mas ainda me lembro da emoção de descobrir presentes inesperados dentro dos pacotes na manhã de Natal…
Há outro ensinamento relevante de São João Paulo II sobre os presentes de Natal: além da “lei do presente”, ele nos fala da centralidade da receptividade. Esta é a dimensão mariana da vocação cristã. O que nós somos é apenas o que estamos dispostos a receber de Deus.
Em seu comentário sobre o Evangelho de Mateus, Erasmo Leiva-Merikakis retraduz a primeira bem-aventurança, aquela que diz “Bem-aventurados os pobres de espírito”. Ele interpreta o texto em grego como “Felizes aqueles que imploram pelo próprio ar que respiram!”.
O gesto de receber os presentes de Natal simboliza a pobreza de espírito: o verdadeiro cristão é aquele que encara cada dia como uma manhã de Natal, como uma surpreendente manifestação do presente da vida, dos presentes que nunca paramos de ganhar, o tempo todo.
Estas são, para mim, as quatro alegrias do Natal; os assuntos principais das histórias e das canções de Natal. Em suma, o dia de Natal resume a Boa Nova do Evangelho: Jesus Cristo resolveu morar entre nós, encheu a sua casa de coisas boas e nos convidou a morar com Ele.