É um medo que muitas mulheres têm depois de perder um bebê, mas há uma maneira de passar por issoÉ um medo que toda mãe experimenta, mas mães que já passaram por um aborto espontâneo sentem isso de forma dilacerante: e se eu abortar? Não só isso, o que é horrível o suficiente, mas pior: “e se eu abortar e a culpa for minha?”.
Eu não estou nem mesmo grávida de novo ainda, e o medo ainda vem à minha mente toda vez que eu antecipo, com alegria, o dia em que começaremos a tentar conceber novamente. Meu medo olha para o futuro e volta ao passado também.
Eu tive um aborto espontâneo há dois anos, bem antes do fim do primeiro trimestre. Ainda me pergunto se foi algo que eu fiz. Eu repasso todos os minutos daquelas semanas. Foi algo que eu comi? Eu estava muito estressada? Eu deveria ter feito meu pré-natal de alguma outra forma? Eu esqueci alguma coisa?
Mesmo que todo médico me diga que abortos espontâneos são extremamente comuns e geralmente inevitáveis, eu também fui bombardeada com mensagens opostas. Durante semanas, tudo o que você ouve é como cada escolha que você faz tem um efeito profundo na vida e no desenvolvimento de seu filho. Isto é, até o dia em que você tiver um aborto espontâneo e, de repente, todo mundo dá uma reviravolta total. “Não é sua culpa! Apenas não poderia ser!”.
O que devemos fazer com isso? Depois de toda a intensidade das orientações, de repente devemos nos consolar com o fato de que alguém nos diga simplesmente que não foi nossa culpa?
Não admira que esse fardo da vergonha seja tão comum. Não admira que seja tão difícil falar sobre isso. Eu mencionei meus próprios medos incômodos, e eles sempre depararam com a positividade apressada: “De jeito nenhum foi você. Não se culpe”.
Eu sei, em algum nível, que eles provavelmente estão certos. Mas – e se não estiverem? Então eu tento ouvir as palavras reconfortantes, mas isso realmente não me ajuda. Se eu soubesse que era culpada, poderia falar sobre isso, mas, para o bem ou para o mal, não sei de nada e nunca saberei.
Se nós, como sociedade, queremos ajudar a aliviar o fardo sufocante da vergonha que uma mulher sente logo após o aborto espontâneo, então precisamos mudar a forma como falamos com as mulheres grávidas antes que elas abortem. Precisamos parar de dizer a elas que, se fizerem tudo certo, tudo ficará bem. Precisamos parar de fingir que é possível fazer tudo certo.
Claro que as mulheres grávidas estão tentando fazer as melhores escolhas possíveis. Claro que nos importamos com o que entra em nossos corpos. Estamos dispostos a fazer todos os tipos de sacrifícios para manter nossos bebês seguros. Isso não está em questão.
O que o mundo precisa é parar de dizer às mulheres grávidas que, se minimizarmos todos os riscos possíveis, tomarmos todas as precauções concebíveis, estudarmos toda a literatura disponível, pesarmos todas as opções, prepararmo-nos para qualquer eventualidade, isso garantirá que daremos à luz o bebê que estamos carregando.
Quando damos à luz, aprendemos muito rápido que não existe mãe perfeita. Nós começamos a perceber que não importa o quanto nós agonizemos, às vezes temos de escolher o que parece ser a melhor escolha, e seguir em frente. Se aplicássemos essa sabedoria à gravidez e não apenas aos pais, isso poderia nos poupar muita mágoa.