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Por que há pessoas que sentem “presenças-fantasma”, segundo a ciência e a Igreja

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Reportagem local - publicado em 19/08/19
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“As pessoas que experimentam este fenômeno afirmam que ‘sentem’ alguém, embora não consigam ‘ver’ ninguém”. Isso pode ser real?Fantasmas existem? A ciência tem alguma explicação para quem afirma tê-los “visto” ou “sentido”? E a Igreja, o que afirma a esse respeito?

O que diz a ciência

Um estudo divulgado em 2014 pela publicação científica Current Biology identificou áreas do cérebro responsáveis pela sensação de “presenças-fantasma“.

A sensação, relatada com relativa frequência por muita gente mundo afora, foi estudada pela equipe do cientista Giulio Rognini, do Instituto Federal de Tecnologia da Suíça. O próprio pesquisador comenta que a sensação em questão é sempre “muito real”: as pessoas que a experimentam afirmam que “sentem” alguém, embora não consigam ver ninguém. Sempre é uma presença “sentida”, ressalta o cientista, e não uma presença “vista”.

De acordo com o estudo, a experiência de sentir a presença de alguém que não existe foi relatada por pacientes que apresentaram algum tipo de disfunção nas regiões do cérebro associadas à autoconsciência, aos movimentos e à posição do corpo no espaço. Rognini acrescentou que a sensação é mais comum em pessoas que estão passando por situações extremas, como montanhistas, ou em pacientes com determinadas condições neurológicas.

“Eles relatam frequentemente que os movimentos que estão fazendo são ‘imitados’ pela presença-fantasma. Se o paciente está sentado, eles sentem que o fantasma está sentado. Se estão de pé, o fantasma também está de pé, e assim por diante”.

Em um dos testes, todas as 12 pessoas examinadas apresentavam algum tipo de distúrbio neurológico. Em outros, foram avaliados 48 voluntários saudáveis e sem qualquer experiência “paranormal” prévia: para eles, foi desenvolvido um experimento voltado a alterar os sinais neurais nas mesmas regiões do cérebro que apresentavam disfunção no caso das pessoas com distúrbios neurológicos.

Os pesquisadores pediram que os 48 voluntários manipulassem um robô com as mãos. Enquanto isso, outro robô era posicionado atrás deles para imitar esses movimentos. Quando os movimentos ocorriam ao mesmo tempo, os voluntários não relatavam nada de estranho, mas quando havia algum atraso, 33% dos voluntários relataram a sensação de “presença-fantasma” na sala. Dois participantes se sentiram tão desconfortáveis que pediram para interromper o experimento.

Segundo os cientistas, as interações com os robôs alteraram temporariamente funções do cérebro nas áreas associadas com autoconsciência e percepção da posição dos corpos, levando à tese de que a “presença-fantasma” deriva de uma “confusão” do cérebro ao calcular mal a posição do próprio corpo e concluir que há outra pessoa presente, embora invisível.

Rognini resumiu:

“O nosso cérebro tem várias representações do nosso corpo no espaço. Em condições normais, ele consegue montar uma autopercepção unificada da pessoa por meio dessas representações. Mas quando o sistema não funciona direito por causa de alguma doença, ou, nesse caso, por causa de um robô, isso pode criar uma segunda representação de um mesmo corpo, que não é mais percebido como ‘eu’ e sim como outra pessoa, ou uma ‘presença-fantasma'”.

As descobertas foram consideradas úteis para o estudo de condições neurológicas como a esquizofrenia.

E o que diz a Igreja Católica

Na Igreja Católica não existe o conceito de “fantasma” tal como popularizado pela indústria do entretenimento ou por correntes religiosas e ocultistas diversas.

No entanto, a Igreja afirma claramente a existência de um mundo espiritual ao nosso redor. O conceito que existe na Igreja, portanto, é o de espírito“.

Mas há diversos “tipos” de espírito, a começar pelo próprio Deus, que é Espírito Puro. Segundo a doutrina católica, Deus criou outros seres que são espirituais:

ANJOS Os anjos são criaturas espirituais cuja existência é uma verdade de fé para todo católico. Há diversos episódios bíblicos, seja no Antigo, seja no Novo Testamento, em que anjos aparecem para trazer mensagens específicas voltadas a encorajar e aproximar alguém de Deus. Os anjos não tentam enganar nem assustar.

Aleteia tem várias matérias a respeito dos anjos. Você pode acessá-las aqui.

DEMÔNIOS – Também existem anjos maus, dos quais o Catecismo da Igreja Católica afirma: “Satanás ou Diabo e os outros demônios são anjos decaídos por terem livremente se recusado a servir a Deus e ao seu desígnio” (CIC 414). Os anjos maus, também chamados de demônios, são os que mais se aproximam das “caricaturas” apresentadas em reality shows paranormais e outras produções de entretenimento – e que costumam ser chamadas de “fantasmas”. Os relatos sobre esses fantasmas sempre giram em torno de algo assustador. De fato, é isso o que, segundo a doutrina católica, os anjos decaídos tentam fazer: assustar para enganar, gerando a sensação de serem poderosos para conquistar a nossa submissão, afastando-nos da confiança em Deus. A Igreja também reconhece a possibilidade das manifestações demoníacas em diversos graus, daí a existência de sacerdotes que são preparados para o ministério de exorcismo.

Aleteia tem diversos artigos a respeito de padres exorcistas e seus relatos. Você pode conferi-los acessando esta seção.

ESPÍRITOS DE PESSOAS FALECIDAS – Há uma terceira “categoria”, diferente tanto dos anjos bons quanto dos anjos maus: seriam as almas de pessoas já falecidas e que, segundo relatos diversos, poderiam em determinadas circunstâncias manifestar-se a pessoas vivas neste mundo.

A doutrina da Igreja é bem clara ao afirmar, quando alguém morre, imediatamente acontece o seu julgamento pessoal, no qual há três possíveis sentenças: céu, inferno ou purgatório. O purgatório não é um destino definitivo, mas um período de purificação que a alma passará antes de entrar no céu, que é o seu destino eterno. O Catecismo, a partir do número 1022, diz: “Cada homem recebe em sua alma imortal a retribuição eterna a partir do momento da morte, num Juízo Particular que coloca sua vida em relação à vida de Cristo, seja através de uma purificação, seja para entrar de imediato na felicidade do céu, seja para condenar-se de imediato para sempre”.

Entretanto, incontáveis relatos ao longo dos séculos dão conta de aparições de santos e de almas do purgatório, que visitariam pessoas na Terra. Até santos como Margarida Maria Alacoque e Gertrudes relataram ter visto almas que se apresentavam a elas como vindas do purgatório, necessitadas de orações; após as santas oferecerem missas e rezarem por essas almas, elas pararam de lhes aparecer.

A Igreja Católica não tem nada escrito em definitivo e de modo oficial sobre aparições de almas de pessoas falecidas, dado que, embora não sejam usuais, não há impedimento para que tais aparições sejam permitidas por Deus em determinadas circunstâncias. De fato, exorcistas renomados como os padres Gabriele Amorth e José Antonio Fortea já afirmaram a necessidade de que a teologia prossiga os estudos a esse respeito.

Para as pessoas que “sentem” esse tipo de presença, a recomendação é conversarem com o pároco e pedirem a sua orientação. O fenômeno pode muitas vezes ser explicado pela ciência. Teologicamente, porém, não se pode excluir a possibilidade de alguma ação do demônio para iludir a pessoa e induzi-la à busca de meios inapropriados de esclarecimento, como a psicografia e as seitas ocultistas. Santo Tomás de Aquino já alertava para essa possibilidade em sua Suma Teológica.



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