E como ele se deixou, afinal, fascinar pelas Sagradas EscriturasSanto Agostinho é um dos santos mais profundos e admirados de todos os tempos – inclusive por não católicos. Durante muitos anos, porém, ele sentiu quase rejeição pela Bíblia, cujo estilo literário lhe era bastante desagradável.
Ele mesmo conta nas suas célebres Confissões:
“Meu orgulho inflado evitava seu estilo e a agudeza de minha inteligência não conseguia penetrar em seu significado interior”.
Muito culto, Agostinho preferia ler poetas e filósofos gregos a encarar a insípida linguagem das Escrituras. Seu coração, porém, começou a mudar quando Santo Ambrósio começou a fazê-lo ver a beleza da história da salvação:
“Com prazer ouvi Ambrósio em seus sermões ao povo. Ele muitas vezes recomendava com mais diligência esse texto como regra: ‘a letra mata, mas o Espírito vivifica’”.
Embora ainda não estivesse convencido de que a Bíblia era verdadeira, a beleza das Escrituras se revelava a ele pouco a pouco. Agostinho encontrou especial reconforto nas Cartas de São Paulo e ainda maior fascínio no Evangelho de São João, descobrindo uma conexão única entre os escritos desse apóstolo e a filosofia.
Mas foi uma experiência espiritual o que selou o seu amor pelas Escrituras e o colocou no caminho da conversão:
“Eu estava chorando na mais amarga contrição do coração quando ouvi a voz de um menino ou menina, não sei, vindo de uma casa vizinha, cantando e repetindo: ‘Pegue e leia’. Imediatamente meu semblante mudou e comecei a pensar seriamente se havia alguma brincadeira em que as crianças cantassem tais palavras; nem me lembro de tê-las ouvido nunca. Então, reprimindo a torrente de minhas lágrimas, levantei-me, interpretando-o como um comando do céu para que eu abrisse o livro e lesse o primeiro capítulo que abrisse… Assim, rapidamente retornei ao lugar onde Alípio estava sentado, porque ali tinha deixado o volume dos apóstolos quando me levantei. Agarrei-o, abri e, em silêncio, li o parágrafo em que meus olhos caíram pela primeira vez: ‘Comportemo-nos honestamente, como em pleno dia: nada de orgias, nada de bebedeira; nada de desonestidades nem dissoluções; nada de contendas, nada de ciúmes. Ao contrário, revesti-vos do Senhor Jesus Cristo e não façais caso da carne nem lhe satisfaçais os apetites’ (Romanos 13,13-14)… Quando a frase terminou – por uma luz, assim digamos, de segurança infundida em meu coração – toda a tristeza da dúvida desapareceu”.
Nem todos terão a experiência espiritual que Santo Agostinho viveu, mas todos podem passar a gostar das Escrituras quando aprenderem a lê-la. A história da Bíblia pode parecer confusa para um leitor iniciante, mas, quando a totalidade da história da salvação é explicada, a Bíblia ganha vida.
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A partir de texto de Philip Kosloski
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