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Alguns pensam que a fé verdadeira nunca é assaltada pela dúvida…

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Aleteia Brasil - Dom Henrique - publicado em 06/01/20

Mas é, porque “todo crente é peregrino diante Daquele que, antes de ser Palavra, é Silêncio”A respeito dos permanentes desafios que a realidade impõe à nossa razão e à nossa fé, que são as duas asas com as quais o espírito humano se eleva à contemplação da Verdade (cf. encíclica Fides et Ratio, de São João Paulo II), o bispo brasileiro da diocese de Palmares, PE, dom Henrique Soares da Costa, nos propõe os seguintes pensamentos sobre “a aventura de crer”. O texto de dom Henrique foi publicado por ele em 2015, mas sua validade é perene.

A aventura de crer

Pensam alguns que a fé verdadeira nunca é assaltada pela dúvida, por períodos de profunda escuridão, de secura dos sentimentos e noite profunda do entendimento, que nos impede de sentir, de compreender, de articular nossa afirmação mais fundamental da existência: “Eu creio!”

Todo crente é peregrino diante Daquele que, antes de ser Palavra, é Silêncio.
Deus é Mistério infinito,
Deus é Noite escura que nos deixa cegos com Sua luminosidade,
Deus é o Santo, o Separado, o Diverso de tudo o mais,
Radicalmente incomparável!
Deus é Aquele que Se revela escondendo-Se
E Se esconde revelando-Se…
Deus… Como percebê-Lo, esquadrinhá-Lo, ter a pretensas soberba de compreendê-Lo,
A Ele, que tem mundo inteiro escondido na palma da Sua mão?
Eis: estamos Nele, tudo está Nele: na palma da Sua mão!

Assim, caminhar com o Senhor exige radical atitude de fé humilde e peregrina!
Uma fé que não atravesse o deserto das perguntas muitas vezes sem resposta,
Uma profissão de fé que não experimente, por vezes, as pesadas noites do não-sentir, do não-saber, do não mais ter perspectiva, é uma fé que não foi suficientemente provada… Não conheceu o verdadeiro e tremendo cadinho que a faz amadurecer entre lágrimas, cansaços, lutas e procuras…

Crer não é compreender tudo!

Crer exige a tremenda e sempre desafiadora pobreza de colocar-se diante de um Deus que é Mistério, um Deus que não nos presta contas de Seus atos e Seus silêncios, porque já nos disse tudo e tudo de Si nos explicou na Cruz e na Ressurreição do Seu Filho.

E, no entanto, crer é perguntar pelo Senhor,
É sempre, de novo, repor a pergunta sobre Ele!
Crer é procurá-Lo,
Por Ele ansiar,
Por Ele esperar,
É antevê-Lo em tudo,
É divisar, de modo misterioso, Seus passos benditos,
De modo que o coração teimoso e cansado advinha:
“Ele esteve aqui! Ele passou por aqui!” – E tudo, de repente, torna-se bendito,
Só pela presença Dele, pela passagem Dele, pelos rastros Dele!
Crer é teimar em viver assim: nômade, andarilho, peregrino,
Até compreender que procurar é já encontrá-Lo
E encontrá-Lo é pôr-se sempre, de novo, a procurá-Lo!

A fé é uma adesão ao Mistério,
É um constante e sofrido pôr-se em marcha, como Abraão,
Pôr-se em saída, como Moisés…

Vamos, peregrino, como eu!
Vamos de novo,
Vamos, que é Páscoa, é Passagem
– a vida neste mundo é tua embarcação, não tua morada!
Vamos como na Noite da Vigília:
O Cristo feito Círio à frente, luminoso, no meio da noite do mundo e da fé;
E nós, atrás,
Sua pobre Igreja,
Por vezes cansada,
Por vezes confusa,
Sempre por Ele sustentada na potência do Seu soberano Espírito!

Vamos! Vamos!
Digamos ainda, de novo, teimosos:
“Senhor, eu creio! Sustenta minha pobre fé, até o fim,
Até a plena Visão! Amém!”


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