Silêncio, renúncia, essencialidade e solitude (que não é o mesmo que solidão)Autores de espiritualidade em todas as épocas da história do cristianismo abordaram o simbolismo espiritual do deserto, tanto para recordar que a dimensão material está sempre sujeita à escassez quanto para recordar, também, que mesmo a abundância material pode ser desértica espiritualmente.
Em artigo publicado em março deste ano pelo site da agência católica portuguesa Ecclesia, o professor universitário Miguel Oliveira Panão também apresentou suas reflexões sobre este clássico simbolismo:
4 características simbólicas do deserto
1 – Silêncio
Não há no deserto os ruídos do mundo, comenta o professor: “apenas o som do vento e do nosso respirar”. O ambiente externo de silêncio evoca também o silêncio interno, capaz de nos esvaziar dos tantos afãs do dia-a-dia e, portanto, de nos ajudar a acolher melhor a Palavra, o Verbo – que, aliás, tem rosto e tem nome.
2 – Renúncia
Entre os muitos apegos modernos não há somente os materiais, mas também os mentais: apegos a gratificações instantâneas que servem de validação para a própria existência e sem as quais os momentos de tédio se tornam um verdadeiro tormento. Renunciar é desapegar-se das validações dos outros e um convite a encontrar essa validação numa saudável ecologia do coração, como diria o Papa Francisco. A ecologia do coração procura a boa prática das palavras bondosas e edificantes: palavras de gratidão, por exemplo.
3 – Essencialidade
O essencial se conecta com o próprio desenvolvimento da capacidade de renúncia, pois, ao renunciar ao supérfluo, compreendemos mais claramente o que é de fato é essencial em nossa vida. Quais são os valores que orientam as nossas escolhas?
4 – Solitude
Não, não é o mesmo que solidão. O teólogo Paul Tillich dizia que a linguagem criou a palavra solidão para expressar a dor de estarmos sós, enquanto a palavra solitude foi criada para expressar a glória de estarmos a sós. Parecem sinônimos, mas não são: a solitude é, de certo modo, um antídoto para a solidão, pois quem sabe se encontrar com os seus pensamentos também saberá encontrar-se melhor com os pensamentos dos outros.
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