Vestia-se de pele de camelo, comia gafanhotos e bradava verdades incômodas: a descrição do Precursor de Jesus chega a causar espanto. Mas por quê?A Igreja celebra em 24 de junho um dos raros aniversários de nascimento que se transformaram em festas litúrgicas. Mais precisamente, são apenas três casos: o Nascimento de Jesus (25 de dezembro), o de Nossa Senhora (8 de setembro) e o de São João Batista.
Via de regra, as festas de todos os demais santos têm como referência a data da sua partida deste mundo para a eternidade ou outra data relevante na sua trajetória de santificação, mas não o nascimento. A exceção para o caso de São João Batista já é um indicativo do quanto é importante a vinda deste profeta ao mundo.
O Precursor de Jesus Cristo é uma figura cuja descrição, nos Evangelhos, chega a causar espanto. Mesmo para a sociedade daquele tempo, acostumada a pregadores e grupos religiosos peculiares, João Batista já era, no mínimo, um homem “excêntrico”, para não dizer “antipático”. Estas considerações foram destacadas num texto de Otto Pereira publicado ontem no portal católico Gaudium Press.
O autor nos recorda que São João Batista se vestia com pele de camelo: uma roupa incômoda, nada usual e que possivelmente despertava repulsa, mas que o tornava reconhecível por todos. O Batista, afinal, não se disfarçava nem se escondia. Muito pelo contrário.
São João, além do mais, comia pouco e de modo nada convidativo: ele se alimentava, por exemplo, de gafanhotos. Não bebia vinho nem consumia qualquer outra bebida alcoólica: rejeitava os prazeres desenfreados que caracterizavam a corte corrupta do rei Herodes e da sua família, por cujas mãos, aliás, ele seria martirizado. E o seria justamente porque falava as verdades que ninguém queria ouvir. Até mesmo quem o procurava era recebido por palavras retumbantes como “Raça de víboras! Quem vos ensinou a fugir da ira iminente?” (Lc 3,7).
Esta era, afinal de contas, a sua missão: “dar testemunho da Luz“, como explicita o prólogo do Evangelho de São João. Ele dizia o que precisava ser dito com clareza, sem panos quentes nem ambiguidades. Sua vocação era preparar os caminhos do Senhor.
Com todas essas características, São João Batista podia facilmente ser detestado – e era. Quem não queria mudar de vida o odiava porque ele acertava em cheio as suas consciências domesticadas ou francamente apodrecidas. Os fariseus só não o mataram porque o povo o respeitava como profeta. O que os mestres da lei não puderam fazer, porém, foi feito pelo rei Herodes, que assentiu aos caprichos da mulher com quem mantinha uma relação adúltera: para satisfazê-la, ele autorizou a decapitação do Precursor de Jesus Cristo.
O “antipático” Batista, nesta pandemia que impôs aos brasileiros um junho de 2020 excepcionalmente caseiro, nos recorda, em meio à drástica redução de fogueiras, rojões e bandeirinhas, que nem tudo é festa na vida cristã: preparar-se para receber Jesus Cristo exige também momentos profundos de exame de consciência e mudança de vida.
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