Eles salvaram a cidade de Assis e cerca de 300 refugiados da tragédia da guerra Graziella Viterbi lembra-se de quando aprendeu a fazer o sinal da cruz. Ela era apenas uma jovem garota que morava temporariamente em Assis, cidade natal de São Francisco. Mas ela não era católica nem cristã.
Foi no meio da Segunda Guerra Mundial, e as tropas nazistas invadiram a Itália em 1943. Ele declararam Assis uma “cidade hospitalar”, e a família de Viterbi achou que lá seria mais seguro para eles, já que eram judeus.
Entre 200 e 300 judeus fugiram para Assis durante a guerra e foram salvos porque os líderes locais da Igreja criaram uma organização secreta que “escondia refugiados em mosteiros e conventos ou criava identidades falsas para eles”, informa um artigo de 1998 do The New York Times:
“Com a ajuda de um padre local, o Rev. Aldo Brunacci, a família de Viterbi se mudou para um apartamento. Posando como católicos deslocados do sul da Itália, eles receberam documentos de identificação falsos e novos nomes. Para Viterbi e sua irmã, Miriam, que tinha 10 anos, foi uma vida tensa. Elas estudaram a geografia da vila de onde supostamente tinham vindo e às vezes iam à igreja, embora a princípio não tivessem ideia do que fazer [lá]. ‘Precisávamos que as pessoas nos ensinassem a fazer o sinal da cruz’, disse ela.
Tais precauções eram necessárias porque aqueles que fossem pegos escondendo judeus podiam ser mortos. Um dia, os fascistas locais, que suspeitavam que os líderes da igreja abrigavam judeus, invadiram a casa do padre Brunacci para prendê-lo. O pai e a mãe de Viterbi estavam o visitando na época, mas o padre agiu rapidamente, empurrando-os para trás de uma porta aberta, onde ficaram protegidos enquanto ele era levado.
O padre Brunacci ficou preso por um tempo e depois libertado sob custódia do Vaticano.”
A dramática história do papel de Assis durante a guerra está detalhada na exposição intitulada “Museu Memorial, Assis 1943-1944” na Galeria Municipal de Imagens do Palácio Vallemani, em Assis. A exposição reúne documentos, fotos, reconhecimentos, ensaios e objetos não publicados sobre esse período e sobre as pessoas que resgataram judeus.
Entre esses socorristas estavam Dom Giuseppe Placido Nicolini e sua secretária além do pe. Aldo Brunacci, que coordenou uma rede de esconderijos para famílias judias nos conventos, mosteiros e casas particulares da cidade.
“Praticamente todo o clero italiano estava trabalhando em linhas semelhantes às nossas”, disse o pe. Brunacci.
Enquanto isso, o coronel alemão Valentin Müller foi nomeado chefe de operações médicas em Assis. Nazista, ele era, no entanto, um católico devoto que trabalhava para salvar Assis da destruição.
A história é contada em uma entrevista de 2012 concedida pelo estudioso italiano Francesco Santucci ao correspondente do National Catholic Register, Victor Gaetan.
“Médico que preferiria a identidade religiosa à nacional em algumas decisões estratégicas importantes, Müller fora encarregado das operações médicas alemãs em Assis; em 1944, ele foi designado para servir como seu comandante alemão. Antes, tinha frequentado um seminário menor dos 13 aos 20 anos antes de ingressar na faculdade de medicina. Sua missão militar antes de Assis foi em Lourdes, França, onde atuou como diretor médico.
Enquanto estava em Assis, Müller assistia diariamente à missa e à comunhão no túmulo de São Francisco.
Segundo Santucci e o testemunho de Don Aldo, foi Müller quem iniciou uma campanha para designar Assis como uma “cidade hospitalar”. Isso significava que a área ganhava imunidade com os combates e não podia ser bombardeada.”
Müller fundou seis hospitais em Assis, vários em edifícios religiosos, escreveu Gaetan.
Em maio de 1944, as tropas americanas estavam empurrando os alemães para o norte, e havia o perigo de as tropas nazistas poderem destruir prédios em Assis antes de desistir do território. Müller enviou funcionários do hospital para vigiar os portões de Assis e impedir que as tropas entrassem na cidade, “montando uma barricada 24 horas para preservar a identidade desmilitarizada de Assis”, dizia o artigo. Müller ficou até 16 de junho, um dia antes da chegada dos Aliados à cidade da Úmbria.
Santucci testemunhou: “O povo de Assis sentiu que estava protegido por Deus, São Francisco e Coronel Müller”.
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