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Qual é a autoridade das profecias de Nostradamus?

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Reportagem local - publicado em 16/07/20
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Elas são compatíveis com a fé católica?O francês Miguel Nostradamus (Saint-Rémy-de-Provence, 1503 – Salon-de-Provence, 1566) cursou estudos médicos, farmacêuticos, matemáticos e astrológicos, conforme tradições familiares. Seus ancestrais eram de origem judaica, mas foram forçados a se converter ao cristianismo por decreto do rei Luís XI, adotando então o sobrenome cristão Notre-Dame (Nossa Senhora, em francês), que, por sua vez, originou a versão latinizada Nostradamus.

Depois de terminar os estudos na Universidade de Montpellier, Miguel passou a praticar uma mistura de medicina com astrologia, conquistando a fama de hábil curandeiro. Não tardou para que ele começasse a redigir certas profecias que dariam origem às suas “Centúrias”, obra editada em 1555.

Fama na corte francesa

A França tinha então uma rainha muito culta, mas também supersticiosa: Catarina de Médicis, que, dada a fama do profeta, o convocou à corte para consultá-lo sobre eventos futuros. Ele acertou algumas adivinhações, mas errou outras, como a profecia de que o filho de Catarina, Carlos IX, teria grandeza igual à do Imperador Carlos Magno. Ainda assim, Nostradamus foi conselheiro e médico da realeza da França, que o tratava como o mais sábio dos astrólogos e o cercava de honrarias e privilégios.

O adivinho morreu em 2 de julho de 1566, enfraquecido pela doença. Entre a população, porém, corriam rumores de que ele permanecia assentado sobre o seu túmulo, iluminado por uma lâmpada noturna, cercado por livros e dando andamento à redação de suas “Centúrias”. Muitas lendas se acumularam em torno a Nostradamus, entre as quais a de que a rainha Catarina tinha sido estéril durante onze anos até que o adivinho a curasse com a peculiar receita de urina de carneiro misturada com sangue de lebre, pata esquerda de doninha temperada com vinagre forte, chifre de veado pulverizado e misturado com esterco de vaca e leite de jumenta. Graças a tal receita (espantosa, diga-se de passagem), a rainha teria tido dez filhos. A história registra, no entanto, que Catarina teve o primeiro filho, o futuro rei Francisco II, antes mesmo da chegada de Nostradamus a Salon. Além disso, é pouco plausível que ele viesse a divulgar de modo aberto uma receita de tal natureza caso ela de fato “funcionasse” como cura da esterilidade.

As profecias

A respeito das suas populares profecias, que cobririam o vasto período estendido até o ano de 3797 depois de Cristo, elas lhe teriam sido transmitidas durante rituais mágicos pela voz de um certo Branco, filho de Apolo, que lhe apareceria em meio ao fogo. Tal cerimônia só ocorria depois que Nostradamus consultava os astros.

Relação com a fé católica

Apesar das óbvias incompatibilidades entre a fé cristã e a prática da adivinhação, parece que Nostradamus não via os próprios erros doutrinários e enganava-se “de boa fé”. Ele chegou a escrever na sua oitava “Centúria”: “Não pretendo, na presente epístola, escrever coisa alguma que contrarie a verdadeira fé católica“. Ele também declarou condenar a magia, “mais do que execrável, reprovada pelas Escrituras Sagradas e pelos divinos cânones“. Seu biógrafo Chavigny registrou que Nostradamus “era muito fiel às cerimônias da Igreja Romana e seguia a fé e a religião católica, fora da qual afirmava não haver salvação. Repreendia severamente os que, tendo-se afastado do grêmio da Igreja, se deixavam enredar por doutrinas estranhas e condenáveis, assegurando que seu fim lhes seria mau e pernicioso. Não me quero esquecer de dizer que praticava de bom ânimo jejuns, orações, esmolas e a paciência“.

Apesar de tais registros, não é coerente com a fé católica dar crédito a supostas profecias originadas de ritos mágicos e consultas astrológicas. Além disso, o conteúdo das profecias de Nostradamus, envolto em muitas metáforas, é obscuro, complexo e abstrato o suficiente para encaixar-se nas mais arbitrárias interpretações.

Questionamentos à credibilidade das profecias

Nos casos em que Nostradamus parece ter predito o futuro, alguns críticos observam que tais acertos poderiam ser entendidos pelo grande conhecimento que ele tinha da história antiga: sabendo o que ocorrera com os impérios do passado, não lhe seria difícil aplicar conclusões pertinentes sobre a probabilidade de se repetirem casos muito semelhantes em outras épocas. Em paralelo, muitas das supostas profecias atribuídas a ele não passam de interpretações feitas por terceiros a partir das complicadas metáforas que ele escreveu.

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A partir de comentário de dom Estêvão Bettencourt (OSB)



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