A migração leva uma antiga comunidade cristã oriental a uma igreja históricaRespondendo ao crescimento de uma comunidade de imigrantes em Roma e às necessidades pastorais dos católicos de uma tradição oriental, a Diocese de Roma concedeu a Basílica de Santa Anastasia, no Monte Palatino, à Igreja Siro-Malabar.
Existem cerca de 7.000 católicos de rito Siro-Malabar em Roma e nos arredores. Originalmente do Estado de Kerala, na Índia, eles pertencem a uma das 23 Igrejas Católicas Orientais sui iuris, autônomas, em comunhão com a Igreja Católica Romana.
Segundo a tradição, essa Igreja tem suas origens na pregação de São Tomé Apóstolo na Índia, no século I.
Como explica o padre jesuíta Steven Hawkes-Teeples no livro Eastern Christians and Their Churches, não há documentação para provar isso, embora houvesse comércio entre o Mediterrâneo e o sul da Índia, mesmo no período romano.
“Com o tempo, esta Igreja estabeleceu vínculos com a Igreja Síria-Caldeia e assumiu sua própria tradição no estado de Kerala, no sul da Índia, que ainda é sua terra natal”, escreve o padre Hawkes-Teeples.
A Igreja Síria-Caldeia, que o jesuíta menciona, tem suas raízes na Mesopotâmia do primeiro século. Usava a língua siríaca em sua liturgia – daí o “siro” em Siro-Malabar.
A Igreja Síria-Caldeia “teve grande expansão no Irã, Afeganistão, Paquistão, Índia, Tibete e China até o século XIII”, explica o jesuíta.
Os primeiros cristãos na Índia também eram chamados Nazranis, ou seja, aqueles que seguem o caminho de Jesus de Nazaré, afirma o site da Igreja Siro-Malabar.
Quando os portugueses chegaram à Índia no século XVI, os bispos de rito latino assumiram a administração da igreja local, e as práticas ocidentais foram impostas aos cristãos. Alguns resistiram a essa colonização litúrgica e acabaram se afiliando às igrejas ortodoxas.
Em dezembro de 1992, o Papa João Paulo II elevou a Igreja Siro-Malabar ao status de Igreja Arquiepiscopal sui iuris.
Em 2004, a Santa Sé concedeu plenos poderes administrativos à Igreja Siro-Malabar, incluindo o poder de eleger bispos.
Em maio de 2011, o cardeal George Alencherry foi eleito arcebispo-maior, o primeiro chefe da Igreja Siro-Malabar a ser eleito pelo seu próprio Sínodo.
Por causa da emigração, estruturas eclesiásticas foram estabelecidas no exterior, inclusive em Chicago, Melbourne, Grã-Bretanha e Canadá. No total, são mais de 5 milhões de fiéis siro-malabares na Índia e em todo o mundo.
O último quarto do século 20 registrou um fluxo contínuo de fiéis siro-malabares da Índia para a América, Europa e Austrália.
Um quarto do número total de fiéis siro-malabares, em geral, e um terço da geração mais jovem são migrante.
Em territórios onde os fiéis orientais não possuem sua própria hierarquia, a Santa Sé envia delegados. Quando esses clérigos são nomeados pelo Papa, são chamados de visitantes apostólicos.
Um visitante ou delegado exerce sua função de acordo com o procedimento estabelecido em seu decreto de nomeação. Como regra, ele verifica o estado e as necessidades dos fiéis, incentivando-os, encontrando-se com os bispos locais e fazendo um relatório com propostas à Congregação para as Igrejas Orientais.
O visitador apostólico dos fiéis siro-malabares na Europa é o bispo Stephen Chirappanath.
Durante sua visita ad limina de 2019 ao Vaticano, os bispos siro-malabares pediram ao Papa Francisco que providenciasse uma igreja para a crescente comunidade em Roma.
O cardeal Angelo de Donatis, vigário geral da diocese de Roma, emitiu um decreto em 8 de julho que designou a igreja de Santa Anastasia para a Igreja Siro-Malabar.
O Papa Francisco demonstrou “interesse especial” em designar rapidamente uma igreja para a comunidade.
Agora, o cardeal Alencherry nomeará um padre como capelão da basílica.
“É uma grande alegria que a comunidade de Kerala tenha uma igreja designada para nós em Roma”, disse à UCAN o bispo Alex Vadakumthala, de Kannur. “Agora nosso povo pode se reunir em sua igreja e oferecer orações em sua língua materna – o malaiala”.
A basílica de Santa Anastasia é uma das igrejas mais antigas de Roma e uma das mais antigas basílicas menores do mundo.
Foi construída no século IV durante o reinado do imperador Constantino. Até o final do século VII, vários papas celebraram suas missas de Natal na basílica. Dizem que São Jerônimo pregou ali.
Leia também:
A Virgem dourada que protege Roma
Leia também:
A história do crucifixo milagroso que salvou Roma da peste