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Papa: se não nos preocuparmos uns com os outros, não podemos curar o mundo

PAPIEŻ FRANCISZEK
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Reportagem local - publicado em 12/08/20
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“Quando há egoísmo, o nosso olhar não se dirige para os outros, para a comunidade, mas volta-se para nós mesmos e isto torna-nos irracionais, maus, egoístas, destruindo a harmonia”O Papa Francisco afirmou hoje que a pandemia pôs em evidência quão vulneráveis e interligados estamos todos nós: “se não nos preocuparmos uns com os outros, a começar pelos últimos, por aqueles que são mais atingidos, incluindo a criação, não podemos curar o mundo”.

Em sua catequese semanal, ministrada da Biblioteca do Palácio Apostólico, o Papa falou sobre o olhar correto que temos de ter para conseguir superar a crise do coronavírus.

O Papa, primeiramente, louvou “o empenho de tantas pessoas que nestes meses estão a demonstrar amor humano e cristão pelo próximo, dedicando-se aos doentes até arriscando a própria saúde. São heróis!”

Cultura do descarte

No entanto – afirmou Francisco –, o coronavírus não é a única doença a combater, mas a pandemia trouxe à luz patologias sociais mais vastas.

“Uma delas é a visão distorcida da pessoa, um olhar que ignora a sua dignidade e a sua índole relacional. Por vezes consideramos os outros como objetos, a serem usados e descartados. Na realidade, este tipo de olhar cega e fomenta uma cultura de descarte individualista e agressiva, que transforma o ser humano num bem de consumo.”

Contudo – explicou o Santo Padre –, “à luz da fé, sabemos que Deus olha para o homem e para a mulher de outro modo. Ele criou-nos não como objetos, mas como pessoas amadas e capazes de amar; criou-nos à sua imagem e semelhança”.

“Desta forma, deu-nos uma dignidade única, convidando-nos a viver em comunhão com Ele, em comunhão com as nossas irmãs e irmãos, no respeito de toda a criação. Podemos dizer, em comunhão, em harmonia.”

O perigo da indiferença e do individualismo

O Papa Francisco advertiu em seguida sobre as duas atitudes negativas contra a harmonia: a indiferença e o individualismo.

“Como discípulos de Jesus, não queremos ser indiferentes ou individualistas. São estas as duas atitudes negativas contra a harmonia. Indiferente: olho para o outro lado. Individualista: considerar apenas o próprio interesse.”

Segundo Francisco, a harmonia criada por Deus “pede que olhemos para os outros, para as necessidades dos demais, para os problemas do próximo, estar em comunhão. Queremos reconhecer em cada pessoa a dignidade humana, qualquer que seja a sua raça, língua ou condição”.

O dignidade humana é inalienável

O Papa explicou que o Concílio Vaticano II evidencia que esta dignidade é inalienável, porque «foi criada à imagem de Deus». Ela é a base de toda a vida social e determina os seus princípios operacionais.

Na cultura moderna – explicou o Papa –, a referência mais próxima ao princípio da dignidade inalienável da pessoa é a Declaração Universal dos Direitos do Homem, que São João Paulo II definiu «uma pedra miliária, posta na longa e difícil caminhada do género humano» e como «uma das mais altas expressões da consciência humana».

“Os direitos não são apenas individuais, mas também sociais; são dos povos, das nações. Com efeito, o ser humano, na sua dignidade pessoal, é um ser social, criado à imagem do Deus Uno e Trino. Nós somos seres sociais, precisamos de viver nesta harmonia social, mas quando há egoísmo, o nosso olhar não se dirige para os outros, para a comunidade, mas volta-se para nós mesmos e isto torna-nos irracionais, maus, egoístas, destruindo a harmonia.”

Não ao desprezo e à inimizade

Francisco afirmou que esta consciência renovada pela dignidade de cada ser humano tem sérias implicações sociais, econômicas e políticas.

“Olhar para o irmão e para toda a criação como uma dádiva recebida do amor do Pai suscita um comportamento de atenção, cuidado e admiração. Assim o crente, contemplando o próximo como um irmão e não como um estranho, olha para ele com compaixão e empatia, não com desprezo ou inimizade.”

Segundo o Papa Francisco, ao trabalharmos todos para curar um vírus que atinge indistintamente todos, “a fé exorta-nos a comprometer-nos séria e ativamente a contrastar a indiferença face às violações da dignidade humana”.

“Esta cultura da indiferença que acompanha a cultura do descarte: as coisas que não me dizem respeito não me interessam. A fé exige sempre que nos deixemos curar e converter do nosso individualismo, tanto pessoal como coletivo: por exemplo, um individualismo de partido.”

O Papa encerrou sua catequese com o seguinte pedido: “Que o Senhor nos ‘restitua a vista’ para redescobrir o que significa sermos membros da família humana. E que este olhar se traduza em ações concretas de compaixão e respeito por cada pessoa e de cuidado e tutela pela nossa casa comum.”


POPE PALM SUNDAY VIRUS
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