Sinais do passado católico da catedral expõem as cicatrizes da Reforma InglesaOs visitantes da Catedral de Ely, na Inglaterra, ficarão impressionados assim que avistarem a enorme estrutura à distância, elevando-se acima da zona rural de East Anglia.
A cidade é às vezes chamada de “Ilha de Ely” porque só era acessível por barco até que os pântanos foram drenados no século XVII. É por esse motivo que a imponente igreja é chamada de “Barco do Pântano”.
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Uma vez lá dentro, sob o octógono, uma cúpula construída no século 14, que dá à Catedral de Ely sua proeminência, é uma experiência de cair o queixo, somada ao esforço de subir a estreita escadaria circular de pedra e apreciar a vista do topo.
Mas há outro aspecto de Ely que os visitantes perceberão não ser tão agradável e, em muitos aspectos, pode ser um tanto doloroso, que é a visita à Capela de Nossa Senhora.
Construída numa época em que a devoção à Santíssima Virgem Maria estava ganhando popularidade, acredita-se que a Capela de Nossa Senhora foi o que causou o colapso maciço da torre central em 1322. Especula-se que quando os trabalhadores estavam cavando a fundação para a capela eles comprometeram a fundação da torre.
Mas foi durante a reconstrução que o enorme octógono foi erguido. E ele é tão alto quanto o Panteão de Roma. Artisticamente, é deslumbrante. Foi construído com enormes vigas de carvalho de mil anos de idade. O site do National Churches Trust afirma que pode ser impossível replicar sua construção hoje, pois árvores tão grandes já não existem mais.
A história da Catedral de Ely remonta ao século 7, quando Santa Eteldreda estabeleceu um mosteiro no local. O mosteiro floresceu durante 200 anos, até ser destruído por dinamarqueses. Quando foi restaurado, em 970, tornou-se um mosteiro beneditino, uma das abadias mais ricas da Inglaterra. O Abade Simeon do século 11 começou a trabalhar na igreja que está lá hoje. Tornou-se uma catedral em 1109.
Mas o que afinal há de tão doloroso em visitar a Capela de Nossa Senhora? Para onde quer que você olhe, as esculturas ornamentadas de Maria e outros personagens da vida de Nossa Senhora estão sem cabeça, despedaçadas.
Se você presumir que o dano é meramente resultado do tempo, talvez se surpreenda com a tragédia que faz parte da história desta catedral outrora católica.
“Este prédio estava repleto de esculturas”, diz Paul Binski, professor de história da arte medieval em Cambridge, em um vídeo sobre Ely.
“Nos séculos 16 e 17, quando ocorreu a Reforma Inglesa, um processo longo e violento, o ataque deliberado aos símbolos centrais do catolicismo foi um fator muito relevante. E certamente nesta parte da Inglaterra, que foi realmente o berço da Reforma Protestante, havia um sentimento violento contra todas as coisas que dois séculos antes haviam sido extremamente amadas, respeitadas e consideradas, e o culto à Virgem Maria foi varrido daqui.”
Binski afirma que todas as estátuas foram arrancadas das partes superiores das paredes, todos os vitrais foram arrancados, todas as pequenas histórias em pedra dos milagres da Virgem foram destruídas. “Foi um esforço para apagá-la, para destruir seu poder”, explica o professor.
Mas os anjos pintados nos painéis do octógono, bem acima, não foram tocados e continuam a contemplar a Catedral de Ely, que serve como um farol de beleza para o hoje e o amanhã.
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