Agora foi no Pará; dias atrás, tinha sido em Santa Catarina, em igreja devastada por nada menos que um tornadoPor volta da 1h da madrugada de 23 para 24 de agosto, desabou o telhado da igreja matriz Nossa Senhora de Fátima, em Santa Izabel do Pará, no norte do Brasil.
No meio dos grandes estragos, chamou muitas atenções o fato improvável de que a imagem da padroeira ficou simplesmente intacta. Via Facebook, a paróquia informou:
“É com tristeza que comunicamos o desabamento de nossa Igreja Matriz Nossa Senhora de Fátima, no bairro do Triângulo (…) Louvamos e agradecemos a Deus por não haver ninguém no horário do desabamento e nem feridos. Estamos tristes, mas ao mesmo tempo com o coração fortalecido na fé”.
Imagens: Facebook Carlo Verzeletti (Reprodução)
A área da paróquia foi isolada porque há risco de desabamento de uma parede lateral.
Resistindo ao tornado
Dez dias antes, no outro lado do Brasil, dois tornados foram registrados em 14 de agosto no Estado de Santa Catarina, sul do país. Um dos municípios mais atingidos foi o de Ibicaré, onde a paróquia ficou destruída, mas as imagens de Nossa Senhora Aparecida e São José com o Menino Jesus nos braços também permaneceram surpreendentemente intactas.
A empresa GODrones, que presta serviços de filmagens e fotografia, compartilhou em rede social as impactantes fotos da igreja destruída e das imagens preservadas:
São milagres?
Para sermos objetivos, não se pode falar tecnicamente em milagre quando existem explicações científicas plausíveis para um acontecimento. É importante reconhecer que diversos fatores naturais poderiam explicar o fato de que imagens ou outras peças, mesmo frágeis, fiquem intactas em meio a destroços de desabamentos, inundações, terremotos, incêndios e várias outras calamidades, naturais ou provocadas.
O uso do termo “milagre” é bastante popular e comum diante de fenômenos que parecem sobrenaturais: na grande maioria dos casos, o uso dessa palavra é bem intencionado, mas precipitado e equivocado como termo técnico.
Milagres são fenômenos cientificamente inexplicáveis, que contradizem as regras da natureza conforme as conhecemos. Para que algum fenômeno possa ser oficialmente declarado como de caráter sobrenatural, são necessários criteriosos e detalhados estudos. A Igreja católica segue critérios científicos bastante rígidos para afirmar algum milagre. Os milagres de cura, por exemplo, chegam a demorar décadas até serem reconhecidos. Os fatos precisam ser cuidadosamente estudados por médicos, revisados por cientistas (na maioria dos casos, laicos e até mesmo ateus), expostos às críticas públicas e, só depois de feitos todos os estudos científicos, a própria Igreja faz a análise teológica mediante o trabalho das suas comissões de especialistas em teologia. Aliás, você pode conhecer um pouco mais sobre a delicada avaliação de supostos milagres por parte da Igreja clicando no seguinte artigo sobre os 7 critérios para se declararem milagrosas as curas que acontecem no santuário de Lourdes:
Leia também:
Os 7 critérios científicos de uma cura milagrosa
Mas então são sinais?
Entendendo-se por “sinal” aquilo que contém um “significado”, certamente não há erro em dizer que são sinais naturais – ou seja, estão “previstos” na ordem natural das coisas e, por mais que pareçam inusitados ao nosso olhar, significam primariamente a própria existência dessa ordem natural. E isto já é grandiosamente instigante: existe uma ordem natural em vez de mero acaso.
De fato, não é apenas o sobrenatural que pode nos impactar: a natureza mesma, incluindo a nossa capacidade natural de admirar as suas surpresas, também tem muito a nos “dizer”, dado que o fascínio das coisas da natureza, em si mesmo, já nos remete a algumas das perguntas-chave da filosofia e da ciência: qual é a causa de tudo o que acontece?
Mesmo um acontecimento tranquilamente explicável pela ordem natural das coisas pode servir como “gatilho” para reflexões importantes.
O cristão acredita que Deus nos fala através de sinais, sejam naturais, sejam sobrenaturais, e que Ele sempre deixa à liberdade de consciência de cada um a decisão final de como interpretá-los. Os próprios ateus, aliás, costumam enfatizar que as tragédias são uma “prova” de que Deus não existe, apelando para a sua “fé” na inexistência de Deus com base em sinais passíveis de interpretações pessoais (que, aliás, cientificamente falando, não são válidos como provas).
Para quem crê na inexistência de Deus, tudo é e será sempre mero acaso e falta de sentido. Para quem acredita em Deus e no sentido sobrenatural da existência, tudo é e será sempre um grande milagre, testemunhado por uma abundância de sinais repletos de sentido.