“A prefeita mandou me prender porque eu troquei a pintura do cruzeiro, que é da paróquia. É uma coisa absurda”, declarou o párocoPreso por pintar a cruz da própria paróquia: o bizarro caso de um pároco brasileiro vem gerando perplexidade há uma semana.
A polícia levou até a delegacia o pe. Luciano Gustavo Lustosa da Silva, da cidade de Conde, no Estado brasileiro da Paraíba. Aconteceu na tarde do último sábado, 3 de outubro. Mas por quê? Porque o padre mandou pintar de marrom uma cruz que existe diante da Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição.
E desde quando pintar a cruz da paróquia é motivo para conduzir o pároco à delegacia de polícia?
Pois é: esta foi a bizarra questão que despertou perplexidade e indignação entre os fiéis e até mesmo entre muitos não católicos de boa vontade, que se chocaram com o autoritarismo da medida.
O site Paraíba Online divulgou que a prefeitura da cidade tinha pintado a cruz barroca de azul. O padre, no entanto, mandou pintá-la de marrom, levando em conta que a cruz pertence à paróquia.
Ainda segundo o site, a prefeita Márcia Lucena, do Partido Socialista Brasileiro (PSB), alegou “dano ao patrimônio“, porque, de acordo com ela, “a prefeitura havia feito um gesto para recuperar o cruzeiro“. Assim, a Guarda Municipal foi acionada para levar o padre até a delegacia da cidade de Alhandra, a fim de prestar esclarecimentos.
Preso por pintar a cruz da própria paróquia
Vários portais locais publicaram um vídeo que mostra as declarações do pe. Luciano na hora da condução à delegacia. Ele declara:
“A prefeita mandou me prender porque eu troquei a pintura do cruzeiro, que é da paróquia. É uma coisa absurda. A gente fica de boca aberta diante dos desmandos, da arbitrariedade e do autoritarismo. Mas também existe um viés comunista nisso, né? A gente sabe disso. Nós sabemos que quem é comunista odeia padre, odeia igreja, odeia tudo que é religioso, persegue, não tem caridade por ninguém. Eu estou no meu direito e vou à delegacia, comparecer diante das autoridades para conversar sobre isso”.
Prefeita alega “dano ao patrimônio”
A prefeita socialista, por sua vez, também gravou um vídeo para negar que tenha mandado prender o padre. Ela afirma:
“Tudo isso será esclarecido pela Polícia Civil, já que foram até a delegacia, pela própria Guarda Municipal, porque vamos cobrar esclarecimentos do comandante, e pela arquidiocese, porque eu já fui informada de que a arquidiocese está mandando o pessoal que faz isso lá para cá para checar tudo”.
Márcia Lucena alega que a prefeitura trocou o cruzeiro, no centro do município, devido ao desgaste da cruz antiga. A pintura azul do novo cruzeiro, além disso, “remete ao barroco, que é a referência que a Igreja tem“.
O site A Voz do Conde, no entanto, publicou matéria em que afirma que a prefeita se diz vítima de um “circo político” do padre e do delegado.
Arquidiocese reivindica respeito e quer esclarecimentos
A Arquidiocese da Paraíba afirmou em nota, neste 7 de outubro, que “acompanha com indignação o episódio”:
“A Arquidiocese entende que se tratou de uma exposição desnecessária no contexto de um estado democrático de direito e respeito às garantias fundamentais do cidadão”.
A nota destaca, ademais, a “estranheza” de que agentes públicos abordem um sacerdote sob a alegação de “crime de desobediência”. A arquidiocese registra que a abordagem, além disso, ocorreu sem determinação judicial e sem flagrante delito. E arremata:
“Reivindicamos respeito às pessoas envolvidas e às instituições públicas e religiosas, que buscarão todos os meios para elucidar o caso à luz da justiça, da democracia e da verdade”.
Leia também:
Prefeitura espanhola declara guerra contra católicos defensores da cruz